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Sem poder falar em campanha, Lula e aliados pregam caravana como ato político

17.ago.2017 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enxuga lágrimas de garota durante evento na Fonte Nova, em Salvador - Beto Macario/UOL
17.ago.2017 - Ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva enxuga lágrimas de garota durante evento na Fonte Nova, em Salvador Imagem: Beto Macario/UOL

Carlos Madeiro

Colaboração para o UOL, em Salvador

18/08/2017 04h00

O início da caravana do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Nordeste, nessa quinta-feira (17), em Salvador, teve todos os ingredientes de um ato de campanha: de aglomeração de pessoas com bandeiras, hinos eleitorais a discursos acalorados. Mas para petistas e para o próprio Lula, ainda é cedo, e os atos que vão percorrer os nove Estados e 25 cidades nordestinas são "políticos" e não visam eleições.

Em discurso a cerca de 2.000 militantes e simpatizantes no estádio da Fonte Nova, o ex-presidente disse que "vocês sabem que ainda falta muito tempo", e que ainda "não existe candidato." Mas ao mesmo tempo usou várias indiretas para falar de sua disposição. "O que eles têm de saber é que uma pessoa que nasceu em Garanhuns, que ia morrer de fome antes de cinco anos de idade, não tem medo", emendou.

Aliado ao fato de a candidatura de Lula em 2018 estar atrelada ao julgamento de seu recurso na segunda instância contra a condenação proferida pelo juiz Sergio Moro, a 9 anos e meio de prisão, o cuidado do ex-presidente e de sua equipe em proibir o termo campanha evita problemas maiores com o TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

A Corte veda qualquer campanha política com viés eleitoral, ou seja, pedido direto de voto, fora do prazo legal, iniciado entre julho e agosto do ano da eleição, quando todos os partidos já tiverem apresentado seus candidatos. Fazer propaganda antecipada pode render multa de R$ 5 mil a R$ 25 mil ao pré-candidato.

"Não quero falar de eleição, que não posso", admitiu Lula durante trecho de seu discurso no evento de quinta-feira à noite na Fonte Nova. "Estou andando para aprender com o povo o que está acontecendo nesse país, que está subordinado a um golpe de um grupo de pessoas que nunca tiveram competência de ser presidente e cassaram 54 milhões de votos da companheira Dilma [Rousseff]".

17.ago.2017 - Ex-governador da Bahia e ex-ministro Jaques Wagner (PT) é tietado ao comparecer ao metrô de Salvador durante evento com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Beto Macario/UOL - Beto Macario/UOL
Ex-governador da Bahia e ex-ministro Jaques Wagner é tietado ao comparecer ao metrô de Salvador com Lula
Imagem: Beto Macario/UOL
O ex-ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, afirma que o momento não é de pensar em eleições, mas sim de ouvir as pessoas. Para ele, a caravana não é um ponto de partida de campanha eleitoral.

"Na verdade, não é começo de campanha, que não está na hora. É obvio que está na cabeça das pessoas, mas a preocupação dele é o dialogo com o povo para construir novas ideias para o futuro nesse momento que o Brasil passa", diz. "Mas claro: é inevitável que as pessoas gritem isso, mas a ideia dele é outra, e ele está começando pela região mais importante", completa.

Ex-governador baiano por oito anos, Wagner foi um dos cicerones de Lula na visita por Salvador, andou com Lula de metrô, tirou fotos e afirmou que, apesar de não ser campanha, não há "plano B" para candidatura do PT em 2018. Ele diz que o Nordeste é fundamental para a discussão de um plano político nacional. 

"Aqui sempre foi a região mais deprimida e esquecida pelos governantes, e foi no governo dele e de Dilma que recuperamos a autoestima, reduzimos a pobreza", afirma.

Fazer política, não campanha

O deputado federal Afonso Florence (PT-BA) também foi enfático ao afirmar que a visita de Lula ao Nordeste não se trata de campanha.

"De jeito nenhum! Lula é um símbolo político, um líder experimentado e aprovado. Ele não faz campanha antecipada, ele faz a presença política dele nas cidades, no interior, na zona rural. E a densidade dele independe de campanha", diz.

17.ago.2017 - Militantes e apoiadores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aguardam o início do discurso do petista na Fonte Nova, em Salvador - Beto Macario/UOL - Beto Macario/UOL
Militantes e apoiadores de Lula aguardam o início do discurso do ex-presidente na Fonte Nova, em Salvador
Imagem: Beto Macario/UOL

O deputado também frisa que a participação popular nas ruas de Salvador nesta quinta-feira mostrou a força do líder petista. 

"Tem militância, mas tem muita gente simples, trabalhadores. E o povo trabalhador é grato às políticas de Lula e Dilma. É uma retribuição. As pessoas entram em êxtase de estarem perto dele", assegura.

O senador José Pimentel (PT-CE) diz que a caravana tem como objetivo "fazer política", e que o país não está acostumado a isso. 

"Nós sempre fizemos atividades. Fazer politica não é só na época da eleição, é algo permanente. Num país como o nosso, em que os períodos democráticos foram muitos curtos --só tivemos eleições diretas entre 1946 a 64, e de 1989 para cá, o país não tem muito hábito de entender esse processo", explica.