Após silêncio de Bolsonaro à PF, Dino ironiza: 'Falar era pior que calar'
Colaboração para o UOL, em São Paulo
31/08/2023 13h49
Após o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Michelle Bolsonaro resolverem ficar em silêncio durante depoimento à Polícia Federal nesta quinta-feira (31), o ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, ironizou e disse que, quando um depoente se cala, é porque "falar seria pior".
O que aconteceu:
Dino destacou que, quando era juiz federal, dizia aos acusados que "o interrogatório é um momento precioso para a autodefesa". Segundo o ministro, só "abriam mão desse direito" aqueles que, se abrissem a boca, sabiam que iriam se comprometer.
"Fui juiz federal por 12 anos. E sempre dizia aos acusados: o interrogatório é um momento precioso para a autodefesa. Poucos abriam mão desse direito. E quando o faziam, era em razão da avaliação deles de que falar era pior do que calar. A experiência sempre ensina muito", postou o ministro no X (antigo Twitter).
Bolsonaro e Michelle se calam
O ex-presidente e a ex-primeira-dama optaram pelo silêncio em depoimento à PF sobre a venda ilegal de joias e itens de luxo dados de presente ao Brasil na gestão anterior e que teriam sido apropriados por Bolsonaro.
Em petição apresentada à PF, a defesa afirmou que eles "optam por adotar a prerrogativa do silêncio no tocante aos fatos".
O argumento é que a PGR (Procuradoria-Geral da República) opinou que o caso não deveria tramitar no STF (Supremo Tribunal Federal) e, por isso, Bolsonaro e Michelle só prestarão esclarecimentos no juízo competente, disse a defesa.
O ex-secretário de Comunicação e advogado Fábio Wajngarten também ficou em silêncio no depoimento prestado nesta quinta sobre o caso e já deixou a PF.
O ex-assessor de Bolsonaro Marcelo Câmara, que realizou tratativas sobre as joias, também não respondeu às perguntas.
Segundo apurou o UOL, o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid, e seu pai, general Lourena Cid, estão prestando esclarecimentos à PF e não optaram pelo silêncio. O advogado Frederick Wassef depõe por videoconferência na PF em São Paulo.
O que a Polícia Federal quer saber?
As autoridades querem saber por quem passaram as joias e outros objetos recebidos de presente.
A PF apura se o dinheiro da venda dos objetos teve como destino final a conta do ex-presidente ou de sua esposa.
Oitivas simultâneas são legais, requerem planejamento e já foram adotadas outras vezes, como quando a PF intimou quase 80 militares para depor sobre os atos golpistas de 8 de janeiro. A ideia é que isso impeça os envolvidos de combinarem versões.
"É uma estratégia que a equipe da investigação adotou para que tenha o maior ganho possível na apuração e esclarecimento dos fatos", disse Andrei Passos Rodrigues, diretor da Polícia Federal, durante o UOL Entrevista.