Defesa de Flávio cogitou tirar família de Queiroz do RJ após derrota no STF
O advogado Frederick Wassef, responsável pela defesa do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), cogitou tirar do Rio de Janeiro a família do ex-assessor Fabrício Queiroz —que já estava em seu sítio, em Atibaia (SP), segundo aponta investigação do Ministério Público do Rio.
A providência estava relacionada à iminente retomada em dezembro passado das investigações sobre a rachadinha no gabinete do filho mais velho do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) na Alerj, por autorização do STF (Supremo Tribunal Federal). A estratégia foi relatada pelo próprio Queiroz à sua mulher, Márcia Oliveira de Aguiar, em mensagens obtidas em um telefone apreendido com ela, em dezembro de 2019. De acordo com Queiroz, Wassef —sempre chamado de "Anjo" no diálogos— trouxe essa possibilidade repetidas vezes.
Queiroz fala dessa possibilidade no dia 21 de novembro de 2019, dias antes de o STF retomar o julgamento sobre a legalidade do compartilhamento de informações de inteligência financeira com o Ministério Público e as polícias. Por pedido de Wassef, o presidente da Corte, Dias Toffoli, havia suspendido todas as investigações que usavam esse tipo de dado no Brasil —inclusive as apurações da rachadinha no gabinete de Flávio Bolsonaro.
A conversa trata, inclusive, sobre a possibilidade de uma fuga caso Queiroz e a mulher fossem alvos de mandados de prisão —o que ocorreu ontem. Até o momento Márcia está foragida da Justiça.
Márcia pergunta ao marido se o "Anjo" havia dito alguma coisa. Queiroz então responde às 11h56: "querendo mandar para todos para são paulo se agente nao ganhar". O UOL manteve as grafias originais das mensagens, mesmo quando há erros ortográficos.
O ex-assessor de Flávio Bolsonaro logo emenda: "aquela conversa de sempre".
Márcia então responde: "Morar aí? Acho exagero". Queiroz procura adiar essa discussão: "não vamos entrar no mérito agora", argumenta.
A esposa de Queiroz insiste no assunto: "Sim. Mais só se estivéssemos com prisão decretada. Sabe que isso será possível né? Mais vamos aguarda", pondera, antes de perguntar sobre os rumos do processo no STF.
"A possibilidade não ganharmos são grandes? Ele disse alguma coisa?", questiona Márcia, em referência a Wassef.
Queiroz então tenta acalmá-la: "Sim", afirma. "Mas ele ta de boa".
O UOL pediu a Wassef um posicionamento a respeito da conversa entre Queiroz e Márcia mencionada pelo MP-RJ, mas ainda não obteve resposta.
A defesa de Queiroz e Márcia também não se manifestou sobre a investigação.
Mulher de Queiroz está foragida
A ação que prendeu Queiroz —o ex-assessor estava em um sítio de propriedade do advogado de Flávio Bolsonaro em Atibaia (SP)— foi batizada como Operação Anjo justamente em referência ao apelido usado para se referir a Wassef pelas famílias de Queiroz e Flávio Bolsonaro.
Além de Queiroz e Márcia, que foram alvos de mandados de prisão preventiva, a operação mirou outras quatro pessoas ligadas ao esquema de rachadinha: Luiza Souza Paes, ex-assessora de Flávio Bolsonaro na Alerj; Alessandra Marins Estaves, empregada por Flávio na Alerj e no Senado; o servidor da Alerj Matheus Azeredo Coutinho; e Luis Gustavo Botto Maia, advogado de Flávio.
Contra eles houve pedidos de busca e apreensão, comparecimento mensal em juízo e proibição de falar com testemunhas. Matheus ainda perdeu sua função pública na assembleia.
A reportagem do UOL tentou contato com os investigados, mas eles ainda não se manifestaram.
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