Prefeito de cidade no RJ defende 'castrar' mulheres: 'É muito filho, cara'
Do UOL, em São Paulo
16/09/2023 13h01Atualizada em 19/09/2023 18h35
O prefeito de Barra do Piraí (RJ), Mario Esteves (Solidariedade), defendeu a "castração" de mulheres da cidade para controlar a população de crianças. Em nota, a prefeitura disse que a declaração foi feita em um momento de "descontração". Já a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) repudiou a fala, que classificou como "ato de misoginia".
O que aconteceu
Prefeito de Barra do Piraí (RJ) defendeu "castração" de mulheres. Mario Esteves disse que há muitas crianças na cidade e que as famílias deveriam ter até dois filhos. "Haja creche para ser construída ao longo dos próximos anos", completou.
Esteves ainda disse ser preciso uma lei para controlar natalidade. "Tem que fazer uma lei lá na Câmara. Tem que ter um projeto federal, estadual e municipal, porque precisa, sim, desse controle. É muita responsabilidade colocar filho no mundo", disse o prefeito.
Declaração foi feita no último dia 14, durante inauguração de estrada. O vídeo foi publicado nas redes sociais da prefeitura e apagado em seguida, após a repercussão negativa.
Prefeito disse que se equivocou ao trocar "laqueadura" por "castração". Neste sábado (16), nas redes sociais, Mario Esteves disse que não teve a intenção de ofender as mulheres e que apenas trocou o termo correto, "laqueadura", por "castração". "Infelizmente, qualquer palavra mal colocada pode se transformar em barbárie", lamentou.
Prefeitura negou preconceito e falou em "momento de descontração". Em nota, a administração de Barra do Piraí também reforçou que o prefeito "jamais" quis incentivar qualquer prática danosa ou preconceituosa contra as mulheres. Segundo a prefeitura, a declaração foi feita em um "momento de descontração".
OAB local repudiou as declarações do prefeito. O presidente da OAB de Barra do Piraí, Christopher Almada, disse que a fala é um "ato de misoginia" e que o posicionamento de Mario Esteves é retrógrado e machista, "típico da era das cavernas".
O que não falta em Barra do Piraí é criança. Cadê o Dione [secretário de Saúde]? Tem que começar a castrar essas meninas. Controlar essa população. É muito filho, cara. É no máximo dois. Tem que fazer uma lei lá na Câmara. (...) É muita responsabilidade colocar filho no mundo.
Mario Esteves, prefeito de Barra do Piraí (RJ)
Nota do prefeito Mario Esteves:
Nota da prefeitura de Barra do Piraí:
O prefeito de Barra do Piraí, Mario Esteves, entende que a laqueadura seja um dos procedimentos para o incremento do planejamento familiar, assim como a vasectomia. Jamais teve a intenção de promover qualquer tipo de prática danosa ou preconceituosa às mulheres. Prova disso, são os investimentos que a prefeitura tem aplicado no Hospital Maria de Nazaré — a Pérola do Vale — e nos programas Saúde da Mulher e Saúde do Homem, onde o planejamento familiar é discutido. Foi um momento de descontração na inauguração de uma importante via de escoamento de produção e de desenvolvimento na cidade, tema central do evento e que é o principal destaque. Qualquer ilação com esse assunto mostra desconhecimento político, uma vez que castrar é esterilizar. A utilização da linguagem vai muito mais para quem quer difundir a confusão na mente do outro, quando deveria explicar.
Nota de Christopher Almada, presidente da OAB de Barra do Piraí:
Nota de repúdio. Em pleno ano de 2023, após diversas lutas das mulheres na busca de igualdade, espaço e respeito, fomos surpreendidos com a fala do Prefeito de Barra do Pirai, que de forma desrespeitosa e afrontosa, e ainda com ar de deboche, sugeriu que as mulheres barrenses fossem 'castradas' e que uma lei fosse apresentada na Câmara Municipal limitando o número de filhos por mulheres. A fala é típica de ato de misoginia, e mais uma vez demonstra o total desrespeito do Prefeito com as mulheres. É inaceitável que o representante eleito de um povo, formado exatamente na maioria por mulheres, ainda tenha um pensamento tão retrógrado e machista, típico da era das cavernas. Infelizmente, esse não é o primeiro ato de preconceito do Chefe do Executivo, que deve ser objeto de repúdio bem como combatido todos os dias, para que a nossa geração e as próximas, entendam, finalmente, que todas e todos somos iguais.