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'Pobreza no Brasil tem cor', diz Itamar Vieira Junior, autor de Torto Arado

Do UOL, em São Paulo

09/05/2023 18h03Atualizada em 09/05/2023 18h35

O escritor Itamar Vieira Junior disse que a democracia no Brasil "não existe", mas que o país tem "um projeto" e que a pobreza e a desigualdade no país caminham juntas e "tem cor". O autor do sucesso 'Torto Arado', que agora lança 'Salvar o Fogo', foi o convidado de hoje do UOL Entrevista, com Jamil Chade e Juliana Monteiro.

Gosto de pensar que a gente tem trabalhado intensamente para que essa democracia se concretize. (...) A democracia é um projeto e não desistimos dela. E abraçamos para que a gente possa falar de uma democracia consolidada, quem sabe daqui uma ou duas gerações. E preciso acreditar nisso para levantar da cama todos os dias.
Itamar Vieira Junior, escritor

Abolicionistas não queriam só a 'liberdade'

Para o escritor, a terra e o território são também uma "extensão do corpo humano" e determinantes na história da humanidade. Ele diz que cita as questões que circundam este direito nos seus livros porque fazem parte dos "grandes conflitos no mundo". Itamar ainda ressaltou que no Brasil "a pobreza tem cor" e que as desigualdades no Brasil são atravessadas por tudo isso.

Os abolicionistas do século 19, quando lutavam pela liberdade dos escravizados, eles não queriam só a 'liberdade'. Para eles, era um conceito maior. Eles queriam que a abolição viesse acompanhada de uma reforma agrária, que não foi feita naquele momento, e em nenhum momento da nossa história foi realizada de uma maneira efetiva. [...] Ninguém pode ter dignidade humana se não tem o teto, e o chão da sua casa para pisar. Ninguém pode ter dignidade humana se deseja ter terra para plantar e vive errante, de um lugar para o outro, porque não tem esse direito.

'Decreto da abolição sendo escrito'

Para o escritor, "o decreto da abolição" também ainda está sendo escrito. Itamar citou a Lei de Cotas, a regulamentação do trabalho doméstico, bem como a demarcação de territórios quilombolas — que, segundo ele, ainda é "muito aquém do necessário".

Com muita paciência, tivemos muitos avanços nos últimos anos. Se naquele momento não foi feita a reforma agrária, que deveria ter sido feita e abandonou as pessoas à própria sorte, nos últimos 30 anos tivemos a regularização de territórios quilombolas (...) Tudo isso se soma àquele decreto inicial que foi insuficiente para que a gente de fato pudesse prosperar. [...] Eu não falo muito do Estado, mas eu estou falando da sociedade civil, dos movimentos sociais organizados. Imagine que todos os avanços civilizatórios que tivemos foi pós-ditadura militar, a partir dos anos 1990.

Compromisso com a democracia

O escritor também entende que, apesar de termos avançado no compromisso com a democracia, ela só será de fato consolidada "quando as desigualdades forem mitigadas" e todos possam ter acesso à educação, saúde e direitos igualitários, sem distinção por cor e origem.

Temos uma geração que saiu da universidade, que teve acesso pela Lei de Cotas, pessoas que estão ajudando a pensar nosso país. E essas pessoas têm um compromisso muito firme com o nosso país.

Veja a íntegra do UOL Entrevista