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'Não existe racismo no Brasil', diz Mourão após negro ser espancado e morto

Do UOL, em São Paulo

20/11/2020 14h35Atualizada em 20/11/2020 16h44

O vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB) disse hoje que não existe racismo no Brasil. A declaração acontece justamente no Dia da Consciência Negra e sucede o caso de um homem negro espancado até a morte por um segurança e um PM fora de serviço no Carrefour, em Porto Alegre.

Digo com toda a tranquilidade: não existe racismo no Brasil. É uma coisa que querem importar, mas aqui não existe
Vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB)

"Aqui, o que você pode dizer é que existe desigualdade. Temos uma brutal desigualdade fruto de uma série de problemas", afirmou o vice-presidente.

"Pessoal de cor"

Para Mourão, o racismo está presente em outros países, como os Estados Unidos. Usando uma expressão racista, o vice-presidente relatou que quando morou no país americano, no final da década de 60, o "pessoal de cor" não podia andar com brancos.

Morei dois anos nos Estados Unidos, racismo tem lá. Na minha escola, o pessoal de cor andava separado. Isso eu nunca tinha visto no Brasil. Saí do Brasil, fui morar lá, era adolescente e fiquei impressionado com isso aí

"Mais ainda, o pessoal de cor sentava atrás do ônibus, não sentava na frente do ônibus. Isso é racismo, aqui não existe isso. Aqui o você pode pegar e dizer é o seguinte: existe desigualdade. Isso é uma coisa que existe no nosso país", acrescentou.

Espancamento no Carrefour

Mourão ainda descreveu a postura do segurança do Carrefour como "totalmente despreparada" e lamentou o caso. Às vésperas do feriado da Consciência Negra, João Alberto Silveira Freitas morreu após agressões no estacionamento do supermercado.

De acordo com relatos, a vítima teria discutido com a caixa do estabelecimento e foi conduzida pelo segurança e pelo PM temporário até o estacionamento da loja, no andar inferior. Lá, eles espancaram João e o mantiveram imobilizado mesmo após a vítima parar de respiirar. A cena vem sendo comparada nas redes sociais ao que aconteceu com George Floyd, que morreu sufocado por policiais nos Estados Unidos.

Os agressores foram presos, suspeitos de homicídio doloso. A polícia aguarda o laudo pericial e mais imagens de câmera para esclarecer o caso. A investigação segue com a 2ª DHPP (Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa).

Racismo no Brasil

Segundo dados da Pnad, negros (definidos pelo IBGE como pretos e pardos) têm maiores dificuldades de acesso à moradia: 7 em cada 10 que moram em casas com inadequação são pretos ou pardos.

A desigualdade também é sentida na vulnerabilidade: mulheres negras têm 64% mais riscos de serem assassinadas quando comparadas com mulheres brancas.

Já um estudo divulgado hoje pela PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul), em parceria com a Rede de Observatórios da Dívida Social na América Latina (RedODSAL), mostra que trabalhadores negros recebem salário 17% menor que o de brancos que têm a mesma origem social, em média. O resultado mostrou que há diferenças no rendimento de brancos e negros, mesmo quando eles vêm de famílias com recursos econômicos e culturais semelhantes.

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2020, por sua vez, aponta que oito a cada dez pessoas mortas pela polícia em 2019 eram negras.

O dia da Consciência Negra, celebrado no dia da morte de Zumbi dos Palmares, existe para refletir e exigir mudanças nessas questões e em outras, como as desigualdades de acesso à educação e de oportunidades no mercado de trabalho.