Míssil intercontinental é capaz de atingir EUA; há risco de guerra mundial?
Pela primeira vez desde a eclosão da guerra, a Ucrânia acusou a Rússia na quinta-feira (21) de lançar um míssil balístico intercontinental, capaz de atravessar continentes inteiros e atingir um alvo em quase qualquer lugar do mundo. A Rússia confirmou que fez um ataque experimental, atingindo a cidade de Dnipro. Com a escalada do conflito, autoridades dos dois países alertam para risco de Terceira Guerra Mundial.
'Ações podem desencadear resposta global'
O parlamentar russo Andrei Kartapolov advertiu sobre o risco de uma terceira guerra mundial. "Mas isso não deixa de ser uma decisão sem precedentes e muito importante para dar início à Terceira Guerra Mundial. Os americanos o farão por impulso de um 'velho' [Joe Biden] que está prestes a deixar o cargo e não será mais responsável por nada em dois meses", completou.
O próprio Vladimir Putin fez uma ameaça de que uma terceira guerra poderia ter início caso fossem enviadas tropas europeias para a Ucrânia. "Acho que tudo é possível no mundo moderno, mas eu já disse para todos que isso [o envio de tropas] seria um passo para uma terceira Guerra Mundial em grande escala. Eu acho que quase ninguém está interessado nisso", falou em março.
Além de envio de tropas, neste momento, outros fatores podem desencadear um conflito global. Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), entende que o uso de armas nucleares táticas, ataques a países membros da OTAN ou incidentes que resultem em baixas significativas de forças ocidentais podem ser suficientes para agravar a situação.
A dinâmica do conflito é volátil, e ações não intencionais ou mal calculadas podem precipitar uma resposta em cadeia de proporções globais.
Fernando Brancoli, professor de Segurança Internacional e Geopolítica
Na quinta-feira (21), Putin assumiu que ''o conflito regional adquiriu elementos de caráter global''. A declaração foi dada durante um discurso televisionado ao país após o uso do míssil intercontinental.
Valerii Zaluzhnyi, embaixador da Ucrânia no Reino Unido e ex-comandante-chefe das Forças Armadas da Ucrânia, considera que a Terceira Guerra Mundial já está começando. Em cerimônia de premiação do jornal Ukrainska Pravda, ele disse que novos rumos foram tomados com o envolvimento direto dos aliados da Rússia, como a Coreia do Norte, que providenciou tropas para atuar na guerra.
O embaixador diz que países do mundo todo têm a oportunidade de recalcular a rota agora para encerrar o conflito. ''O que esperávamos há tanto tempo começou. Mas quero dizer que o próprio Deus está dando uma chance de tirar as conclusões corretas agora'', declarou durante o evento nesta quinta-feira (21).
Ainda é possível parar o conflito no território da Ucrânia. Mas, por algum motivo, nossos parceiros não querem entender isso. É óbvio que a Ucrânia já tem muitos inimigos. A Ucrânia sobreviverá por meio da tecnologia, mas não está claro se ela pode vencer essa batalha sozinha. Acredito que a guerra mundial já começou.
Valerii Zaluzhnyi, embaixador da Ucrânia no Reino Unido
Para Natália Fingermann, professora de Relações Internacionais da ESPM, ''nunca estivemos tão perto dessa possibilidade''. ''O Kim Jong-un da Coreia do Norte já fez uma declaração ameaçando usar suas armas nucleares. Nós percebemos que a escalada desse conflito pode se tornar global. No meu ponto de vista, é plausível, a não ser que a gente retome o diálogo de negociação, que não tenho visto'', argumentou a especialista ao UOL.
OTAN e Europa ainda não parecem dispostas a entrar diretamente em guerra
O uso de mísseis deixou a comunidade internacional em estado de alerta. Com os novos passos no conflito, há um temor em Washington e nas capitais europeias de que isso possa significar uma guerra declarada entra a OTAN e a Rússia.
A organização, porém, nega que esses novos ataques mudem o rumo do conflito. O porta-voz da OTAN Farah Dakhlallah declarou que novas decisões não vão mudar as ideias sobre a guerra.
Ainda não há indícios concretos de que países da OTAN estejam dispostos a envolver-se militarmente diretamente, analisa Brancoli. Segundo o professor, isso reduz, mas não elimina, o risco de uma guerra em escala global.
A professora Natália também pontua que escalar o conflito pode não fazer sentido para alguns países europeus. ''Parte da Europa está percebendo o perigo de isso se tornar global e está buscando recursos diplomáticos para tentar resolver. O presidente francês Macron fez uma reunião com o presidente chinês para convencer a China a ser uma possível mediadora de um acordo'', explica.
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Quero receberAtaque em Dnipro ocorreu após uso de mísseis dos EUA e do Reino Unido
A Ucrânia atacou uma base militar em território russo na terça-feira (19) após o governo dos EUA autorizar o uso de seus mísseis de longo alcance no conflito. A liberação, decidida pelo presidente Joe Biden, busca forçar a Rússia a negociar paz ou a se retirar das regiões da Ucrânia, disse o chefe diplomático americano para o Hemisfério Ocidental, Brian Nichols.
Além disso, a Ucrânia usou, pela primeira vez desde o início da guerra, mísseis de longo alcance fornecidos pelo Reino Unido para atacar a Rússia em seu próprio território. O ataque ocorreu na quarta-feira (20). Após a ofensiva, o chefe da diplomacia russa, Sergei Lavrov, afirmou que a guerra se encaminha para "uma nova fase".
Oficialmente, Moscou tem feito ameaças sobre a possibilidade de usar armas nucleares no conflito —o que não ocorreu até o momento.
Até o momento, a Rússia não deu sinais de recuo após a investida aprovada pelos EUA. O parlamentar russo Andrei Kartapolov, presidente do Comitê de Defesa da Câmara Baixa, afirmou na segunda-feira (18) que a autorização dos EUA para o uso de mísseis americanos em ataques à Rússia não mudaria em nada a estratégia de Moscou.
Rússia começou a testar armamento no ano passado
O míssil balístico intercontinental alcança milhares de quilômetros e pode ser usado para lançar tanto ogivas nucleares como bombas. Na quinta-feira (21), a Rússia disparou pela primeira vez este tipo de armamento contra a cidade de Dnipro, na Ucrânia, em um movimento ''experimental''.
O presidente russo, Vladimir Putin, atribiui o ataque ao uso de mísseis britânicos e americanos pela Ucrânia. "Em resposta ao uso de armas de longo alcance americanas e britânicas, em 21 de novembro deste ano, as Forças Armadas russas lançaram um ataque combinado contra uma das instalações da indústria de defesa ucraniana", disse Putin em declaração transmitida pela TV nesta quinta (21).
Desde 2023, a Rússia vinha fazendo teste com o míssil intercontinental Bulava. Este modelo tem um alcance de 8.000 km, com 12 metros de comprimento e com peso de cerca de 37 toneladas. Além disso, a arma consegue burlar qualquer escudo antimísseis, inclusive os dos EUA.
Na época dos testes, o presidente russo Vladimir Putin já havia avisado que o recurso servia de ''alerta para os inimigos''. ''Trata-se de uma arma única, que reforçará o potencial militar das nossas Forças Armadas. Vai garantir a segurança da Rússia contra as ameaças externas e fazer aqueles que ameaçam nosso país pensarem duas vezes'', disse em discurso em 2022.
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