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Torres pediu ação da PF em cidades específicas no 2º turno, diz jornal

Então ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres tentou ajudar o então presidente a se reeleger; para isso, teria usado a PRF - Alan Santos/PR
Então ministro da Justiça de Jair Bolsonaro, Anderson Torres tentou ajudar o então presidente a se reeleger; para isso, teria usado a PRF Imagem: Alan Santos/PR

Do UOL, em São Paulo

23/05/2023 19h18Atualizada em 23/05/2023 19h18

Ex-superintendente da PF (Polícia Federal) na Bahia, o delegado Leandro Almada disse em depoimento à Polícia Federal ter sido orientado pelo ex-ministro da Justiça Anderson Torres a aumentar a fiscalização no dia do 2º turno das eleições de 2022 em cidades específicas, segundo o jornal O Globo.

O que aconteceu:

Acompanhado do então diretor-geral da PF, Márcio Nunes, Anderson Torres teve uma reunião com Almada e justificou o pedido baseando-se em "desconfiança de compra de voto, de uma suposta anormalidade na Bahia", disse Almada, ouvido em investigação sobre atuação a PRF (Polícia Rodoviária Federal), sob ordens de Torres, em favor de Jair Bolsonaro durante o 2º turno da eleição presidencial.

O ex-ministro teria repassado uma lista com municípios onde a PF deveria atuar prioritariamente. No depoimento, Almada se comprometeu a enviar a listagem aos investigadores. Torres teve acesso a um documento constando cidades onde Lula teve mais votos que Bolsonaro.

A hipótese levantada por Torres e Nunes para a "anormalidade" era de que "facções criminosas em Salvador estariam nitidamente apoiando candidato do PT", afirmou o delegado.

Em contraponto, Almada relatou aos dois superiores que a PF "já tinha visto que [a hipótese] era uma fake news" que "não procede". Os boatos sobre a intimidação teriam surgido após o 1º turno, com base em um áudio de um suposto traficante que usava uma estrela do PT, disse o delegado.

Almada disse ter recebido uma "sugestão" para que a PF atuasse com a PRF no dia da votação, o que ele considerou "inadequado" e não colocou em prática. Por outro lado, acolheu a sugestão para que 100% do agentes trabalhassem no dia do 2º turno.

A gente foi informado, sim, que tinha algumas localidades especificamente, não sei se em função do número de eleitores ou pela cobertura da cidade, enfim. Houve sim, foi encaminhada uma sugestão de cidades para que fosse reforçado [o policiamento]".
Leandro Almada, delegado da PF

Blitze no 2º turno

Um efetivo extra da PRF foi usado em fiscalizações principalmente em regiões do Norte e Nordeste, em redutos eleitorais de Lula, durante o 2º turno das eleições de 2022. Um documento obtido com exclusividade pelo UOL revelou que a corporação pagou mais agentes de folga nessas localidades.

As ações teriam o intuito de evitar possíveis crimes eleitorais, justificou a PRF. Na prática, contudo, elas serviram para afetar o transporte de eleitores, gratuito em várias cidades naquele dia.

O STF havia proibido operações atrapalhassem o trânsito dos eleitores. Então comandada pelo diretor-geral Silvinei Vasques, apoiador assumido de Jair Bolsonaro, a PRF descumpriu a ordem e realizou centenas de bloqueios, com inspeção de vans e ônibus, principalmente no Nordeste.