De coveiro a 'sinto profundamente': as diferenças entre falas de Bolsonaro
Classificado por membros da CPI da Covid como um "atraso fatal", o pronunciamento de Jair Bolsonaro (sem partido), elaborado por membros do governo e lido pelo presidente em rede nacional de rádio e TV, traz alguns trechos sobre a pandemia e a vacinação que contrastam com declarações negacionistas feitas anteriormente e por conta própria, quase sempre a apoiadores.
Bolsonaro iniciou o discurso de hoje lamentando "profundamente" pelas mortes em decorrência da covid-19 registradas no país, que já ultrapassam 467 mil. Em abril de 2020, porém, o presidente disse "não ser coveiro", recusando-se a responder a um jornalista sobre a marca de 300 óbitos alcançada à época.
Pouco antes, também em pronunciamento no rádio e na TV, ele já havia minimizado a gravidade da doença e classificado a covid-19 como "gripezinha".
Veja as diferenças entre o pronunciamento desta quarta-feira (2) e declarações anteriores de Bolsonaro:
Mortes pela covid-19
2 de junho de 2021 - "Sinto profundamente"
Sinto profundamente cada vida perdida em nosso país.
20 de abril de 2020 - "Não sou coveiro"
Ô, ô, ô, cara. Quem fala de... Eu não sou coveiro, tá?
Jair Bolsonaro, em resposta a um repórter
29 de março de 2020 - "Todos nós iremos morrer um dia"
Essa é uma realidade, o vírus está aí. Vamos ter que enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, p..., não como um moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida. Todos nós iremos morrer um dia.
Jair Bolsonaro, após passeio em Ceilândia (DF)
24 de março de 2020 - "Gripezinha"
Pelo meu histórico de atleta, caso eu fosse contaminado pelo vírus eu não precisaria me preocupar -- ou um 'resfriadinho' ou 'gripezinha', como disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão.
Jair Bolsonaro, em referência a Drauzio Varella e à TV Globo
Vacinação
Hoje, o presidente também comemorou a marca de 100 milhões de doses de vacinas contra a covid-19 distribuídas a estados e municípios. Mas, em outubro, ele chegou a desautorizar seu então ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, ao cancelar o acordo com o Instituto Butantan para a compra de doses da CoronaVac e dizer que "toda e qualquer vacina está descartada".
O tom se manteve em dezembro de 2020, quando Bolsonaro questionou os possíveis efeitos colaterais dos imunizantes, tomando como exemplo o da Pfizer/BioNTech. Na ocasião, ele afirmou não haver garantias de que a vacina não transformaria quem a tomasse em um jacaré — frase hoje muito usada por opositores para cutucá-lo.
2 de junho de 2021 - "Todos serão vacinados"
Neste ano, todos os brasileiros, que assim o desejarem, serão vacinados. Vacinas essas que foram aprovadas pela Anvisa.
17 de dezembro de 2020 - "Virar jacaré"
Lá no contrato da Pfizer, está bem claro: 'Nós [a Pfizer] não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral'. Se você virar um jacaré, é problema seu. (...) Se você virar Super-Homem, se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso.
Jair Bolsonaro, em discurso em Porto Seguro (BA)
10 de novembro de 2020 - "Mais uma que Bolsonaro ganha"
Morte, invalidez, anomalia. Esta é a vacina que o Doria queria obrigar a todos os paulistanos tomá-la. O presidente disse que a vacina jamais poderia ser obrigatória. Mais uma que Jair Bolsonaro ganha.
Jair Bolsonaro, em comentário no Facebook
21 de outubro de 2020 - "Vacina está descartada"
Toda e qualquer vacina está descartada. Tem que ter uma validade da Saúde e uma certificação por parte da Anvisa também.
Já mandei cancelar, o presidente sou eu, não abro mão da minha autoridade (...) Até porque estaria comprando uma vacina que ninguém está interessado nela, a não ser nós.
Jair Bolsonaro, após visita a instalações da Marinha em Itaperó (SP)
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