Topo

Rosa é eleita presidente do STF e diz que defenderá soberania da democracia

do UOL, em Brasília

10/08/2022 15h28

A ministra Rosa Weber foi eleita nesta quarta-feira (10) presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), sucedendo a Luiz Fux a partir de 12 de setembro. Discreta e avessa aos holofotes, a magistrada comandará a Corte em um dos momentos mais conturbados de sua história recente, que enfrenta ataques diretos do Planalto em meio às eleições.

O ministro Roberto Barroso, um dos alvos preferenciais do presidente Jair Bolsonaro (PL), assumirá a vice-presidência do STF na gestão de Rosa.

Em discurso logo após a votação, Rosa disse que, apesar da eleição interna ser uma praxe, uma vez que os ministros sempre escolhem o integrante mais antigo do tribunal que ainda não passou pela presidência, o ato não ofusca a "simbologia" da transição.

Nestes tempos tumultuados que estamos vivendo, o exercício deste cargo é um imenso desafio, como Vossa Excelência, ministro Fux, pode atestar. Mas vou procurar desempenhá-lo com toda a serenidade e com a certeza do apoio de Vossas Excelências, que para mim será fundamental. E sempre na defesa, na integridade e na soberania da Constituição e do regime democrático"
Rosa Weber, presidente eleita do STF

Rosa também afirmou que a eleição da presidência, embora seja uma tradição, é uma "honra inexcedível" para ela, que fez carreira no Judiciário nos últimos 46 anos. A futura presidente também elogiou Barroso, que será o seu vice, como um ministro "generoso, competente e amigo".

Institucional, o discurso de Rosa reflete o que é esperado de sua gestão à frente do STF. Para integrantes do Supremo ouvidos pelo UOL em caráter reservado, Rosa Weber não deverá fugir ao seu estilo discreto após a posse, marcada para o dia 12 de setembro.

A cerimônia, que originalmente seria no dia 10, foi adiada para evitar a proximidade com os atos de 7 de setembro.

Segundo os interlocutores, a ministra buscará afastar o STF do centro das discussões políticas e tentará "submergir" o tribunal durante sua gestão, que será mais breve que a dos antecessores. Como completará 75 anos em outubro de 2023, ela terá pouco mais de um ano no cargo até se aposentar compulsoriamente.

Ministros consultados pelo UOL avaliam que a postura discreta de Weber pode ser benéfica, para evitar colisões desnecessárias com o Planalto durante as eleições. Mas também é dito que a ministra, assim como o atual presidente Luiz Fux, não tem manejo para articulações políticas, o que pode levar dificuldades à Corte nos bastidores.

"A ministra Rosa é seríssima, discreta, extremamente competente e equilibrada. Prudente nas decisões e no uso das palavras. Considero uma sorte para o Brasil tê-la à frente do Supremo neste momento", disse Barroso ao UOL, um dos ministros mais próximos de Rosa Weber no STF.

Trabalho até na praia

Pessoas próximas de Rosa Weber, em âmbito profissional e familiar, descrevem a ministra como estudiosa, austera e quase obsessiva com o trabalho. O advogado e pecuarista José Roberto Weber, irmão mais velho de Rosa, contou ao UOL que ela costumava trabalhar até na praia, durante as férias, quando ainda era juíza do trabalho no Rio Grande do Sul.

Quando ela ainda morava aqui, a gente passava os verões juntos. Íamos com a nossa mãe, os sobrinhos, minha mulher e os meus filhos. Ela levava processos para despachar na praia! Chegava com um carrinho cheio de processos. E a gente brincava: mas o que é isso? Vem para a praia para trabalhar?"
José Roberto Weber, irmão de Rosa Weber

Nascida em Porto Alegre, em 2 de outubro de 1948, Weber é filha de um médico pneumologista e de uma pecuarista. Ela é casada com Telmo Candiota da Rosa Filho, procurador aposentado do RS, e tem dois filhos, Demétrio (jornalista) e Mariana (produtora cultural).

Formada em direito pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul), assim como o irmão, a ministra cursou o primeiro grau e o antigo ginásio em escolas tradicionais da capital gaúcha.

"Ela estudou sempre em colégios diferenciados de Porto Alegre, onde a aula era de manhã e de tarde, então não sobrava muito tempo para hobbies. Ela não tinha pendores artísticos, nem esportivos, e levava uma vida muito caseira. O negócio dela era estudar", descreve José Roberto.

Os irmãos foram contemporâneos na faculdade e José Roberto conta ter estudado com Ellen Gracie, primeira mulher a assumir uma cadeira no STF, décadas mais tarde. Foi justamente a vaga dela que Rosa Weber ocupou, em 2011, após ser escolhida pela então presidente Dilma Rousseff entre mais de dez candidatas.

Posse de Rosa Weber, em 19 de dezembro de 2011  - Fellipe Sampaio/SCO/STF  - Fellipe Sampaio/SCO/STF
Posse de Rosa Weber, em 19 de dezembro de 2011
Imagem: Fellipe Sampaio/SCO/STF