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Discretos e novatos: os 4 ministros que dividem o Planalto com Bolsonaro

Os ministros do Planalto: Augusto Heleno (GSI), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Jorge Oliveira (Secretaria-geral da Presidência) - Arte/UOL
Os ministros do Planalto: Augusto Heleno (GSI), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Onyx Lorenzoni (Casa Civil) e Jorge Oliveira (Secretaria-geral da Presidência)
Imagem: Arte/UOL

Luciana Amaral

Do UOL, em Brasília

14/09/2019 04h01

Além do presidente e do vice-presidente da República, o Palácio do Planalto abriga gabinetes de quatro ministérios: Casa Civil, Secretaria de Governo, Gabinete de Segurança Institucional e Secretaria-Geral da Presidência.

Pela proximidade física e pela natureza do trabalho, os escolhidos para essas pastas costumam ser os mais próximos do mandatário - que deve retornar ao palácio nos próximos dias, após se recuperar de uma cirurgia.

Desde que Jair Bolsonaro (PSL) assumiu a Presidência em janeiro, é possível perceber um novo perfil de ministros no Planalto, diferente na comparação com o os que circundavam o ex-presidente Michel Temer (MDB).

No lugar de políticos de longa data, Bolsonaro privilegiou pessoas de sua confiança e que o acompanharam durante a campanha eleitoral, além de mais militares — no geral, um grupo com menor histórico na política.

Da formação original, somente Onyx (esq.) e Heleno (dir.) continuam como ministros no Planalto após nove meses de governo Bolsonaro - Romério Cunha /Casa Civil - Romério Cunha /Casa Civil
Da formação original, somente Onyx Lorenzoni (esq.) e Augusto Heleno (dir.) continuam como ministros no Planalto após nove meses de governo Bolsonaro
Imagem: Romério Cunha /Casa Civil

Bolsonaro leva militares para o Planalto

A equipe inicial de Bolsonaro era formada por:

  • Onyx Lorenzoni (Casa Civil)
  • Carlos Alberto dos Santos Cruz (Secretaria de Governo)
  • Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e
  • Gustavo Bebianno (Secretaria-Geral).

Fora Onyx, deputado federal desde 2003, os outros três eram considerados outsiders do mundo político e do grande público. Bebianno atuava como advogado no Rio de Janeiro, enquanto Heleno e Santos Cruz são generais da reserva do Exército.

A equipe, hoje, tem a seguinte configuração:

  • Onyx Lorenzoni (Casa Civil)
  • Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo)
  • Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e
  • Jorge Oliveira (Secretaria-Geral).

Bebianno e Santos Cruz foram exonerados no primeiro semestre. O primeiro foi substituído pelo general Floriano Peixoto e, depois, pelo policial militar da reserva Jorge Oliveira. Este é amigo de longa data da família Bolsonaro e ex-chefe de gabinete de um dos filhos do presidente, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).

Santos Cruz foi trocado pelo general Luiz Eduardo Ramos, amigo do presidente há pelo menos 40 anos.

Atualmente, portanto, há dois generais, um policial militar da reserva e um deputado federal licenciado, tido como do baixo clero, junto a Bolsonaro no Planalto.

O ex-ministro do GSI, general Sergio Etchegoyen, era o único chefe militar de pasta no governo Michel Temer (MDB) - Wilson Dias/Agência Brasil - Wilson Dias/Agência Brasil
O ex-ministro do GSI, general Sergio Etchegoyen, era o único chefe militar de pasta no Planalto no governo Michel Temer (MDB)
Imagem: Wilson Dias/Agência Brasil

Temer alçou ministros com experiência na política

Na época de Temer, somente o ministro do GSI, general Sergio Etchegoyen, era militar. O restante - Eliseu Padilha (Casa Civil), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Moreira Franco (Secretaria-Geral) - era políticos considerados da velha guarda, com conhecimento de eleições e de negociações partidárias no Congresso Nacional.

