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Bolsonaro decidiu sobre saída de Valeixo e comunicou Moro antes de reunião

Presidente Jair Bolsonaro e então ministro Sergio Moro no Palácio do Planalto, em Brasília - Adriano Machado
Presidente Jair Bolsonaro e então ministro Sergio Moro no Palácio do Planalto, em Brasília Imagem: Adriano Machado

Do UOL, em São Paulo

23/05/2020 19h08Atualizada em 23/05/2020 22h49

Resumo da notícia

  • Jornal O Estado de S. Paulo revelou diálogo entre Bolsonaro e Moro no dia 22 de abril
  • A conversa mostra que partiu de Bolsonaro a decisão de demitir o delegado Valeixo do comando da PF
  • O UOL confirmou a autenticidade do diálogo com fontes ligadas ao caso
  • Bolsonaro disse a Moro: "Valeixo vai essa semana"

A demissão do delegado Maurício Valeixo do comando da PF (Polícia Federal) partiu do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que a comunicou em uma mensagem enviada ao então ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro, às 6h26 do dia 22 de abril.

A informação foi publicada pelo jornal O Estado de S. Paulo, que teve acesso a um diálogo existente na investigação aberta pelo STF (Supremo Tribunal Federal) para apurar intervenção na corporação. O UOL confirmou a veracidade da conversa com fontes ligadas ao caso.

O diálogo

Na data em questão, o presidente enviou uma mensagem a Moro dizendo: "Valeixo sai esta semana". Na sequência, Bolsonaro escreveu: "Está decidido". E logo em seguida: "Você pode dizer apenas a forma. A pedido ou ex oficio (sic)".

A versão deixa claro que a troca foi uma decisão do presidente e contraria sua versão de que Valeixo teria pedido para deixar o cargo por "cansaço". A saída do delegado foi o centro do rompimento entre o presidente e Moro, que viu na atitude tentativa de intervenção na PF.

Em seu depoimento à PF, Valeixo já havia confirmado que, como Moro declarou, ele não pediu para deixar a chefia da corporação e que o presidente queria alguém com mais "afinidade" na chefia da corporação.

A troca de mensagens mostra que, naquele 22 de abril, o ex-ministro da Justiça respondeu Bolsonaro às 6h37 dizendo: "Presidente, sobre este assunto precisamos conversar pessoalmente. Estou ah (sic) disposição para tanto". De acordo com O Estado de S. Paulo, o diálogo obtido consta do inquérito instaurado pelo STF (Supremo Tribunal Federal).

Conversa não é a mesma divulgada por Moro à TV

O diálogo de 22 de abril é anterior ao que Moro divulgou no Jornal Nacional no dia 24 de maio, data em que pediu demissão. O diálogo que foi ao ar no telejornal da TV Globo ocorreu no dia 23 de abril.

Neste dia, Bolsonaro manda a Moro uma matéria do site O Antagonista e evidencia no diálogo que queria a troca no comando da PF em virtude do inquérito das fake news.

No dia 5 de maio, Bolsonaro rebateu a versão de Moro e disse que ele ocultou parte do diálogo. O presidente também acusou o ex-ministro de crime federal por ter revelado a conversa entre os dois ao JN. Segundo advogados ouvidos pelo UOL não há crime na atitude de Moro. Além disso, jurisprudência do STF permite que uma pessoa que faz parte de uma conversa pode registrá-la e divulgá-la.

Inquérito

O inquérito instaurado no STF apura se de fato Bolsonaro interferiu na Polícia Federal para ter acesso a informações de investigações sigilosas que poderiam envolver seus familiares.

A data da mensagem é a mesma em que houve a reunião ministerial tornada pública ontem por decisão do ministro do STF Celso de Mello. O encontro começou às 10 horas da manhã e o ex-ministro afirmou que foi nesta ocasião que ocorreu a pressão para intervenção no comando da Polícia Federal. Dois dias depois, em 24 de abril, Moro deixou o cargo e fez as acusações de tentativa de interferência por parte de Bolsonaro.

Também na reunião, Bolsonaro disse:

"É putaria o tempo todo para me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa, oficialmente, e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigos meus, porque não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha — que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode o chefe dele? Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira".

Bolsonaro repete versão que Valeixo queria sair

Na portaria do Alvorada, após a divulgação dos vídeos, o presidente disse ontem que "o senhor Valeixo há muito vinha falando que queria sair". Em depoimento, porém, Valeixo havia dito no último dia 11 que recebeu uma ligação um dia antes da publicação de sua exoneração no Diário Oficial da União.

As mensagens foram recuperadas do telefone celular do ex-juiz da Lava Jato Sergio Moro, entregue por ele durante seu depoimento na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.

Procurados pelo UOL, o ex-ministro Sergio Moro e a assessoria do STF afirmaram que não irão comentar o caso.