Análise: condenação de Lula reforça incertezas sobre corrida eleitoral de 2018
A condenação em primeira instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP) reforça incertezas e traz elementos de mudança para a corrida presidencial de 2018, segundo cientistas políticos ouvidos pelo UOL.
O petista só ficará impedido de se candidatar caso seja condenado em segunda instância, julgamento que ainda não tem data para acontecer. Ele vai recorrer em liberdade da decisão do juiz Sergio Moro, que o condenou a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
A última pesquisa realizada pelo Datafolha sobre a disputa eleitoral aponta o ex-presidente na liderança, com 29% a 30% das intenções de voto. Ele vem seguido por Jair Bolsonaro (PSC-RJ) e Marina Silva (Rede-AP) --os cenários do estudo são simulados, considerando que os partidos ainda não anunciaram oficialmente seus candidatos.
“As candidaturas ainda estão começando a se desenhar e é preciso esperar a decisão em segunda instância. Mas esta primeira condenação reforça as incertezas. Lula tem um percentual alto de possíveis votos, que serão redistribuídos entre outros candidatos caso não possa concorrer”, afirma o cientista político Bolívar Lamounier, autor do livro “Liberais e Antiliberais: A Luta Ideológica de Nosso Tempo”.
Opinião parecida é a de Rafael Araújo, professor de ciência política da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo). “Lula vai continuar fazendo campanha, independentemente de ser ou não candidato à presidência em 2018. Se condenado, vai transferir para outro candidato esse capital político que for acumulado até lá.”
"Quem herdaria esses votos numa eventual detenção?"
Para Marco Antonio Teixeira, cientista político da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas de São Paulo), o impacto viria dessa possível reorganização de votos --isso faria, por exemplo, com que uma parte desses eleitores votasse em Bolsonaro, considerando que seu eleitorado não é apenas de esquerda. “Quem herdaria esses votos numa eventual detenção? E, mesmo condenado, Lula é alguém que muitos candidatos gostariam de ter em seu palanque.”
“São muitas variáveis, poucas certezas. Esta primeira condenação mais tirou os holofotes de Temer [em relação à aprovação da reforma trabalhista] do que tumultuou o cenário para a corrida presidencial de 2018”, continua Teixeira.
José Álvaro Moisés, professor de ciências políticas da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP (Universidade de São Paulo), diz que a condenação em primeira instância não introduz um elemento de incerteza, mas sim de mudança. “A decisão traz uma situação nova para um quadro no qual, com enorme antecedência, o petista aparecia em primeiro lugar nas pesquisas de opinião. Isso se altera.”
Sem Lula, continua Moisés, a esquerda terá de encontrar outro candidato com capacidade de mobilização da opinião pública. “Será preciso ocupar o espaço de um líder icônico e também indicar que não se envolverá em corrupção. São coisas difíceis de serem trabalhadas. Há um deserto de líderes no Brasil capazes de dialogar com a sociedade, trazendo novas perspectivas para a política e a capacidade de mudar um cenário que deixa as pessoas envergonhadas e com raiva.”
Caso Lula possa concorrer, o professor da USP afirma que ele usará o discurso de vítima e de perseguição política. Este caminho também é apontado por Paulo Baía, sociólogo da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), segundo quem a decisão de Moro reforça a polarização entre aqueles contra e a favor de Lula.
Baía prevê, assim, um fortalecimento da militância petista: “Lula vai consolidar sua posição nas pesquisas atuais, pois haverá uma unidade de discurso passando a ideia de vitimização. Cria-se um inimigo externo [juiz Moro, perseguição] e a militância ganha mais garra. Mas isso não é um prognóstico de vitória eleitoral, pois ainda haverá muitas mudanças”. Ele também diz acreditar que haverá um acirramento no discurso daqueles declaradamente contra Lula, apesar de isso ainda não afetar o processo eleitoral.
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