Mensagens indicam influência de Queiroz sobre grupo de milicianos, diz MP
O ex-assessor Fabrício Queiroz, apontado como operador financeiro do suposto esquema de rachadinha de Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio), mantinha influência direta sobre milicianos que dominam comunidades da zona oeste carioca, segundo apontam investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).
Mensagens de aplicativos obtidas pelos promotores em celulares apreendidos com autorização da Justiça mostram que Márcia Oliveira de Aguiar, mulher de Queiroz, entrou em contato com ele em 14 de dezembro pedindo que o marido intercedesse junto a milicianos que atuam nas favelas do Rio das Pedras, Tijuquinha e Itanhangá. Queiroz prometeu ajudá-la, mas comentou que temia falar sobre o assunto por meio do telefone celular em razão do risco de o aparelho estar grampeado.
Na ocasião, um interlocutor não identificado pergunta a Márcia como poderia falar com Queiroz e detalha um problema ocorrido pouco antes. Ele afirma ter discutido com um comerciante do Itanhangá e que, por isso, teria sido intimidado por milicianos da região. O UOL manteve as grafias originais das mensagens, mesmo quando há erros ortográficos.
"Não teve briga, nada não. Só discussão mesmo. Eles foram lá na Tijuquinha, né, os 'caras que comanda aqui' e foi falar que eu bati nele, isso e aquilo. Uma coisa que não aconteceu. Os 'meninos' me chamaram. Entendeu? Só que eu conheço eles, né. Conheço os 'meninos' tudo. Aí, poxa. Aí eu queria que se desse para ele ligar, se conhecer alguém daqui, Tijuquinha, Rio das Pedras, os 'meninos' que cuida daqui", pede o interlocutor.
O recado foi repassado a Queiroz que, apesar de demonstrar receio de fazer contato telefônico, comprometeu-se a interceder pessoalmente.
"O Márcia, avisa a ele que é impossível ligar pra alguém, entendeu? Isso aí vai, uma ligação dessa acontece de eu estar grampeado, vai querer me envolver em algum coisa aí porque o pessoal daí vai estar tudo grampeado. Isso aí a gente, eu posso ir quando estiver aí pessoalmente", diz o ex-assessor de Flávio Bolsonaro.
Contatos com chefe de milícia durante recuperação
Essa não é a primeira vez que o MP-RJ aponta a relação de Queiroz com chefes de milícias. No despacho que resultou em uma operação em dezembro de 2019, o MP-RJ já havia relatado conversas do ex-assessor com líderes de grupos paramilitares. Na ocasião, ele orientava funcionários fantasmas do gabinete de Flávio, enquanto se tratava de um câncer.
Foram anexadas mensagens encontradas no celular de Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega, que foi funcionária no gabinete de Flávio Bolsonaro por mais de 11 anos. Ela é ex-mulher do miliciano Adriano Magalhães da Nóbrega —o Capitão Adriano, apontado como chefe do Escritório do Crime. Ele foi morto durante operação conjunta das polícias do Rio e da Bahia em fevereiro
Queiroz vinha orientando Danielle sobre como proceder desde dezembro de 2018, quando o escândalo veio à tona. Em 16 de janeiro de 2019 —dias depois de ter deixado o hospital—, ele volta a fazer contato com Danielle, que diz ter sido intimada a depor. Queiroz apaga as mensagens enviadas à ex-mulher do miliciano, mas pelo contexto é possível entender que ele a orientou a faltar o depoimento.
"Eu já fui orientada. Ontem eu fui encontrar os amigos", diz Danielle, fazendo referência a membros da milícia que controla a comunidade do Rio das Pedras, na zona oeste do Rio. Queiroz então responde: "Eu sei".
No dia anterior, Capitão Adriano já havia repassado à ex-mulher orientação de Queiroz para faltar ao depoimento no MP-RJ: "Boa noite! O amigo pediu pra vc não ir em lugar nenhum e tmb não assinar nada".
O amigo, neste caso, seria Queiroz, segundo os investigadores. Danielle responde que havia assinado a intimação dias antes, quando recebeu o documento.
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