Coordenador da Lava Jato compara corrupção a tentar tirar água de inundação com balde
Vinicius Boreki
Colaboração para o UOL, em Curitiba
06/05/2016 17h56
O coordenador da força-tarefa da Lava Jato, Deltan Dallagnol, afirma que a investigação chegou a um momento-chave, ao atingir um núcleo político após a prisão do ex-senador Gim Argello (PTB-DF). “Não podemos generalizar e afirmar que todos os políticos são corruptos. Existem políticos honestos, mas as condições do Brasil favorecem a corrupção. Precisamos de reformas judiciais e políticas, diminuindo o ambiente propício à corrupção”, analisou ele, durante entrevista em que detalhou a denúncia contra o ex-parlamentar e outras 19 pessoas.
"O envolvimento de pessoas de tamanha importância na nossa República em corrupção é comparado a uma inundação que atinge nossas casas e tentamos tirar a água com balde, mas não é suficiente", avaliou o procurador.
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De acordo com Dallagnol, houve aumento da pressão percebida e, mais do que isso, de ações voltadas a dificultar o trabalho da Lava Jato, como por exemplo a Medida Provisória 703/2015, que foi discutida no último dia 3 no Senado Federal, buscando alterar algumas regras. “Muitas dessas mudanças não têm sentido fora do contexto da Lava Jato”, diz Dallagnol.
Entre as modificações, encontram-se alterações da negociação dos acordos de leniência e até mesmo isenção total de multa para empresas que assinarem os acordos com o governo em meio a uma investigação, podendo participar de contratos de administração pública. A relatoria é dos senadores Paulo Teixeira (PT-SP) e Gleisi Hoffmann (PT-PR).
De acordo com Dallagnol, as críticas estão sendo feitas de forma repetida, visando criar um clima contrário à operação. Ele afirma que a força-tarefa já passou por momentos críticos, especialmente quando denunciou grandes empreiteiras.
“Agora acontece a mesma coisa em relação a políticos. Antes, ainda tínhamos pessoas que precisavam de acordos de colaboração e, agora, essas portas estão se fechando. A diferença é que empreiteiros não têm poder político para mudar as regras do jogo”, diz.
A principal maneira de responder às denúncias, conforme o responsável pela Lava Jato, é continuar com o apoio da sociedade. “Se o apoio da sociedade não existir, teremos dificuldade em manter essa investigação”, diz.