Análise: "Condução precisa" da base garantiu vitória de Temer
Leandro Prazeres
Do UOL, em Brasília
02/08/2017 22h59
A “condução precisa” da coalizão de partidos que dá suporte ao governo foi um dos principais fatores que levaram o presidente Michel Temer (PMDB) a obter uma vitória nesta quarta-feira (2) no plenário da Câmara dos Deputados, quando os parlamentares aprovaram a suspensão da denúncia feita contra o presidente pela PGR (Procuradoria-Geral da República). A análise é do cientista político e professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas) Carlos Pereira. Segundo ele, a “boa gerência” da base fez com que a maioria dos parlamentares mantivesse o apoio a Temer.
Nesta quarta-feira, a Câmara dos Deputados decidiu, por 263 votos a favor do governo e 227 contra, suspender o processo da denúncia contra Temer. Ele foi denunciado por corrupção passiva no esquema de pagamento de propina por executivos da J&F, grupo que controla a JBS.
O caso foi revelado pela delação de executivos do grupo como o empresário Joesley Batista. Temer nega seu envolvimento no caso.
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Para o governo, era preciso que a oposição não conseguisse os 342 votos para que a denúncia fosse encaminhada ao STF (Supremo Tribunal Federal). Com os votos da base aliada, a denúncia foi suspensa e só voltará a tramitar quando Temer perder o foro privilegiado.
Carlos Pereira explica que, apesar de muito grande, a coalizão em torno de Temer é composta por partidos razoavelmente homogêneos e que o governo foi hábil na distribuição de recursos para os seus integrantes.
“A condução precisa da base garantiu essa vitória. O governo dividiu bem o poder e os recursos. Fez isso de uma forma quase proporcional. Essa distribuição e essa coalizão são quase um espelho do que nós vemos no plenário da Câmara”, afirmou o cientista político.
Nos últimos dias, parlamentares de oposição acusaram o governo Temer de liberar recursos de emendas parlamentares em troca de votos para barrar o avanço da denúncia.
Segundo Pereira, essa distribuição de recursos entre os partidos aliados é a principal razão pela qual a maior parte dos deputados votou a favor de Temer, apesar das suspeitas contra o presidente. “Mesmo diante de evidências muito robustas do envolvimento do presidente em esquemas de corrupção, essa coalizão em torno dele não quebra”, afirmou.
Pereira destaca outro elemento que, segundo ele, ajuda a explicar o sucesso de Temer na Câmara dos Deputados. Ele analisa que o fato de a agenda de reformas promovida pelo governo ter o apoio de setores como o financeiro, o industrial e parte da imprensa faz com que os deputados continuem a dar o seu apoio ao presidente.
“Existe uma preferência muito sólida na Câmara dos Deputados em relação a essa agenda de reformas. Então, os deputados olham para o Temer e ainda veem nele alguém capaz de conduzir esse processo”, afirmou.
Carlos Pereira diz que Temer "sai fortalecido" da votação desta quarta-feira. “Ele conseguiu mostrar que, mesmo impopular e envolvido em um caso de corrupção que não é nada trivial, tem capacidade de manter sua base coesa”, afirmou o cientista político.
Pereira diz acreditar que, após essa vitória, o presidente deverá acelerar a agenda de reformas proposta por seu governo. “Acho que com essa demonstração de força, ele vai tentar, com ainda mais força, aprovar as reformas”, disse.