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Após acompanharem Bolsonaro em ida ao PSL, aliados viram pivôs de crise

Delegado Waldir e o presidente Jair Bolsonaro posam para foto simulando armas - Reprodução
Delegado Waldir e o presidente Jair Bolsonaro posam para foto simulando armas Imagem: Reprodução

Igor Mello

Do UOL, no Rio

18/10/2019 04h00Atualizada em 18/10/2019 06h45

Resumo da notícia

  • Primeiros a acompanhar Bolsonaro em ida ao PSL, aliados viram pivôs de crise
  • Nesse grupo estão Delegado Waldir, Major Olímpio e Marcelo Álvaro Antonio

Acompanhado originalmente por oito deputados federais em sua ida ao PSL, Jair Bolsonaro (PSL) viu parte de seus aliados de primeira hora se tornarem pivôs da crise que tomou conta do partido.

Além do filho Eduardo Bolsonaro, Bolsonaro conseguiu arrastar outros sete deputados federais para acompanhá-lo na filiação ao PSL, então considerado um partido nanico, em março de 2018. Esses aliados ocupam atualmente postos importantes no governo e no Congresso. Parte desse grupo se tornou pivô da crise envolvendo o presidente da República e o partido que o elegeu.

Passados 19 meses, o PSL se tornou uma das maiores legendas do país, na esteira da onda conservadora que varreu a eleição de 2018. Hoje a sigla conta com a segunda maior bancada na Câmara dos Deputados, com 53 deputados, e uma previsão de R$ 110 milhões em recursos do Fundo Partidário.

Entre os personagens-chave na disputa pelo controle do PSL, estão integrantes do grupo original da era Bolsonaro na sigla, apelidada na ocasião de "bancada da metralhadora": o deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO), líder do PSL na Câmara; o agora senador Major Olímpio (PSL-SP), líder do partido no Senado; e Marcelo Álvaro Antonio (PSL-MG), ministro do Turismo denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) por envolvimento em um esquema de candidaturas laranjas do PSL em Minas Gerais na última disputa eleitoral.

No começo do ano, Delegado Waldir foi escolhido líder do partido na Câmara, mas viu seu adversário local, Major Vitor Hugo (PSL-GO), ser ungido por Bolsonaro para ocupar a liderança do governo na Câmara. Alinhado ao presidente da legenda, o também deputado Luciano Bivar (PSL-PE), Waldir vem sendo o mais explícito oponente interno do clã Bolsonaro na sigla.

Ao longo da semana, Waldir usou seu posto para retaliar o governo: removeu deputados bolsonaristas de comissões e orientou obstrução —medida, geralmente adotada pela oposição, para atrasar a análise de projetos— a uma MP (Medida Provisória) de interesse do Executivo.

Após vencer ontem uma batalha pessoal com Eduardo Bolsonaro pela liderança na Câmara, Delegado Waldir foi atingido pelo vazamento de um áudio gravado em uma reunião de parte da bancada fiel a Bivar. O colega Daniel Silveira (PSL-RJ), fiel apoiador do senador Flávio Bolsonaro, admitiu ter se "infiltrado" na reunião e feito a gravação.

No diálogo, Waldir ameaça divulgar um áudio e "implodir" Bolsonaro, chamado por ele diversas vezes de "vagabundo". Ele demonstra irritação pelo fato de o presidente ter articulado pessoalmente sua destituição da liderança, conforme mostrou anteontem uma outra conversa vazada.

Ataque aos filhos de Bolsonaro

Outro aliado íntimo que virou inimigo de Bolsonaro é o senador Major Olimpio (PSL-SP), que também o acompanhou na filiação ao PSL. Eleito senador na esteira da onda bolsonarista, ele perdeu o comando do diretório estadual do partido em São Paulo em junho, sendo substituído por Eduardo Bolsonaro.

Desde então, Olimpio vem fazendo críticas constantes ao governo. Na semana passada, ele se envolveu em um bate-boca público com o vereador Carlos Bolsonaro (PSC-RJ). Chamado de "bobo da corte" pelo vereador, retrucou dizendo que os filhos de Bolsonaro se comportavam como "príncipes" e chamou Carlos de "moleque".

Outro envolvido na confusão é filho de um aliado de primeira hora de Bolsonaro. Delegado Francischini se filiou ao PSL junto com Bolsonaro e foi um dos coordenadores nacionais da campanha do presidente. Ele preferiu tentar uma vaga na Assembleia Legislativa do Paraná, mas elegeu o filho Felipe Francischini (PSL-PR) como deputado federal. Felipe foi escolhido presidente da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) —a mais importante da Câmara— e tomou partido por Luciano Bivar na disputa pelo controle do PSL.

No áudio vazado ontem em que Delegado Waldir ameaça implodir o presidente, Felipe também faz ataques a ele.

"A gente foi tratado que nem cachorro desde que ele ganhou a eleição. Nunca atendeu a gente em porra nenhuma", criticou. "Só liga na hora que precisa para foder com alguém", falou, em referência ao presidente.

Francischini ainda denunciou uma articulação nos bastidores para uma fusão entre o PSL e o DEM, articulada por aliados de Bivar.

"Ontem [15/10] a gente foi na casa do Rodrigo [Maia, presidente da Câmara]. Estava o Mendonça [Mendonça Filho, ex-deputado e ex-ministro da Educação], estava o Rodrigo ligando para o ACM [ACM Neto, prefeito de Salvador e presidente do DEM], Rueda [Antônio Rueda, vice-presidente nacional do PSL]. Eles estão loucos, esperando para fazer a fusão do Democratas com o PSL. Eu estou tentando segurar essa porra, porque eu não quero que aconteça. Se a bancada passar o recado que não estão (sic) com o partido, eles vão fazer a fusão e vão liberar todo mundo aqui sem levar fundo, sem levar porra nenhuma. E o Democratas vai ficar com o dinheiro de todos vocês aqui. Então, não tem chance de dar certo o jogo com o Palácio, porque eles não combinam o jogo com ninguém", revelou a colegas de bancada.

Um dos membros do grupo permanece como aliado de Bolsonaro, mas teve papel decisivo na deflagração da crise entre o partido e o presidente. Trata-se do ministro Marcelo Álvaro Antônio, recentemente denunciado pelo MPF como um dos articuladores de um esquema de desvio de recursos destinados à participação feminina na eleição através de candidaturas laranjas.

Mesmo envolvido desde o início do ano no escândalo, Bolsonaro decidiu mantê-lo no cargo. O ministro foi coordenador da campanha presidencial em Minas e estava na comitiva de Bolsonaro em Juiz de Fora (MG), quando o então candidato foi esfaqueado por Adélio Bispo —ele foi um dos primeiros a socorrê-lo em meio ao tumulto.

A permanência de Marcelo Álvaro Antonio no governo tem sido usada por aliados de Bivar para rebater os argumentos da ala bolsonarista do PSL desde que o presidente decidiu solicitar uma auditoria nas contas do diretório nacional do partido.

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Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do informado no 3° parágrafo desta matéria, o PT tem a maior bancada da Câmara, e não o PSL. A informação já foi corrigida. Diferentemente do informado no 3° parágrafo desta matéria, o PSL tem 53 deputados na bancada, e não 55. A informação já foi corrigida.