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Bolsonaro fala em trocar ministros: "Não vou esperar foder minha família"

Arthur Sandes e Juliana Arreguy

Do UOL, em São Paulo

22/05/2020 17h42Atualizada em 20/07/2022 21h41

O vídeo da reunião ministerial do dia 22 de abril, cujo sigilo foi derrubado hoje pelo ministro Celso de Mello, do STF (Supremo Tribunal Federal), mostra o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) admitindo interferir "em todos os ministérios" e até trocar ministros para proteger sua família.

O vídeo é considerado como uma das principais provas para sustentar a acusação feita pelo ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) de que o presidente tentou interferir no comando da PF (Polícia Federal) e na superintendência do órgão no Rio, fatos esses investigados no inquérito relatado pelo decano do STF.

"Eu tenho o poder e vou interferir em todos os ministérios, sem exceção. Nos bancos eu falo com o Paulo Guedes, se tiver que interferir. Nunca tive problema com ele, zero problema com Paulo Guedes. Agora os demais, vou. Eu não posso ser surpreendido com notícias. Pô, eu tenho a PF que não me dá informações", diz Bolsonaro em certo momento da reunião. A frase já havia sido confirmada pela própria AGU (Advocacia-Geral da União).

Na sequência, o presidente reitera:"Eu tenho as inteligências das Forças Armadas que não tenho informações. ABIN (Agência Brasileira de Inteligência) tem os seus problemas, tenho algumas informações. Só não tenho mais porque está faltando, realmente, temos problemas, pô! Aparelhamento etc. Mas a gente não pode viver sem informação".

'Segurança nossa'

Em outro trecho, bastante exaltado, o presidente fala sobre a dificuldade de trocar "gente da segurança nossa", sem citar a Polícia Federal, mas referindo-se a um funcionário "da estrutura" do Governo Federal.

É putaria o tempo todo para me atingir, mexendo com a minha família. Já tentei trocar gente da segurança nossa, oficialmente, e não consegui. Isso acabou. Eu não vou esperar foder minha família toda de sacanagem, ou amigos meus, porque não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha — que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele; não pode o chefe dele? Troca o ministro. E ponto final. Não estamos aqui para brincadeira. Jair Bolsonaro

O presidente afirma na reunião que "o sistema de informações, o meu funciona", mas "os que temos oficialmente, desinformam", sem explicar exatamente quais seriam estes sistemas oficiais.

"O nosso serviço de informações, todos eles, são uma vergonha, uma vergonha! Eu não sou informado! E não dá para trabalhar assim, fica difícil. Por isso, vou interferir! E ponto final", reafirma Bolsonaro em outro momento.

"Voltando ao ao tema: prefiro não ter informação do que ser desinformado por sistema de informações que eu tenho. Então, pessoal, muitos vão poder sair do Brasil, mas não quero sair e ver a minha a irmã de Eldorado, outra de Cajati, o coitado do meu irmão capitão do Exército de Miracatu se foder, porra! Como é perseguido o tempo todo", esbraveja Bolsonaro na reunião.

O presidente citou na reunião, como exemplo, pais que escutam o que fazem os filho "por trás da porta".

"Tem que ver. Depois que ela engravida, não adianta falar com ela mais. Tem que ver antes. Depois que o moleque encheu os cornos de droga, já não adianta mais falar com ele, já era. E informação é assim", afirma.

Inquérito

O ministro Celso de Mello decidiu hoje derrubar o sigilo da reunião ministerial do dia 22 de abril em que, segundo o ex-ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ameaçou interferir na Polícia Federal.

No despacho publicado no final desta tarde, o decano do STF determinou a divulgação da maior parte da reunião, exceto trechos que tratam de outros dois países e não estão relacionados ao inquérito que investiga se Bolsonaro efetivamente atuou politicamente na PF.

As declarações vêm à tona após o ex-ministro Sergio Moro acusar Jair Bolsonaro de tentar interferir várias vezes na atuação da Polícia Federal, pedindo informações sigilosas e por fim trocando o diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo. A queda de Valeixo, há cerca de um mês, acabou culminando no pedido de demissão de Moro.

Os dois ex-funcionários do Governo já prestaram depoimento à Polícia Federal sobre as supostas interferências de Bolsonaro.