Postura de Bolsonaro favorece motins da polícia, diz governador do Ceará
O governador do Ceará, Camilo Santana (PT) afirmou hoje que o discurso e a postura do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) estimulam motins de policiais, como o deflagrado no ano passado em seu estado, e reações violentas como nos protestos antigoverno em Recife, no qual duas pessoas ficaram cegas após serem atingidas por bala de borracha nos olhos.
"Aqui, até pela reação forte que tivemos, será mais difícil, porém o clima liderado pela maior autoridade do país favorece essas ações, como aconteceu aqui no Ceará e em Pernambuco. Acho que o discurso e forma como ele age favorecem isso", declarou Santana em participação no UOL Entrevista, conduzido pela apresentadora Fabíola Cidral e pelos jornalistas Josias de Souza e Tales Faria.
De acordo com o governador, há lideranças dentro das polícias que são politizadas, defendem o governo Bolsonaro e estimulam indisciplina dos subordinados, o que poderia desencadear um movimento nacional como o visto no Ceará.
"Houve decepções grandes por parte de policiais em razão de medidas que o Congresso aprovou. Isso criou divisão nas expectativas sobre Bolsonaro. Mas há quadro de lideranças que defendem governo Bolsonaro e estimulam esse tipo de indisciplina, estimulam sindicalização, então há possibilidade de movimentos a nível nacional", afirmou.
Santana também defendeu uma mudança na lei para proibir que policiais filiados a partidos políticos e que disputem eleições possam seguir na corporação.
"É uma motivação que tenho colocado para o Congresso para rever a lei que permite policiais entrarem na política e voltarem para a corporação. Não é permitido nas Forças Armadas, nem no Ministério Público. Mas as leis da Constituição permitem que o policial saia para se candidatar. Nada contra, mas tem que fazer opção, ou faço parte da polícia ou da política", declarou.
Hoje, a legislação proíbe que um membro da ativa das Forças Armadas, do Ministério Público, dos Tribunais de Contas e integrantes do Poder Judiciário, como juízes e desembargadores, sejam filiados a partidos políticos. Em caso de filiação, eles devem se afastar das funções.
Possibilidade de golpe
Questionado se Bolsonaro poderia usar o apoio das polícias para tentar um golpe militar e se manter no poder, o governador respondeu que, se houve essa tentativa, será preciso uma reação forte do governo estadual para garantir respeito às instituições.
"O que posso dizer é que, se houver essa tentativa, temos que reagir fortemente e garantir respeito às instituições. Sou filho de homem torturado na ditadura. Pessoas morreram lutando por liberdade de expressão. Brasileiros que acreditam na democracia temos que reagir a isso e não aceitaremos essa atitude do presidente", disse.
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