"Janot, nesta sua escola eu fui professor", diz Joesley; ouça os principais trechos
“Janot, nesta sua escola eu fui professor”. Essa é uma das afirmações de Joesley Batista, dono do frigorífico JBS, em conversa com o executivo do grupo J&S, Ricardo Saud, gravada supostamente de forma acidental e divulgada nesta quarta-feira.
A afirmação sobre o procurador-geral Rodrigo Janot consta em um trecho de quatro horas de gravação entregue à PGR (Procuradoria Geral da República) pela defesa de Batista como parte do acordo de delação premiada que deu imunidade a ele.
A gravação, realizada no primeiro trimestre, está atraindo grande atenção porque a PGR entendeu que alguns trechos da conversa dariam a entender que Batista teria propositalmente omitido informações em sua delação. Batista diz na gravação que revelaria somente 20 e não 30 "traquinagens" de sua empresa.
A J&F, controladora da JBS, afirmou que a interpretação foi precipitada. Segundo sua assessoria de imprensa o diálogo é formado por "meras elucubrações, sem qualquer respaldo fático". A empresa disse ainda que não houve contaminação que possa comprometer a boa fé dos colaboradores.
Mas, o procurador-geral pretende agora tentar revogar a imunidade prometida ao empresário.
Na conversa com Saud, Batista expõe seu descontentamento com a Operação Carne Fraca – que apontou que grandes frigoríficos brasileiros adulteravam mercadoria. Ele dá a entender que a operação seria “idiota” e ridícula”.
Eu queria estar em frente ao [Rodrigo] Janot e dizer: Janot, para. Isso é coisa de menino. Uma operação idiota dessas... Você bota 1100 homens na rua em troca de nada, achando que vai me amedrontar. Você está louco?
“Ele (Janot) não sabe com quem ele tá lidando. Ele está achando que está lidando com um menino amarelo”.
Procuradores da PGR afirmaram entender que a gravação teria sido entregue ao órgão de forma acidental por assessores de Batista, em meio a outras gravações da delação. Já a defesa do empresário diz ter decidido revelar tudo para não prejudicar o acordo de delação. Isso teria ocorrido após a Polícia Federal ter encontrado outra gravação com informações supostamente omitidas por Batista.
Marcello Miller
Joesley e Saud também falam sobre o suposto apoio do ex-procurador da República, Marcello Miller, teria dado à celebração do acordo de delação premiada fechado com a PGR (Procuradoria Geral da República). Miller era auxiliar próximo do procurador-geral da República, Rodrigo Janot e deixou o cargo para trabalhar no escritório de advocacia que negociou a delação.
Joesley diz na gravação que ele e Saud acabariam virando “amigos desse Janot”.
Nós vai virar funcionário é desse Janot. Nós vai falar a língua deles [sic]
Na conversa, ele aconselha Saud sobre como conquistar a confiança de Miller. “Você quer conquistar o Marcelo? Já achou o jeito, é só começar a chamar esse povo [os políticos] de bandido. ‘Esses vagabundos, bandidos’, assim”, diz. E acrescenta: “Ele ia cair igual um patinho”.
Em outra parte da conversa, os dois se referem a Marcelo como “meu chefe”.
Ricardo Saud parece contar a Joesley que o então procurador Marcelo Miller estaria ajudando o executivo na confecção dos documentos da delação premiada.
"Ele tá ficando meu amigo e tal (...) ele mandou digitar tudo lá pra ele (...) pode escrever o que você quiser aí que eu conserto depois", disse Saud.
No áudio, Saud dá a entender que o único empecilho seria uma relação tumultuada entre Miller e uma mulher identificada como Fernanda [seria Fernanda Tórtima, advogada que trabalha na JBS].
“Nós vamos ajeitar a Fernandinha, vamos ajeitar o Marcelo, que você está ajeitando. E é o seguinte: nós vamos conhecer o Janot
A suposta proximidade Miller com o grupo J&F retratada na gravação pode ser usada pelo Planalto para tentar enfraquecer o procurador-geral.
Miller deixou oficialmente a carreira em abril, no mês seguinte ao diálogo ser gravado. Ele tornou-se sócio de um escritório de advocacia que discutiu os termos da leniência da J&F com o Ministério Público Federal.
Em várias ocasiões da conversa gravada, Joesley cita uma peculiaridade: Miller supostamente iria para o "banheiro" para repassar informações confidenciais da PGR para executivos do grupo. O acordo de delação só foi homologado pelo STF Supremo Tribunal Federal (STF) em maio.
Futuro de Janot
Em um momento, Saud diz que Miller iria participar de um escritório de advocacia e que, quando Janot deixasse o comando do MPF, iria se aposentar e se juntar ao escritório. A hipótese foi negada por Janot após a divulgação da gravação.
Saud também fez uma avaliação positiva sobre a possibilidade de fechar um acordo de colaboração com o MPF. "A nossa delação é a maior da história, não tem nada de Odebrecht", disse Saud a Joesley.
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