A força-tarefa da Operação Lava Jato denunciou o ex-senador Gim Argello (PTB-DF), Marcelo Bahia Odebrecht, presidente da empreiteira Odebrecht, Ricardo Pessoa, dono da UTC, e Léo Pinheiro, presidente da OAS. Outras 16 pessoas também foram denunciadas, como o publicitário Marcos Valério, condenado no mensalão, e o empresário Ronan Maria Pinto.
De acordo com as investigações, os acusados cometeram crimes de lavagem de dinheiro, corrupção ativa e passiva, organização criminosa e obstrução à investigação.
Os procuradores apresentaram as novas denúncias, nesta sexta-feira (6), em um hotel em Curitiba. "Não podemos dizer que todos os políticos são corruptos. Generalizar dificulta o trabalho dos políticos honestos. O que temos comprovado é que as condições no Brasil favorecem a corrupção", afirmou o procurador Deltan Dallagnol em entrevista após a denúncia.
Na denúncia, os procuradores ainda pedem o confisco de R$ 7,5 milhões e 200 mil euros e multa de R$ 70 milhões, correspondente ao dobro dos valores totais de propinas.
Após a denúncia, cabe ao juiz federal Sérgio Moro, responsável pelas ações penais da Lava Jato em primeira instância, aceitar ou não as denúncias. Moro aceitando, eles se tornam réus no processo.
Segundo o MPF (Ministério Público Federal), os acusados promoveram o pagamento de vantagens indevidas entre abril e dezembro de 2014, a fim de obstruir os trabalhos de CPIs, tanto na Câmara Federal quanto no Senado. As acusações são um desdobramento da 28ª fase da Lava Jato, conhecida como
Vitória de Pirro.
Além de Argello, o MPF denunciou Ronan Maria Pinto, empresário de Santo André, e outras oito pessoas envolvidas em crimes de lavagem de dinheiro de R$ 6 milhões, provenientes de um empréstimo fraudulento do Banco Schahin.
O valor representa a metade do empréstimo de R$ 12 milhões enviado a José Carlos Bumlai, que, segundo o MPF, teria repassado parte do valor ao PT, em 2004.
A lista completa dos denunciados na primeira denúncia é: Gim Argello e seu filho Jorge Afonso Argello Junior; Paulo Cesar Roxo Ramos; Valério Neves Campos; José Adelmário Pinheiro Filho (Léo Pinheiro); Roberto Zardi Ferreira; Dilson Cerqueira de Paiva Filho; Ricardo Ribeiro Pessoa; Walmir Pinheiro Santana; Marcelo Bahia Odebrecht e Claudio Melo Filho.
Na segunda denúncia, estão os nomes de Ronan Maria Pinto; Sandro Tordin; Marcos Valério Fernandes de Souza; Enivaldo Quadrado; Luiz Carlos Casante; Breno Altman; Natalino Bertin; Oswaldo Rodrigues Vieira Filho e Delubio Soares de Castro.
A reportagem procurou o advogado de Marcelo Odebrecht, mas não conseguiu contato. Procurado, o advogado que representa Gim Argello se encontrava em compromisso profissional e prometeu um posicionamento até o fim da tarde. Alberto Toron, advogado de Ricardo Pessoa, afirmou que não irá se pronunciar sobre o assunto. Roberto Telhada, defensor de Léo Pinheiro, não foi localizado.
Fases anteriores
Deflagrada em 12 de abril, a 28ª fase da Lava Jato foi realizada em três Estados e prendeu preventivamente o senador Gim Argello (PTB-DF).
De acordo com o MPF,
a construtora UTC Engenharia pagou R$ 5 milhões em propinas, enquanto a OAS, R$ 350 mil. Na delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da UTC, ele contou que Argello teria orientado até mesmo na divisão dos valores: R$ 1,7 milhão ao DEM do Distrito Federal, R$ 1 milhão ao PR do DF, R$ 1,15 milhão ao PMN do DF e R$ 1,15 milhão ao PRTB do DF.
A PF também encontrou mensagens no celular do presidente do Grupo OAS, Léo Pinheiro, relacionadas ao senador. Pinheiro aceitou fazer delação premiada após a condenação de 16 anos de prisão. Esses
pagamentos teriam sido apelidados de “dinheiro para paróquia”. O MPF acredita que mais recursos podem ter seguido pelo mesmo caminho, mas as investigações ainda não foram concluídas.
Outras empreiteiras teriam sido procuradas para firmar acordos, mas não participaram das negociatas, como a Andrade Gutierrez e a Engevix. Argello também teria cobrado a participação da Camargo Corrêa, exigindo R$ 5 milhões e cometendo o crime de concussão.
De acordo com membros da força-tarefa, não há, até o momento, a comprovação da participação de outros políticos. “Não poderíamos investigar outros parlamentares, pois trata-se de atribuição do STF”, afirma o procurador Athayde Ribeiro Costa.
Carbono 14
Na
fase Carbono 14, foram presos o ex-secretário do PT Silvio Pereira e o empresário Ronan Maria Pinto. O principal motivo da ação era encontrar os beneficiados de um empréstimo de R$ 12 milhões realizado pelo pecuarista José Carlos Bumlai, que está em prisão domiciliar.
Metade do valor foi transferido para a conta bancária do frigorífico Bertin. O responsável pela empresa repassou R$ 6 milhões para a Remar Agenciamento e Assessoria, de Oswaldo Rodrigues Vieira Filho, empresário do Rio de Janeiro.
A partir daí, foram feitas transferências diretas e indiretas para a Expresso Nova Santo André, empresa de ônibus controlada por Ronan, ou para pessoas físicas e jurídicas indicadas pelo empresário.
Somente a Expresso Nova Santo André recebeu quase R$ 3 milhões, repassando R$ 1,2 milhão para a conta de um acionista do "Diário do Grande ABC", representando a compra de ações do periódico. Um dos acionistas também recebeu transferência direta da Remar de R$ 210 mil.
À Polícia Federal, Bumlai afirmou que os recursos se destinariam ao PT. Suspeita-se que a verba tenha sido usada para comprar o silêncio de Ronan, dono de empresas de ônibus e de um jornal em Santo André (SP).
Conforme depoimentos, Ronan teria adquirido o jornal para impedir a continuidade da publicação de notícias referentes ao assassinato de Celso Daniel, ex-prefeito de Santo André.
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