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Bolsonaro e o hacker: Saiba o que Walter Delgatti falou sobre ex-presidente

Do UOL, em São Paulo

17/08/2023 14h54Atualizada em 17/08/2023 14h55

Durante depoimento à CPI que investiga os acontecimentos do dia 8 de janeiro, o hacker Walter Delgatti declarou que o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) teria oferecido a ele um indulto em troca de suas tentativas de manipular as urnas eletrônicas e minar a integridade das eleições. Delgatti falou ainda ter recido a sugestão de participar de escutas ilegais envolvendo Alexandre de Moraes. Ele alega ter se reunido com Bolsonaro no Palácio do Alvorada e depois ter ido ao Ministério da Defesa para discutir detalhes técnicos.

No decorrer do depoimento, Delgatti ressaltou que foi contatado pela deputada Carla Zambelli (PL-SP), que intermediou encontros entre ele, o presidente do PL Valdemar Costa Neto, Duda Lima (responsável pelo marketing da campanha de Bolsonaro em 2022) e Jair Bolsonaro, que estava concorrendo à reeleição. Durante essas reuniões, teriam discutido um plano para tentar comprovar que as urnas eletrônicas eram suscetíveis a fraudes.

Segundo o relato de Delgatti, Bolsonaro afirmou que não possuía conhecimento técnico sobre o sistema eleitoral e pediu que ele se comunicasse com o ministro da Defesa. O hacker também afirmou que Bolsonaro agradeceu e garantiu um indulto como forma de recompensa.

Delgatti, conhecido como o "hacker da Vaza Jato", estava sob medidas cautelares após invadir dispositivos de membros do Ministério Público, obtendo acesso a mensagens do ex-juiz da Operação Lava Jato, Sergio Moro (hoje senador), e do ex-procurador da República e deputado cassado, Deltan Dallagnol.

Além da promessa de indulto, Delgatti afirmou que lhe foi oferecida uma oportunidade de emprego por Carla Zambelli, que o contratou para trabalhar em seu site e redes sociais. Entretanto, devido a uma decisão do ministro Alexandre de Moraes do STF, as contas de mídia social de Zambelli foram suspensas, resultando na não renovação do contrato de Delgatti.

O depoimento também detalha a tentativa de incriminar o ministro Alexandre de Moraes, onde Bolsonaro teria sugerido que Delgatti assumisse a autoria de um grampo ilegal que já teria sido realizado no telefone do ministro.

Quanto ao plano que teria sido proposto pela campanha de Bolsonaro e o PL, inicialmente Delgatti seria o garoto-propaganda da campanha. Quando esse plano não se concretizou, a ideia evoluiu para gravar um vídeo que supostamente mostraria a falibilidade das urnas eletrônicas. Delgatti afirmou que o esquema envolveria a utilização de uma urna emprestada pela OAB, na qual ele inseriria um aplicativo de sua autoria para demonstrar que era possível alterar votos. Esse plano teria sido apoiado por Bolsonaro e Duda Lima.

Delgatti afirmou que os funcionários do Ministério da Defesa se esforçavam para memorizar o código-fonte e outros pormenores do sistema eleitoral, a fim de compartilhá-los com ele.

"A ideia inicial era que eu inspecionar o código fonte e apenas os servidores da Defesa tinham acesso. Eles acabavam decorando o pedaço do código e me repassando. Eu dei orientações [a eles]", explicou Delgatti.

As propostas teriam sido abandonadas após a divulgação na mídia da reunião com a cúpula da campanha de Bolsonaro.

Grampo de Moraes

Em outro momento, Delgatti afirmou que Zambelli teria intermediado uma ligação entre ele e Bolsonaro. Durante essa conversa, o ex-presidente teria mencionado um grampo envolvendo o ministro Alexandre de Moraes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Bolsonaro teria solicitado que o hacker assumisse a autoria desse ato ilícito.

Segundo Delgatti, essas gravações conteriam diálogos comprometedores do ministro. Delgatti esclareceu que Bolsonaro não lhe ordenou que fizesse o grampo em Moraes, mas sim que confessasse a autoria de um grampo que já teria ocorrido. Ele afirmou que, de acordo com a informação que possui, o ministro já estaria sob escuta. "Naquela ocasião, o grampo já estava em vigor", relatou Delgatti, mencionando que Bolsonaro havia indicado a existência de uma escuta concluída naquela data.

O que dizem os citados

Preso desde o início de agosto, Delgatti é acusado de participar de um ataque contra o sistema do CNJ (Conselho Nacional de Justiça) para emitir um falso pedido de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Ele está preso desde o início de agosto.

Segundo o advogado dele, Ariovaldo Moreira, o hacker teria recebido R$ 40 mil da deputada Carla Zambelli (PL-SP) em pagamentos pelos serviços de hacker. A parlamentar teria feito depósitos que chegam a R$ 14 mil e o restante do valor foi feito em espécie.

Ela nega as acusações. A defesa dela diz que "somente se manifestará após integral conhecimento do conteúdo dos autos". "Novamente refuta e rechaça qualquer acusação de prática de condutas ilícitas e ou imorais pela parlamentar, inclusive, negando as aleivosias e teratologias mencionadas pelo senhor Walter Delgatti."

Observa-se que citada pessoa, como divulgado em diversas reportagens usa e abusa de fantasias em suas palavras. Suas versões mudam com os dias, suas distorções e invenções são recheadas de mentiras, bastando notar que a cada versão, ele modifica os fatos, o que é só mais um sintoma de que a sua palavra é totalmente despida de idoneidade e credibilidade.
Daniel Bialski, advogado de defesa de Carla Zambelli

O PL, o Exército e Bolsonaro também foram procurados, mas ainda não se manifestaram.

O marqueteiro Duda Lima se disse indignado e negou o encontro: "Nunca participei de reunião com Carla Zambelli e esse rapaz, nem com Valdemar". Disse ter encontrado com ele "na escada do partido". "Quando ele me disse quem ele era, desconversei, 'pulei fora' e segui com minhas atividades."

O advogado Fábio Wajngarten, que defende Bolsonaro, disse em suas redes sociais que "em nenhum momento sequer cogitaram a entrada de técnicos de informática muito menos alpinistas tecnológicos na campanha do presidente Jair Bolsonaro". "É muita gente tentando buscar holofotes e fogo. Haja bombeiros para reconstruir a verdade."

A OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) disse que "o Conselho Federal, as seccionais e as subseções da entidade não possuem urnas eletrônicas". "Em 2022, não houve eleição no sistema OAB, não sendo usada qualquer urna eletrônica pela Ordem, que também não solicitou empréstimo de urnas aos tribunais eleitorais."

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