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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Por que Cid respondeu sobre joias e calou sobre a fraude nas vacinas

18.jun.2019 - Mauro Cid, então ajudante de ordens, conversa com Bolsonaro após uma reunião no Palácio do Planalto - 18.jun.2019 - Adriano Machado/Reuters
18.jun.2019 - Mauro Cid, então ajudante de ordens, conversa com Bolsonaro após uma reunião no Palácio do Planalto Imagem: 18.jun.2019 - Adriano Machado/Reuters

Colunista do UOL

23/05/2023 17h29

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O tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL), optou por estratégias muito diferentes ao enfrentar os depoimentos da PF (Polícia Federal) em dois inquéritos diferentes onde é investigado. Ele responde ao caso que apura a entrada ilegal das joias sauditas no Brasil e ainda ao inquérito que apura a falsificação do cartão de vacinação do ex-presidente, sua filha e até de Cid e seus familiares.

O que a coluna apurou é que Cid avalia que, no caso das joias, ele simplesmente cumpriu ordens de Bolsonaro e o fez de modo oficial por meio de ofícios.

Para Cid, há modos de se defender e ele não se vê como o pivô do caso. A situação é completamente oposta na investigação sobre a falsificação de dados das carteiras de vacinação.

Por isso, no primeiro inquérito, o das joias, ele optou por responder aos quesitos dos investigadores nos dois depoimentos em que prestou. Já no caso da falsificação das carteiras de vacinação, Cid decidiu ficar em silêncio. Neste último, Cid teve a prisão decretada na Operação Venire, no dia 3 de maio.

Além disso, Gabriela Cid, a mulher do militar, admitiu à PF o uso de documento falso e acusou seu marido de ser o responsável. Nos bastidores, comenta-se que ela tentará um acordo de não persecução penal e irá colaborar com as investigações. Por isso, decidiu responder aos questionamos dos policiais.

Tudo isso foi combinado com os advogados que também atendem Cid. É um modo de o tenente-coronel tentar proteger a mulher e assumir a culpa sozinho, sem atingir sua família.

No entanto, desde a troca de advogados, com a saída de Rodrigo Roca, defensor também do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), e a chegada dos advogados Bernardo Fenelon e Bruno Buonicore, as defesas de Cid e de Jair Bolsonaro estão distantes. Uma delação, no momento, não é nem sequer cogitada, mesmo que Fenelon seja especializado em acordos desse tipo.

Apesar disso, no entorno de Jair Bolsonaro há muita apreensão com a distância que os novos advogados tomaram e com o modo como o caso irá caminhar nas próximas semanas.

As apreensões dos celulares e documentos levaram os investigadores a outras provas de outros inquéritos, como o que apura os atos golpistas de 8 de janeiro. Tudo ainda está bem longe do fim e outros personagens podem surgir no enredo dessa história que tem como protagonista ele, sempre ele, Jair Bolsonaro.