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Ucranianas pressionam votação contra Do Val na Alesp: "Defender dignidade"

Ucranianas e descendente na Alesp para acompanhar sessão que votará parecer que indica cassação de Arthur do Val - Leonardo Martins/UOL
Ucranianas e descendente na Alesp para acompanhar sessão que votará parecer que indica cassação de Arthur do Val Imagem: Leonardo Martins/UOL

Leonardo Martins e Pedro Vilas Boas

Do UOL e colaboração para o UOL, em São Paulo

12/04/2022 15h35Atualizada em 12/04/2022 18h31

Ucranianas e uma descendente acompanharam hoje (12) a sessão do Conselho de Ética, na Alesp (Assembleia Legislativa de São Paulo). Os parlamentares aprovaram, por unanimidade, o parecer que recomenda a cassação do mandato do deputado Arthur do Val (União Brasil).

"Eu quero defender a dignidade das mulheres ucranianas. Estão sendo matadas, estupradas; crianças são estupradas; elas estão correndo para fora da Ucrânia para países em que não conhecem ninguém, não conhecem língua, não têm dinheiro, apartamento", disse ao UOL Myroslavia Moroz, 37. "Elas são fáceis? Para alguém que quer se aproveitar, sim", acrescentou.

O processo foi aberto depois da divulgação de áudios sexistas e misóginos que ele enviou a amigos. Nas gravações, Do Val afirma que as mulheres do país em guerra "são fáceis porque são pobres".

Ele chegou a reconhecer as frases como "repulsivas" e "grotescas", mas, à Alesp, a defesa alegou que o parlamentar enviou os áudios a grupos privados, que estava licenciado do cargo e em outro país.

Myroslavia Moroz, 37, ucraniana, foi à Alesp acompanhar sessão do Conselho de Ética - Leonardo Martins/UOL - Leonardo Martins/UOL
Myroslavia Moroz, 37, ucraniana, foi à Alesp acompanhar sessão do Conselho de Ética
Imagem: Leonardo Martins/UOL

Fundadora do Clube Eslavo, a ucraniana naturalizada brasileira Snizhana Maznova, 44, desabafou: "Sensação de raiva. Ainda esses homens gritando lá [apoiadores do lado de fora da sessão do conselho]. O que homens e mulheres refugiadas do Brasil vão pensar?".

Ela se referia a um grupo de apoiadores de Do Val que permaneceu no corredor da Alesp, gritando e dando socos na parede, que ecoavam dentro da sala onde ocorria a sessão do conselho. Havia mulheres entre os manifestantes, mas a maioria era formada por homens.

Aos gritos de "Não, não, não, não à cassação" e "Fica, Arthur", seguravam cartazes e faixas pedindo redução da pena para o parlamentar. Na rua, cerca de cem pessoas se reuniram. Elas deixaram um carro de som na frente da assembleia.

Eles foram convocados no último fim de semana por Arthur do Val para o apoiarem nesse dia de votação

Vídeo com depoimento

Membros do conselho e outros deputados falaram durante a sessão. De direita ou de esquerda, todos criticaram Do Val e alguns deles disseram frases de apoio às mulheres ucranianas presentes.

"Tive sentimento de asco [ao ouvir o áudio. Não dá para imaginar que uma pessoa dessa possa ter contato com qualquer menina, moça, adolescente, que cruze o caminho desse rapaz", disse a deputada Valéria Bolsonaro (PSL). "Quero me solidarizar com todas as ucranianas. Essa pessoa não representa a mim em absolutamente nada."

A deputada Isa Penna (PCdoB), vítima de assédio sexual dentro do plenário da Alesp, pediu para que Do Val não use seu caso nos argumentos jurídicos. O deputado Fernando Cury (sem partido), que foi filmado apalpando a parlamentar, teve seu mandato suspenso por seis meses —e não foi cassado.

"Todos vocês são testemunha de quanto lutei pela cassação de Fernando Cury. É injusto que não tenha sido cassado, mas a injustiça é comigo, com mulheres, não com Arthur do Val. Portanto, tire meu nome, a violência que passei, das suas justificativas públicas e jurídicas", afirmou.

Quase no fim da sequência de fala dos parlamentares, a deputada Monica Seixas (Psol) exibiu um vídeo em que a ucraniana Myroslavia Moroz leu um texto.

Algumas mulheres ucranianas escolhem o Brasil como país seguro para estar. Mas será que estão seguras aqui, se os homens brasileiros acham que elas são fáceis?"
Myroslavia Moroz, em gravação exibida pela deputada Monica Seixas

"Não toleramos nenhuma ofensa ou humilhação dos nossos compatriotas. Não toleramos nenhuma ofensa ou humilhação com nenhuma mulher, seja ela ucraniana ou de outra nacionalidade", diz o texto.

Apoiadores de Arthur do Val em frente da Alesp, para acompanhar sessão do Conselho de Ética - Leonardo Martins/UOL - Leonardo Martins/UOL
Apoiadores de Arthur do Val em frente da Alesp, para acompanhar sessão do Conselho de Ética
Imagem: Leonardo Martins/UOL

Sessão pode indicar cassação de mandato de Arthur do Val

A sessão do Conselho de Ética da Alesp começou com uma confusão envolvendo a presidente do colegiado, Maria Lúcia Amary (PSDB), e a deputada Isa Penna (PCdoB), que não faz parte do grupo, protestou. Amary convocou uma reunião reservada entre os membros do conselho e Do Val; Penna protestou.

Houve votação entre os membros do colegiado —a maioria (oito de 11 votos) escolheu pela não realização desta conversa reservada e, então, não houve reunião. A motivação dessa reunião não foi apresentada.

Por unanimidade, os deputados aprovaram o regime de urgência para o trâmite do processo —que começou em 8 de março, segundo Amary.

O parecer foi entregue na semana passada pelo relator, o deputado estadual Delegado Olim (PP-SP). Os deputados podem votar em consenso ou em separado, explica a presidente do colegiado, deputada Maria Lúcia Amary (PSDB). O voto em separado abre a possibilidade de outros parlamentares pedirem uma revisão da punição, apesar do posicionamento do relator. Após a votação no Conselho, o processo será encaminhado ao plenário da assembleia.

Por se tratar de uma possível perda de mandato, o resultado segue para a Mesa Diretora da Alesp, que comanda as atividades administrativas e parlamentares. Ela é composta por três deputados (presidente, primeiro e segundo secretários) e dará o aval para o caso seguir ao plenário.

Não há previsão de quando ocorrerá a votação em plenário.