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Advogado de Flávio manteve contato com Capitão Adriano foragido, diz MP

O ex-PM Adriano Nóbrega - Reprodução/Polícia Civil
O ex-PM Adriano Nóbrega Imagem: Reprodução/Polícia Civil

Vinicius Konchinski

Colaboração para o UOL, em Curitiba

19/06/2020 18h21

O ex-PM Adriano da Nóbrega, apontado como chefe da milícia Escritório do Crime que foi morto em operação policial na Bahia em fevereiro, manteve contato com um dos advogados do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) enquanto esteve foragido da Justiça. Investigações do MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) sobre suposto esquema de rachadinha apontaram relações da milícia do Rio com Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio preso ontem em Atibaia (SP).

De acordo com mensagens obtidas no celular de Márcia Oliveira Aguiar, mulher de Queiroz, ela mesma e o advogado Luis Gustavo Botto Maia mantiveram comunicação com Adriano por meio da mãe dele, Raimunda Veras Magalhães. Raimunda tinha cargo no gabinete de Flávio na Alerj (Assembleia Legislativa do Rio).

Botto Maia foi advogado da campanha de Flávio Bolsonaro ao Senado Federal, em 2018. Ele é uma das pessoas que assina a prestação de contas da campanha de Flávio entregue à Justiça Eleitoral.

O advogado também foi alvo da Operação Anjo, que prendeu Queiroz na manhã de ontem. A Justiça do Rio autorizou buscas e apreensões em dois endereços ligados a Botto Maia, que é suspeito de ser cúmplice de integrantes de um esquema de "rachadinha" supostamente operado por Queiroz com assessores de Flávio na Alerj.

O suposto contato de Botto Maia com Adriano da Nóbrega enquanto ele esteve foragido é citado na decisão do juiz Flávio Itabaiana que determinou a prisão de Queiroz e de sua mulher, além da apreensão de material em endereços do advogado.

"A mulher de Fabrício Queiroz [Márcia] e o advogado do ex-deputado estadual Flávio Bolsonaro [Botto Maia] mantiveram contato com o então foragido da Justiça Adriano da Nóbrega, por intermédio de sua mãe, Raimunda Veras Magalhães", escreve o juiz, baseado no material apresentado a ele pelo MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro).

Encontro de advogado de Flávio com mãe de Adriano em MG

De acordo com apuração do MP-RJ, Botto Maia esteve em Astolfo Dutra (MG) entre os dias 3 e 4 de dezembro de 2019. Lá, ele encontrou-se com Raimunda, mãe de Adriano da Nóbrega, e com Danielle Mendonça da Costa, viúva do miliciano e também ex-assessora de Flávio Bolsonaro.

Naquela época, Adriano da Nóbrega, o Capitão Adriano, já era considerado foragido da Justiça há quase um ano. Em janeiro de 2019, ele foi alvo da Operação Intocáveis, que investigou a milícia atuante na Muzema e Rio das Pedras, na zona oeste do Rio, mas não foi capturado.

Capitão Adriano só foi localizado em fevereiro, na Bahia. Uma operação para prendê-lo foi realizada. Segundo versão da polícia, ele trocou tiros com policiais e foi morto.

Advogado de Flávio instruiu parentes de milicianos

Ainda segundo apuração do MP-RJ, Botto Maia instruiu pessoalmente Raimunda e Danielle sobre os desdobramentos das investigações sobre a "rachadinha" no gabinete de Flávio quando esteve em Astolfo Dutra. Em novembro de 2019, o STF (Supremo Tribunal Federal) julgou um recurso que possibilitou o avanço das investigações, que até então estavam suspensas.

A investigação do MP-RJ indica ainda que Botto Maia se reuniu em Atibaia com Queiroz e o "Anjo", apelido do advogado Frederick Wassef, antes de ir a Astolfo Dutra. Wassef também é advogado da família Bolsonaro.

Mensagens obtidas pelo MP-RJ apontam que o próprio Queiroz recomendou que Raimunda permanecesse em Minas Gerais, escondida, para evitar que fosse encontrada por investigadores.

"Também foi possível verificar que Raimunda Veras Magalhães foi orientada por Fabrício Queiroz a permanecer escondida, temendo a retomada da investigação após o julgamento desfavorável do Recurso Extraordinário nº 1.055.941/SP pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, ocorrido em novembro de 2019", diz a decisão do juiz Flávio Itabaiana.

O UOL tenta contato com Botto Maia desde ontem. O advogado ainda não respondeu a reportagem.

Frederick Wassef também foi procurado, mas ainda não se manifestou.

Quando Capitão Adriano foi morto, Flávio Bolsonaro chegou a dizer em sua conta no Twitter que ele teria sido "brutalmente assassinado" e pediu investigações sobre o caso.