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Lula reclama de homenagem vetada e diz não ser o problema do país: "Se fosse, me matava"

17.ago.2017 - Governador Rui Costa, senadora Gleisi Hoffman e ex-presidente Lula participam de evento na Fonte Nova, em Salvador - MARCELO MALAQUIAS/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO
17.ago.2017 - Governador Rui Costa, senadora Gleisi Hoffman e ex-presidente Lula participam de evento na Fonte Nova, em Salvador Imagem: MARCELO MALAQUIAS/FRAMEPHOTO/FRAMEPHOTO/ESTADÃO CONTEÚDO

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Salvador

17/08/2017 21h56Atualizada em 17/08/2017 22h24

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou, nesta quinta-feira (17), o vereador de Salvador Salvador Aleluia (DEM), que entrou com ação na Justiça para sustar a entrega do título de doutor honoris causa ao ex-presidente na Universidade Federal do Recôncavo Baiano, em Cruz das Almas.

Na manhã desta quinta, o juiz Evandro Reis, da 10ª Vara Federal Civil da Bahia, suspendeu a homenagem e alegou que a solenidade tem um "desvio de finalidade revelador de ofensa à moralidade administrativa, pois outorgado às vésperas de o laureado empreender caravana pelo Nordeste."

Lula lembrou que o título fora aprovado em 2011 e atacou o parlamentar. "Eu queria apenas falar para esse vereador, que eu não conheço, que ele tem o direito de não gostar de mim. E quem é do DEM não precisa gostar de mim, porque eu não gosto deles. E não por questão pessoal, mas por divergência ideológica, concepção de política e de inclusão social. Agora o que ele não sabe é que para mim era importante, mas eu já recebi da universidade a decisão que eu era dono de título", disse, citando que vale mais "o reconhecimento".

As críticas de Lula ao vereador foram feitas durante seu primeiro ato da caravana que passará por nove estados do Nordeste nos próximos 20 dias. Lula foi o principal convidado do lançamento da terceira fase do Memorial da Democracia, do Instituto Lula, na Fonte Nova, estádio da capital baiana.

Lula afirmou ser vítima de perseguição e citou que vai à cidade e à universidade nesta sexta-feira (18) de qualquer maneira, apesar da decisão judicial.

"Talvez esse vereador não saiba que não impediu que as pessoas saibam o que eu fiz. Todos sabem o que fiz. Ele está é com medo pelo que nós vamos fazer daqui pra frente. Então, amanhã nós vamos lá. Quero então dar um beijo na testa do reitor, dos professores e professoras e um abraço nos estudantes, e dizer que a ação que interessa é o reconhecimento, porque eles me deram o título porque foi um torneiro mecânico que fez mais universidades na história desse país", afirmou.

Comparação com Tiradentes

No primeiro ato da caravana que fará no Nordeste, Lula se comparou a Tiradentes e disse que não é o problema do país: "Se fosse eu mesmo me matava".

Para ilustrar a comparação, Lula contou a luta de Inconfidência Mineira e a reivindicação de mandar menos recursos para a coroa portuguesa.

"Esse cidadão, em 1792, foi enforcado. Além disso, foi esquartejado, cortaram a carne e salgaram. Isso para que ninguém nunca mais ousasse gritar pela independência. Mas em 1822, a independência foi conquistada. Não importa se foi um acordo, um conchavo. Aí vem a proclamação da República. E eles fizeram ver que não tinham referência heroica. E quem eles vão buscar? Aqueles que eles mataram em 1792. Foi a mesma elite que foi pegar esse amaldiçoado para garantir apoio do povo à Proclamação", explicou.

Em seguida, Lula citou a si mesmo e disse não ter medo da Justiça. "Por que eu digo isso? Porque a perseguição que eles estão em mim não me põe medo. Eu estou com medo das milhões de crianças que estão ficando desnutridas. Porque o Brasil voltou ao mapa da fome, virou motivo de gozação no exterior. Queria dizer a eles que a ideia da liberdade, a ideia de democracia, de participação social é muito forte", bradou.

"Não adianta acabar com o Lula, já que acabando com o Lula não acaba com isso. O problema não é o Lula, são os milhões de brasileiros que não aceitam mais retrocesso. Se fosse eu o problema, eu mesmo me matava", emendou. 

Lula explicou a viagem pelo Nordeste como uma forma de "conversar com o povo." "Eu tenho 71 anos, com a vontade de lutar como se tivesse 30. Quero andar pelo país para mexer com a consciência desse povo", afirmou.

Fome

No evento desta noite, Lula afirmou que hoje "tem mais gente pedido esmola que quando entrei na Presidência". "São 14 milhões de desempregados. Queria dizer uma coisa: se um governante governa o país e e este país tem uma crise, e ele não tem competência e começa a vender o patrimônio desse país, deveria pedir desculpas e ir embora, porque ele não serve para esse país", disse.

O ex-presidente ainda mandou um recado aos opositores. "Vocês vão pagar com a mesma moeda o que fizeram com a democracia. Vocês trincaram a democracia, e como nós acreditamos na democracia, não vamos fazer nenhum ato violência. E esse país tem de se preparar, porque a gente vai ter que colocar um pessoa democrática para governar esse país em 2018. 

Lula ainda disse que é cedo para dar nomes, mas mais uma vez insinuou que deve se candidatar. "Vocês sabem que ainda falta muito tempo, não existe candidato. O que eles têm de saber é que uma pessoa que nasceu em Garanhuns, que ia morrer de fome antes de cinco anos de idade, não tem medo", finalizou.

Visita

Em Salvador, antes do evento na Fonte Nova, Lula andou de metrô entre as estações Pituaçu a Campo de Pólvora. Por conta da superlotação, seguranças levaram o ex-presidente até a cabine do maquinista, onde seguiu viagem. Depois do metrô, ele seguiu de van --acompanhada por centenas de pessoas-- e fez uma caminhada até o estádio da Fonte Nova, onde foi realizado o ato.

No metrô, Lula foi recepcionado por centenas de militantes e simpatizantes, que lotaram os vagões para fazer o mesmo trajeto do ex-presidente, em pleno horário de rush. Lula chegou perto das 18h, quase duas horas de atraso em relação à marcação inicial, de 16h.

Ainda na Bahia, Lula vai nesta sexta-feira às cidades de Cruz das Almas e São Francisco do Conde. No sábado, despede-se do Estado em Feira de Santana e segue para Sergipe, onde visitará cinco cidades.

Lula é acompanhado por diversos aliados políticos, entre eles a senadora e presidente do PT, Gleisi Hoffman, e o ex-ministro da Casa Civil no governo Dilma Rousseff, o baiano Jaques Wagner. Os governadores petistas da Bahia e Piauí, Rui Costa e Wellington Dias, respectivamente, também participaram do ato desta quinta-feira.