Governador do CE defende união de Lula e Ciro para 'salvar o Brasil'
Colaboração para o UOL
15/06/2021 12h07
Para o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), uma aliança entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-ministro Ciro Gomes (PDT) nas eleições presidenciais de 2022 é necessária para "tirar o Brasil de um caminho obscuro".
"O que tenho procurado defender e construir é que possamos estar juntos [em 2022]. Eu provoquei um encontro de Ciro e Lula em setembro do ano passado. Fazia anos que eles não se encontravam. Acredito que eles têm muito mais convergências do que divergências", disse o governador ao participar hoje do UOL Entrevista, conduzido pela apresentadora Fabíola Cidral e pelos colunistas Tales Faria e Josias de Souza.
Nomes fortes da esquerda, tanto Lula como Ciro são considerados potenciais candidatos na disputa pelo Planalto em 2022. Os dois romperam publicamente em 2018 e retomaram as relações no fim de 2020.
Recentemente, no entanto, o pedetista tem direcionado uma série de ataques a Lula —em entrevista ao jornal Valor Econômico, em maio deste ano, chamou o petista de "maior corruptor da história moderna brasileira". Lula, por sua vez, respondeu dizendo que adoraria dizer que Ciro é um amigo, "mas, infelizmente, ele não quer", disse o ex-presidente em seu Twitter.
Questionado sobre a declaração de Ciro, Santana afirmou que "nada é irreversível". "Precisamos acalmar os ânimos", disse.
Muitas vezes não concordo com Ciro. Ele sabe do meu posicionamento. Ciro é um dos mais inteligentes do país. Lula foi um dos melhores presidentes que país já teve. Eu vou continuar na crença e no diálogo para construir caminhos, para tirar Brasil desse caminho obscuro que enxergamos. Eu posso até ser pessoa que está sonhando, mas continuo acreditando que é possível construir caminhos para 2022.
Camilo Santana (PT), governador do Ceará, ao UOL Entrevista
Santana, que é filiado ao PT e também é aliado da família Ferreira Gomes no estado do Ceará, evitou cravar qual seria seu voto nas eleições do ano que vem caso tanto Ciro como Lula acabem sendo candidatos à Presidência.
"Teremos tempo para avaliar e vamos tentar conduzir processo. Seria da minha parte uma antecipação tomar lado A ou B. São duas pessoas que eu tenho maior respeito e precisamos conduzir o processo até 2022", disse.
Erros e autocrítica do PT
O governador cearense afirmou ainda acreditar que, ao longo dos governos do PT, houve muitos acertos, mas também uma série de erros que precisam ser reconhecidos. "Sempre defendi que o PT devia fazer autocrítica, se reinventar, redescobrir origens, buscar apostar em um projeto que seja de estado, e não político de quatro anos", declarou.
Para ele, ao mesmo tempo em que, nos governos petistas, o Brasil teve seu período de maior crescimento, "com reconhecimento internacional, geração de empregos, tirando gente da miséria", houve erros na política econômica.
"Poderia ter sido feito mais pela população mais pobre, poderia ter apoiado reformas do ponto de vista tributário", disse Santana, que defendeu uma reforma para tributação de patrimônios, por exemplo.
Candidatura ao Senado
Reeleito governador do Ceará em 2018, Santana deixou em aberto a possibilidade de disputar uma cadeira para o Senado em 2022.
"É claro que tem opções para avaliar, há perspectiva nesse sentido. Todas minhas decisões são coletivas. Se for importante pro Ceará, vamos avaliar essa candidatura", declarou.
Bolsonaro no poder
Na avaliação do governador cearense, no entanto, a vitória de Jair Bolsonaro (sem partido) nas eleições de 2018 deve ser avaliada a partir de uma soma de fatores. "Houve um movimento a nível mundial em relação ao crescimento da direita", disse Santana.
"Houve erros na condução de algumas políticas da presidente Dilma, depois de suceder governo Lula. Mas a política é cíclica, tem mudanças. E houve forte ataque ao PT, durante anos, principalmente depois da reeleição da presidente Dilma", afirmou.
Falta de transparência e coordenação nacional na pandemia
Para Santana, o governo Jair Bolsonaro tem falhado desde o início na condução da pandemia da covid-19, especialmente no que diz respeito a uma coordenação nacional de estados e municípios para o enfrentamento da doença.
"Poucas vezes a maior autoridade do país convocou governadores para debater ações nesse sentido. Essa falta de coordenação, a negação à vacina... Poderíamos ter vacinado mais brasileiros. Não é crítica política, individual, é crítica institucional. É contra a falta de liderança", declarou.
"Temos país beirando a 500 mil perdas de vidas. Isso é lamentável. Poderíamos estar mais avançados se não tivesse picuinhas políticas, como em São Paulo, com o [Instituto] Butantan", afirmou o governador, lembrando os entraves para a compra de doses da CoronaVac, produzida pelo Butantan em parceria com a chinesa Sinovac.
O governador disse ainda que o Ceará tentou comprar vacinas da Pfizer mas, segundo ele, não pôde porque a farmacêutica informou estar em negociação com o governo federal. As tratativas do governo Bolsonaro com a Pfizer foram marcadas por incertezas e atrasos.
"O governo federal não comprou [em 2020], nem permitiu que estados comprassem. Só comprou em 2021. A falta de coordenação tem prejudicado fortemente o enfrentamento da pandemia", afirmou Santana.