Biden X Trump: Aborto, imigração e guerras são temas centrais de 1º debate

O presidente Joe Biden e seu antecessor Donald Trump fizeram nesta quinta-feira (27), na sede da CNN em Atlanta, o primeiro debate antes das eleições de novembro nos Estados Unidos.

Clima de tensão

Biden, de 81 anos, e Trump, de 78, não apertaram as mãos ao se dirigirem aos seus pódios. Não havia público ao vivo e os microfones eram desligados enquanto o outro falava - regras acordadas pelos dois lados no momento em que abrem a campanha em um país profundamente polarizado.

Veja abaixo os principais pontos discutidos pelo democrata e pelo republicano:

Economia

Biden criticou a política econômica do governo Trump: "Temos que pensar na economia que recebi do presidente Trump. Economia que estava em queda livre, muito mal gerenciada, as pessoas estavam morrendo devido à covid-19 e ele falou que as pessoas precisavam injetar químicos no braço. Vimos o desemprego aumentando e a gente teve que reconstruir tudo. E foi isso que começamos a fazer".

Ele [Trump] tinha orgulho de uma economia que beneficiava os ricos e não os pobres. Ele é o único presidente que criou maior desemprego do que emprego.
Joe Biden, candidato democrata

Trump, por sua vez, afirmou que os EUA tiveram "a melhor economia na história do país" durante a gestão dele. "Foi tudo muito bem. Todos os outros países nos copiavam. Tivemos a covid-19. E o que a gente fez? Gastamos o dinheiro necessário e depois tivemos uma 'grande depressão', semelhante a que tivemos em 1929, mas fizemos um trabalho excelente".

Durante todo esse tempo, em todo o mundo, nós não somos mais respeitados. Não respeitam mais a nossa liderança, não respeitam mais os EUA. Somos como um país de terceiro mundo. Tudo que ele fez tornou o nosso país como um de terceiro mundo. É uma vergonha.
Donald Trump, candidato republicano

Donald Trump, candidato republicano e ex-presidente dos EUA
Donald Trump, candidato republicano e ex-presidente dos EUA Imagem: REUTERS/Marco Bello

Aborto

Sobre aborto, o republicano disse que não proibirá o acesso a medicamentos para aborto se for eleito. Trump também disse concordar com a decisão da Suprema Corte do país, proferida recentemente, sobre pílula abortiva. No início deste mês, a Suprema Corte dos EUA rejeitou uma ação judicial que contestava a abordagem da Food and Drug Administration (agência federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos) para regulamentar uma pílula abortiva. A decisão permite que as pílulas sejam enviadas aos pacientes sem consulta médica presencial.

Continua após a publicidade

Eu acho que casos como estupro, incesto e perigo para a vida da mãe precisa ser respeitado [a questão da decisão de abortar]. Algumas pessoas acreditam que não, mas você precisa seguir o seu coração.
Donald Trump, candidato republicano

Biden afirmou apoiar a lei federal sobre o aborto. Para o presidente, essa é uma questão que deve ser tratada entre o médico e a mulher. O democrata apontou que a maioria dos juristas não era contra o aborto, sendo essa ideia "ridícula". O atual presidente apontou que Trump acha que os estados devem tomar essa decisão sobre o aborto, porém, há mulheres estupradas por membros da própria família e que precisam cruzar o estado para ter acesso ao procedimento.

Políticos não podem tomar decisão sobre o corpo da mulher. É ridículo isso. É um médico que tem que tomar a decisão sobre a saúde da mulher, com ela.
Joe Biden, candidato democrata

Joe Biden, presidente dos EUA e candidato democrata à reeleição
Joe Biden, presidente dos EUA e candidato democrata à reeleição Imagem: REUTERS/Marco Bello

Imigração

Biden disse que aumentou o número de agentes na proteção das fronteiras. O democrata ainda acusou o republicano de separar filhos dos pais, colocando-os em "jaulas", durante a sua gestão.

Continua após a publicidade

Trump apontou que os EUA tinham a fronteira "mais segura na história do país" quando ele era presidente. Ele destacou que Biden poderia deixar como estava, mas preferiu "abri-la para pessoas que vieram de prisões, de hospitais psiquiátricos e terroristas de todo o mundo, como uma enxurrada".

Guerra Rússia x Ucrânia

Trump avaliou que Biden teria "incentivado" a Rússia a realizar o conflito. Para o republicano, se houvesse um presidente nos EUA "real" e "respeitado" pelo governante russo, Vladimir Putin, "ele jamais teria invadido a Ucrânia". Político acrescentou que o conflito "jamais deveria ter começado" e criticou Biden por, segundo ele, ter dado mais de US$ 200 bilhões à Ucrânia.

É dinheiro demais. Acho que nunca houve nada assim antes. Toda vez que o Zelensky [presidente ucraniano] vem aqui, ele sai daqui com US$ 16 milhões. É o melhor vendedor do mundo e eu nem estou batendo nele, nem nada. Eu já teria acertado o acordo entre Putin e Zelensky.
Donald Trump, candidato republicano

Biden afirmou que Putin é um "criminoso de guerra". "Matou milhares de pessoas. E uma coisa ficou clara: ele quer restabelecer parte do império soviético", destacou.

