Propina paga a secretário de Cabral foi chamada de "papai noel atrasado", diz Lava Jato
Hanrrikson de Andrade
Do UOL, no Rio
11/04/2017 17h50
Investigado no âmbito da Operação Fatura Exposta, desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro, o funcionário da Secretaria de Estado de Saúde Rodrigo Abdon enviou um e-mail para o então chefe, o ex-secretário Sérgio Côrtes, preso nesta terça-feira (11), em que se refere a propina de quase US$ 4 milhões como "papai noel atrasado". É o que revela o juiz da 7ª Vara Criminal Federal, Marcelo Bretas, em decisão que autoriza condução coercitiva para depoimento de Abdon na Polícia Federal.
O dinheiro foi pago a Cortês pela empresa Neurológica Incorporated em troca de supostas vantagens em licitações e contratos firmados com o Estado do Rio. A troca de mensagens contém o comprovante do depósito, que foi realizado em uma conta no Bank of America, nos Estados Unidos.
Abdon se refere ao dinheiro como "papai noel atrasado" porque o montante deveria ter sido disponibilizado antes, mas a transação acabou atrasando em razão de burocracia bancária.
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Côrtes, que foi secretário estadual de Saúde entre 2007 e 2013, na gestão do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB) — também preso após denúncias de corrupção —, é um dos principais alvos da Operação Fatura Exposta. Além dele, foram presos o empresário Miguel Iskin, proprietário do grupo Oscar Iskin, e seu sócio e operador financeiro, Gustavo Estellita.
Côrtes é suspeito de ter cometido fraudes em licitações para beneficiar a empresa de Iskin. Somente entre 2007 e 2016, as investigações apontam desvios de ao menos R$ 300 milhões.
Esquema pode estar vivo
Os procuradores da força-tarefa da Lava Jato no Rio dizem acreditar que o esquema de fraudes na saúde pública do Estado continua na gestão do governador, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Segundo o MPF e a Polícia Federal, os contratos firmados entre 2007 e 2013, na gestão de Côrtes e de Sérgio Cabral, ainda estão em vigor. Pezão assumiu o governo em 2014, após Cabral renunciar, e foi reeleito no mesmo ano.
"Os contratos estão em vigência. Existe contratação e nós estamos prosseguindo com a investigação. Acreditamos que vamos identificar possíveis agentes públicos [que estejam no quadro atual da Secretaria de Estado de Saúde], mas isso é uma continuidade da investigação", acrescentou Timóteo.