Alesp: Tire meu nome de suas justificativas, diz Isa Penna a Arthur do Val
Leonardo Martins e Pedro Vilas Boas
Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo
12/04/2022 16h49Atualizada em 12/04/2022 18h07
A deputada estadual Isa Penna (PCdoB-SP) defendeu hoje (12) a cassação do deputado estadual Arthur do Val (União Brasil-SP). Ela falou durante sessão do Conselho de Ética da Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo), que aprovou, por unanimidade, o relatório que indica a cassação de Do Val. Penna não faz parte do colegiado, mas participou da reunião. O processo ainda precisa passar pelo plenário (leia mais abaixo).
A cassação de Arthur do Val não vai me deixar com sensação negativa, pelo contrário, vai lavar minha alma, porque essa Assembleia Legislativa vai abrir precedente: violência contra mulher é passível de cassação."
Isa Penna (PCdoB-SP), deputada estadual
"Todos vocês são testemunha de quanto lutei pela cassação de Fernando Cury. É injusto que não tenha sido cassado, mas a injustiça é comigo, com mulheres, não com Arthur do Val. Portanto, tire meu nome, a violência que passei, das suas justificativas públicas e jurídicas", disse a deputada.
Do Val tem usado como argumento jurídico em sua defesa comparações com o caso de Fernando Cury que, após apalpar Isa Penna, teve seu mandato suspenso por seis meses —e não foi cassado. Para ele, a extinção do seu mandato é uma pena excessiva.
Quem foi injustiçada fui eu, que sofri a violência e sofro até hoje convivendo com o homem que me assediou. Até hoje encontro meu assediador nos corredores da Assembleia Legislativa. A responsabilidade agora é de fazer história."
Isa Penna (PCdoB-SP), deputada estadual
Ao menos quatro ucranianas e descendentes ficaram na mesma sala, acompanhando a reunião do Conselho de Ética. "Sensação de raiva", afirmou a fundadora do Clube Eslavo, a ucraniana naturalizada brasileira Snizhana Maznova, 44, quando questionada pela reportagem sobre o que estava sentindo.
Do lado de fora da sala, um grupo formado quase que exclusivamente por homens fazia barulho, em apoio a Do Val. Aos gritos de "Não, não, não, não à cassação", eles seguravam cartazes e faixas pedindo redução da pena para Do Val. Do lado de fora da Casa, eles deixaram um carro de som na frente da assembleia.
Votação no Conselho de Ética
A decisão do Conselho será remetida ao plenário da Alesp, onde os parlamentares decidirão se concordam ou não com a pena aprovada pelo órgão.
O processo contra Do Val foi aberto depois da divulgação de áudios sexistas e misóginos que ele enviou a amigos. Nas gravações, ele afirma que as mulheres ucranianas "são fáceis porque são pobres".
O deputado reconheceu as frases como "repulsivas" e "grotescas", mas, à Alesp, a defesa dele alegou que o parlamentar enviou os áudios a grupos privados, que estava licenciado do cargo e em outro país.
No discurso no Conselho de Ética, Do Val começou pedindo desculpas às ucranianas, mas passou a maior parte do tempo criticando os parlamentares. "A verdade é que todos aqui me odeiam, não nego isso", afirmou. "Todo mundo sabe que o que está acontecendo não é pelo o que eu disse, é por quem disse."