Ele não quer só parte da Ucrânia, ele quer a Ucrânia por completo. Você acha que ele vai parar quando tomar a Ucrânia? O que vai acontecer com a Polônia e com outros países? Se ele ganhar a guerra, você vai ver o que ele vai fazer.
Joe Biden, candidato democrata

Continua após a publicidade
Joe Biden, presidente dos EUA e candidato democrata
Joe Biden, presidente dos EUA e candidato democrata Imagem: REUTERS/Brian Snyder

Conflito Israel x Hamas

Biden pontuou que o Conselho de segurança da ONU e o G7 apoiaram o plano que ele propôs para o fim do conflito. As fases propostas são: devolver os reféns, cessar-fogo e conclusão da guerra. "Estamos nos empenhando para que esses termos sejam aceitos", declarou. O democrata ressaltou que a única coisa que negou a Israel foram bombas que não "funcionam bem em áreas populosas" devido ao poder de destruição. Ele reforçou que auxiliou na união do mundo contra o Irã quando eles estavam com um míssil intercontinental.

Nós salvamos Israel. Nós somos o maior apoiador de Israel. E são coisas diferentes. O Hamas não pode continuar. (...) Nós enfraquecemos muito o Hamas. Eles têm que ser eliminados, mas temos que tomar cuidado com certas armas utilizadas em áreas populosas.
Joe Biden, candidato democrata

Donald Trump não respondeu diretamente se apoiaria a criação de um Estado Palestino. Mesmo questionado diretamente pelo moderador do debate, o republicano se esquivou sobre a possível solução para colocar fim ao conflito entre Israel e o Hamas na Faixa de Gaza.

Donald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato republicano
Donald Trump, ex-presidente dos EUA e candidato republicano Imagem: ANDREW CABALLERO-REYNOLDS / AFP

Ataque ao Capitólio em 2021

Trump negou que tenha incentivado os seguidores a invadir o Capitólio em 2021, após perder as eleições para Biden. "Eu não falei isso [para fazer o ataque] para ninguém. O que eu disse foi de forma pacífica e patriótica", disse.

Continua após a publicidade

Biden, por sua vez, disse que Trump incitou o ataque ao Capitólio. "Ele [Trump] disse que vai dar o perdão presidencial para o que eles fizeram. Eu não sei quantos casos foram apresentados em todos os tribunais e todos dizem que ele é responsável pelo o que foi feito. Ele não fez nada para impedi-las e elas têm que ser presas e ele responsabilizado", destacou.

Condenações

'Nós temos um condenado aqui no palco', disparou Biden. Em maio, Trump foi condenado por todas as 34 acusações de fraude contábil para comprar o silêncio de uma atriz pornô, que poderia prejudicá-lo nas eleições de 2016 — vencidas por ele. A condenação não tirou Trump da corrida eleitoral de novembro deste ano. "Quantos bilhões de dólares você pagou para calar e comprar o silêncio dela?", disse, se referindo a compra de Trump pelo silêncio de uma atriz pornô enquanto a esposa dele estava grávida. Trump negou que tenha feito sexo com a atriz pornô e ressaltou que irá recorrer da sentença, já que, segundo ele, o juiz e o promotor do caso seriam "democratas".

'O filho dele é um criminoso condenado', rebateu Trump. O republicano lembrou que o filho do rival foi considerado culpado neste mês por posse ilegal de arma de fogo. Foi a primeira vez que o filho de um presidente dos Estados Unidos foi condenado por um crime durante o mandato do pai.

Pessoas assistem ao debate entre Joe Biden e Donald Trump, em Los Angeles, Califórnia
Pessoas assistem ao debate entre Joe Biden e Donald Trump, em Los Angeles, Califórnia Imagem: Mário Tama/Getty Images/AFP

Troca de farpas

Biden sobre idade: Trump é 'muito menos competente'. Questionado sobre as preocupações dos eleitores em relação à sua idade, o presidente Joe Biden mencionou que o seu adversário é apenas alguns anos mais novo que ele, "mas muito menos competente". Já Trump ponderou que fez dois testes cognitivos e tirou nota máxima: "e ele não fez nenhum. Eu queria que ele fizesse um". Biden riu durante as afirmações do rival.

Continua após a publicidade

Trump foi questionado se aceitará resultados eleitorais do próximo pleito. O ex-presidente afirmou que aceitaria "se for uma eleição justa, legal e boa". Ele acrescentou que se Biden fosse um bom presidente, ele não precisaria estar na disputa.

Considerações finais

Biden falou de economia em discurso final. O democrata reforçou que o seu antecessor o deixou com um "desastre". Ele prometeu reduzir a inflação se conseguir um segundo mandato na Casa Branca.

Temos que garantir que temos um sistema tributário mais justo. (...) Continuaremos a lutar para reduzir a inflação e dar um descanso às pessoas.
Joe Biden, candidato democrata

Trump criticou Biden e exaltou suas próprias realizações como presidente. O republicano declarou que o país se tornou "um inferno" durante o governo Biden, a quem chamou de "reclamão" que "não faz nada".

Reconstruímos as Forças Armadas, obtivemos o maior corte de impostos da história.
Donald Trump, candidato republicano

Continua após a publicidade

O que dizem as pesquisas

Biden e Trump aparecem empatados na maioria das pesquisas. Os últimos levantamentos apontam para uma disputa acirrada, com os dois candidatos em empate técnico e pouco impactados pelas condenações de Hunter Biden e do próprio Trump na Justiça. O democrata tem recebido mais apoio de eleitores negros e imigrantes, enquanto o republicano é mais popular entre homens brancos e evangélicos.

Presidente e vice não são eleitos diretamente pelo voto da população. Os eleitores, na realidade, escolhem os representantes do Colégio Eleitoral de seus respectivos estados.

Um candidato precisa conquistar 270 dos 538 representantes do Colégio Eleitoral. O número de representantes (delegados) é proporcional à população e ao número de parlamentares de cada estado. Desta forma, o candidato que recebe a maioria dos votos populares pode não ser eleito, como aconteceu em 2016. Na época, Trump não conquistou a maioria dos votos absolutos, mas teve delegados.

*Com AFP

Deixe seu comentário

Só para assinantes