EUA: Preso é morto mesmo após juiz pedir para governador conceder clemência
Do UOL, em São Paulo
04/11/2024 22h40Atualizada em 04/11/2024 22h40
O preso Richard Moore, de 59 anos, condenado à morte na Carolina do Sul, nos Estados Unidos, recebeu uma injeção letal na sexta-feira (1º). A execução ocorreu mesmo após três jurados, o próprio juiz que o julgou, em 1999, e outras pessoas pedirem que o governador do estado, o republicano Henry McMaster, concedesse clemência ao preso e alterasse a pena dele para perpétua sem liberdade condicional.
O que aconteceu
A aplicação da injeção letal estava prevista para ocorrer às 18h (20h no horário de Brasília). Moore foi declarado morto 24 minutos depois. Ele teve duas datas de execução adiadas anteriormente e, em abril de 2022, optou por ser executado pelo pelotão de fuzilamento em vez da cadeira elétrica — na época, a injeção letal não era uma opção.
Em carta, McMaster não explicou porque se recusou a conceder clemência ao preso. Ele apenas informou que revisou todas as informações enviadas pela defesa de Moore e falou com a família da vítima, conforme a AP (Associated Press). Apesar das solicitações, nenhum governador da Carolina do Sul jamais reduziu a pena de morte de um condenado.
Dois membros da família da vítima, o balconista James Mahoney, acompanharam a execução. O advogado Barry Barnette, que fez parte da equipe de acusação que condenou Moore, também estava no local.
Em entrevista coletiva, uma porta-voz da prisão leu as últimas palavras do preso. "À família do Sr. James Mahoney, lamento profundamente a dor e a tristeza que causei a todos vocês", disse. "Aos meus filhos e netas, amo vocês e tenho muito orgulho de vocês. Obrigado pela alegria que trouxeram à minha vida. A toda a minha família e amigos, novos e antigos, obrigado pelo amor e apoio."
A última refeição de Moore incluiu diversos alimentos. Entre eles, bife malpassado, peixe e camarão fritos, batatas gratinadas, ervilhas, brócolis com queijo, torta de batata-doce, bolo de chocolate e suco de uva.
Pedidos ao governador
Três jurados que condenaram Moore à morte em 2001 enviaram cartas pedindo que o governador mudasse a sentença. Além deles, os outros pedidos vieram de um ex-diretor da prisão estadual onde o condenado ficou, o juiz de primeira instância que condenou Moore, os filhos dele, alguns amigos de infância e vários pastores.
O filho de Moore, Lyndall, e os advogados do preso argumentavam que o condenado era o único negro no corredor da morte no estado a ter sido condenado por um júri composto exclusivamente por brancos. Eles também reforçaram que, se fosse executado, Moore seria o primeiro no estado nos tempos modernos a ser condenado à morte por uma ocorrência onde estava desarmado inicialmente e depois reagiu para se defender quando foi ameaçado.
Eles também afirmaram que o condenado era um homem diferente e que amava Deus. Além disso, segundo os relatos, Moore adorava os netos, ajudava os agentes penais a manter a ordem na unidade prisional e orientava os outros presos sobre os malefícios do consumo de drogas.
Antes da execução, o governador disse que revisaria tudo cuidadosamente. Todavia, reforçou que, como feito tradicionalmente no estado, anunciaria a sua decisão minutos antes do horário marcado para a morte e após confirmar que todos os recursos feitos pela defesa do condenado foram concluídos.
"Ele não era um perigo para ninguém, e o estado eliminou um exemplo brilhante de reforma e reabilitação." O escritório de advocacia Justice 360, que representava Moore, ainda acrescentou: "Ao matar Richard, o estado também criou mais vítimas. Os filhos de Richard agora estão sem pai, e seus netos terão que crescer sem seu 'Pa pa'".
Esta execução ressalta as falhas no sistema de pena de morte da Carolina do Sul. Quem é executado versus quem tem permissão para viver o resto de suas vidas na prisão parece ser baseado em nada mais do que acaso, raça ou status. É intolerável que nosso estado aplique a punição máxima de forma tão aleatória.
Escritório de advocacia Justice 360
No início de 2011, a Carolina do Sul tinha 63 presos condenados ao corredor da morte. Hoje tem 30, segundo a AP. Cerca de 20 presos saíram do corredor após receberem novas sentenças de prisão após apelações bem-sucedidas. Outros morreram de causas naturais.
O crime
Richard Moore estava no corredor da morte desde 2001. Ele foi condenado pelo assassinato de James Mahoney, 40, funcionário de um supermercado, durante um assalto em 1999, na cidade de Spartanburg, na Carolina do Sul.
Moore entrou no estabelecimento desarmado para roubar. Em determinado momento, o funcionário sacou duas armas. Entretanto, o assaltante conseguiu pegar uma das armas da vítima, e eles trocaram tiros. Moore foi ferido no braço, enquanto Mahoney morreu com um disparo no peito.
O ladrão não acionou o socorro médico após o tiroteio. Gotas de sangue foram encontradas sobre a vítima e as autoridades apontaram que elas mostravam que Moore, mesmo ferido, ainda passou por cima do funcionário e roubou o dinheiro do caixa do local.