Sérgio Camargo nega existência do racismo estrutural: 'não tem fundamento'
Do UOL, em São Paulo
20/11/2020 17h54
O presidente da Fundação Palmares, Sérgio Camargo, afirmou hoje que não existe racismo estrutural no Brasil. A declaração acontece justamente no Dia da Consciência Negra e sucede o caso de um homem negro espancado até a morte por um segurança e um PM fora de serviço no Carrefour, em Porto Alegre.
Segundo Camargo, a ideia de uma "estrutura onipresente" que oprime e marginaliza todos os negros é a visão da esquerda, mas, segundo ele, "não faz sentido nem tem fundamento".
Na sequência, o presidente da Fundação Palmares compartilhou um vídeo em que diz: "Claro que tem que acabar o dia da Consciência Negra no Brasil. É uma data que a esquerda se apropriou para propagar vitimismo e ressentimento racial".
Na gravação, ele também diz que a Fundação Palmares não dará suporte algum à data —o dia da Consciência Negra, celebrado no dia da morte de Zumbi dos Palmares, existe para refletir e exigir mudanças em questões como as desigualdades de acesso à educação e de oportunidades no mercado de trabalho.
Mais cedo, o vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) também declarou que não existe racismo no Brasil. "Aqui, o que você pode dizer é que existe desigualdade. Temos uma brutal desigualdade fruto de uma série de problemas".
Racismo no Brasil
Segundo dados da Pnad, negros (definidos pelo IBGE como pretos e pardos) têm maiores dificuldades de acesso à moradia: 7 em cada 10 que moram em casas com inadequação são pretos ou pardos.
A desigualdade também é sentida na vulnerabilidade: mulheres negras têm 64% mais riscos de serem assassinadas quando comparadas com mulheres brancas.
Já um estudo divulgado hoje pela PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), em parceria com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), mostra que trabalhadores negros recebem salário 17% menor que o de brancos que têm a mesma origem social, em média.
O resultado mostrou que há diferenças no rendimento de brancos e negros, mesmo quando eles vêm de famílias com recursos econômicos e culturais semelhantes.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, por sua vez, aponta que oito a cada dez pessoas mortas pela polícia em 2019 eram negras.