Diretor da Prevent nega ter omitido mortes e acusa médicos de alterar dados
Hanrrikson de Andrade e Thaís Augusto
Do UOL, em Brasília e em São Paulo
22/09/2021 11h57Atualizada em 22/09/2021 14h48
O diretor-executivo da Prevent Senior, Pedro Benedito Batista Júnior, negou hoje que a empresa tenha omitido mortes de pacientes que participaram de estudo para testar a eficácia de medicamentos do chamado "kit covid". Ele presta depoimento hoje à Comissão Parlamentar de Inquérito.
Aos senadores, Batista Júnior disse que os óbitos que não aparecem no relatório oficial aconteceram após o encerramento do estudo. "Tanto não há omissão que os números de notificação de covid na Vigilância Sanitária estão todos aí para os senhores poderem apreciar e poderem avaliar", afirmou.
Na CPI da Covid, o diretor da Prevent Senior também disse que a empresa foi prejudicada por ex-funcionários que teriam, segundo ele, feito a manipulação e divulgação indevida de dados de pacientes em relação à aplicação do chamado "kit covid".
Essa é a versão principal de defesa da Prevent Senior quanto às suspeitas investigadas pela CPI, no Senado Federal. O Parlamento apura se a operadora de saúde pressionou seus médicos a receitar, para fins de um estudo interno, o "kit covid" —composto por medicamentos sem eficácia no tratamento da doença (como hidroxicloroquina, ivermectina, azitromicina e outros).
"Ex-médicos da Prevent manipularam dados de uma planilha interna de acompanhamento de pacientes para tentar comprometer a operadora. Os profissionais, já desligados, passaram a acessar e editar o documento, culminando no compartilhamento da planilha com a advogada em 28 de agosto", disse o executivo.
Batista Júnior declarou ainda que, desde o início da pandemia, a operadora de saúde "vem sofrendo acusações infundadas".
O dossiê elaborado a partir de denúncias de médicos, documento ao qual a CPI teve acesso, aponta que alguns pacientes citados no estudo sequer consentiram com a prescrição do kit covid.
Os documentos também indicam que a Prevent Senior ocultou mortes de pessoas que tomaram o kit covid para comprovar a eficácia dos medicamentos contra a covid.
De acordo com os relatos, a empresa se alinhou ao discurso de Jair Bolsonaro (sem partido) e do governo federal.
Na contramão da ciência, o governante tem sido entusiasta desde o começo da pandemia do uso de remédios como a hidroxicloroquina no enfrentamento à covid-19 — ontem, na Assembleia Geral da ONU, o presidente voltou a defender o falso tratamento precoce com esses medicamentos.