Os ministros que vieram a substituir Moreira Franco - Ronaldo Fonseca - e Vieira Lima - Antonio Imbassahy e Carlos Marun - também construíram carreira na política e estavam antes como deputados federais na Câmara.

Padilha, Vieira Lima e Moreira Franco eram exímios negociadores com parlamentares e se destacavam nos bastidores. A articulação deles foi essencial para que Michel Temer não fosse afastado da Presidência pela Câmara após três denúncias da PGR (Procuradoria-Geral da República) por suspeitas de corrupção envolvendo o grupo J&F, que controla a empresa frigorífica JBS, de Joesley Batista.

Ainda que Padilha e Moreira Franco trocassem farpas internamente de vez em quando, não permitiam que as discussões vazassem ou se tornassem um revés para o governo. Moreira Franco é conhecido pelo temperamento difícil e explosivo se confrontado.

Os ex-ministros Eliseu Padilha (à frente) e Moreira Franco, ambos do MDB, construíram carreira na política - Igo Estrela/Folhapress - Igo Estrela/Folhapress
Os ex-ministros Eliseu Padilha (à frente) e Moreira Franco, ambos do MDB, construíram carreira na política
Imagem: Igo Estrela/Folhapress

O peso da inexperiência do batalhão de Bolsonaro

Os responsáveis pela articulação política no Planalto de Bolsonaro chegaram à função sem a mesma experiência prévia. Em meio a tentativas do governo de estabelecer um bom relacionamento com parlamentares, houve episódios de ciúmes entre Onyx e Santos Cruz que, entre outros motivos, culminaram na exoneração do último.

O Planalto agora tenta contornar as reclamações de parlamentares de que Santos Cruz tinha muito rigor técnico.

O relacionamento com Ramos ainda não deslanchou com todos os grupos no Congresso. Diante de promessas de pagamentos de emendas feitas por Onyx ainda não cumpridas, a paciência de deputados e senadores segue volátil de acordo com o interesse deles nos projetos apresentados pelo governo.

Discrição

Outra característica pela qual os ministros de Bolsonaro se diferenciam dos antecessores é uma recusa à exposição excessiva, tanto em eventos quanto perante a imprensa. Com a exceção de Onyx, os outros procuram ser breves em discursos e não conceder entrevistas.

Luiz Ramos e Jorge Oliveira também chamam a atenção pelas declarações diplomáticas visivelmente calculadas para não afetarem as relações do governo com terceiros e projetadas para se afastarem das manchetes dos jornais.

A ordem implícita é prezar pela discrição e deixar que o presidente Jair Bolsonaro lidere a comunicação do Planalto.

O último ministro da Secretaria de Governo do governo Michel Temer (MDB), Carlos Marun (MDB), fala com a imprensa em frente ao Palácio da Alvorada - Pedro Ladeira/Folhapress - Pedro Ladeira/Folhapress
O último ministro da Secretaria de Governo do governo Michel Temer (MDB), Carlos Marun (MDB), fala com a imprensa em frente ao Palácio da Alvorada
Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Por outro lado, o último ministro da Secretaria de Governo de Temer, Carlos Marun, procurava dar declarações diárias à imprensa. Inclusive, perguntando qual horário ficaria melhor para os jornalistas. Nas coletivas, não havia pergunta que saísse sem ser respondida.

Geddel Vieira Lima era outro ministro conhecido por não ter papas na língua se precisasse se posicionar de maneira firme. Ele está preso desde 2017 em Brasília após a Polícia Federal encontrar R$ 51 milhões em dinheiro vivo em apartamento em Salvador.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Eduardo Bolsonaro é deputado federal, e não senador, conforme inicialmente informado. A informação foi corrigida na reportagem.

O governo Bolsonaro teve início em 1º de janeiro de 2019, com a posse do presidente Jair Bolsonaro (então no PSL) e de seu vice-presidente, o general Hamilton Mourão (PRTB). Ao longo de seu mandato, Bolsonaro saiu do PSL e ficou sem partido até filiar ao PL para disputar a eleição de 2022, quando foi derrotado em sua tentativa de reeleição.