Nunes se dá nota 9, reforça apoio a Bolsonaro e sinaliza reajuste do ônibus
Do UOL, em São Paulo
23/12/2024 05h30Atualizada em 23/12/2024 08h06
Ricardo Nunes (MDB) dá nota 9 ao seu desempenho como prefeito de São Paulo. A 13 dias do fim do primeiro mandato, ele afirmou em entrevista ao UOL não ver falhas em seu trabalho e sinalizou que deve aumentar o preço da tarifa de ônibus.
"Preciso achar algum defeito meu", declarou, ao elencar as marcas de seu primeiro mandato. "São tantas. Eu fiz o maior programa de recapeamento da história da cidade, o maior programa habitacional da história da cidade, a Faixa Azul (para motos), a Rede da Hora, o Armazém Solidário."
Em seu gabinete no quinto andar do Edifício Matarazzo —cercado de capacetes de Fórmula 1, imagens de santos e quadros de família—, o prefeito não revelou qual deve ser o novo valor da tarifa de ônibus e afirmou que o município já tem elementos para romper o contrato com a empresa Transwolff, investigada por suspeita de relação com o PCC.
Nunes ainda declarou apoio ao ex-presidente Jair Bolsonaro na disputa presidencial de 2026 por "uma questão de coerência" e reforçou que o aliado deve ter direito à "presunção da inocência". No caso de a inelegibilidade se confirmar, disse que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) será levado a disputar o cargo. Veja abaixo os principais trechos:
O senhor tem falado sobre a possibilidade de reajustar a tarifa de ônibus em 2025. Já tem um valor?
Eu tenho até o dia 26 deste mês para decidir isso e avisar a Câmara Municipal, como determina a Lei Orgânica do Município. Eu não gostaria de aumentar. Mas, se não conseguir, não vou repassar toda a inflação do período, que seria de 32%.
A alta do dólar influencia em sua decisão?
A minha vontade é não aumentar. Mas o cenário econômico do país, com a alta do dólar - que influencia no preço do óleo diesel - e a previsão de alta da inflação para o ano que vem ainda não me deixaram decidir. E a correção da tarifa tem que ser pensada de acordo com o próximo ano.
A promessa que fez na campanha de dar gratuidade a mulheres que têm filhos em creches também vai contar nessa decisão?
Não. A previsão é que o programa Mamãe Tarifa Zero custe cerca de R$ 50 milhões por ano. Não será esse custo que ocasionará o reajuste da tarifa.
Rompimento de contrato com a Transwolff
Qual foi o resultado da intervenção feita nas empresas Transwolff e UPBus, investigadas por suspeita de relação com o PCC? O senhor vai romper os contratos?
O relatório apresenta uma série de problemas, especialmente em relação a Transwolff. São elementos que nos dão respaldo jurídico para romper o contrato com a empresa. Mas o processo ainda não foi finalizado. Está na fase de recurso.
Quais são esses elementos?
Endividamento muito elevado, tributos sem pagar e incertezas sobre possibilidade de honrar despesas futuras.
Como fica o serviço se o contrato for rompido?
Segue sob intervenção até que saia o resultado de uma nova licitação. Nada vai mudar. Vamos garantir o pagamento dos fornecedores e dos funcionários, independente de qualquer situação.
E em relação à UPBus?
Neste caso, o relatório da intervenção não mostrou elementos significativos, como o fato de a garagem não ser compatível com a quantidade de ônibus da empresa (nesta sexta, 20, o presidente afastado da empresa, Ubiratan Antônio da Cunha, foi preso novamente por suspeita de lavagem de dinheiro e organização criminosa devido ao elo com o PCC).
A investigação da prefeitura revela indícios de relação dessas empresas com o PCC?
Não, nossa investigação não é criminal, mas administrativa. Essa apuração compete ao Ministério Público.
Relação com Tarcísio e Bolsonaro
O senhor se aproximou do governador Tarcísio de Freitas durante a campanha. Defende que ele dispute a Presidência em 2026 ou a reeleição em São Paulo?
Acho que a reeleição seria mais natural, né? Isso se o presidente Jair Bolsonaro conseguir reverter a inelegibilidade. Caso contrário, ele (Tarcísio) vai ser levado a assumir essa disputa, mesmo que não seja da vontade dele. Tudo vai depender do cenário.
Apoiaria Bolsonaro em 2026?
Claro. Até por uma questão de coerência, né? Ele me apoiou aqui.
Mesmo com todas as revelações relativas à tentativa de golpe?
Eu sempre defendi e defendo a presunção de inocência.
O senhor falou em coerência. O seu partido, o MDB, é da base do presidente Lula e pode seguir com ele em 2026. Neste caso, o senhor sairia do MDB ou defenderia o nome do petista?
Nossa, essa pergunta é muito difícil. Tá muito longe ainda e acho que tem espaço para se discutir isso dentro do partido.
Como está sua relação com o governo Lula?
É uma relação republicana. Tenho uma boa relação com o pessoal do PT desde que era vereador. Outro dia liguei para o ministro Fernando Haddad (Fazenda), que liberou alguns processos que estavam parados por lá e são importantes para a cidade (como documentos de concessão de garantia necessários para pedidos de financiamento junto ao BNDES, Caixa Econômica Federal e Banco do Brasil, por exemplo).
Investigação do MP
A política de incentivo à produção de moradia social é alvo de investigação do Ministério Público por suspeita de fraude. O que o senhor vai fazer em relação a isso?
A política é boa. Já concedemos mais de 400 mil licenças para construção de HIS (Habitação de Interesse Social) na cidade.
Mas a prefeitura só concede incentivos que aumentam o lucro do mercado sem controlar o atendimento ao público-alvo. O senhor está satisfeito com isso?
Tudo bem, deixa as empresas lucrarem. A política é importante para incentivar a habitação popular e reduzir o déficit habitacional. Agora, se tem empresas burlando a lei, é o Ministério Público que tem de investigar. A culpa não é da prefeitura.
A prefeitura estabelece em lei que as construtoras que não cumprirem as regras serão multadas. Por que nenhuma empresa foi multada ainda?
Nós aplicamos multa, sim [em seguida, liga para Elisabete França, secretária de Urbanismo e Licenciamento, e recebe a informação de que não há multas, só notificações]. Mas vamos reforçar a fiscalização.
O sucessor de Milton Leite
Qual é o seu candidato para a presidência da Câmara? Defende um nome do MDB ou pode ser de partido aliado, como o União Brasil, de Milton Leite?
Há uma confusão danada lá, né? Eu não tenho candidato. Pode ser do União Brasil, é um partido aliado. Não tenho objeção a nenhum nome, mas uma pessoa com experiência legislativa seria melhor do que alguém em primeiro mandato. Eu fui vereador oito anos, sei da complexidade daquilo.
Ricardo Teixeira (União), por exemplo?
Sim, por exemplo.
Vai convidar algum vereador ou vereadora para seu secretariado?
Devo chamar a vereadora Sandra Santana (MDB) para assumir uma pasta, talvez de Trabalho e Desenvolvimento Econômico.
E, segurança urbana, que foi foco da campanha eleitoral? Haverá mudanças?
Não, necessariamente. O (Alcides Fagotti) Júnior está indo bem lá. O que vamos fazer é dobrar o número de câmeras do Smart Sampa, programa que está dando muito certo. Já prendemos 218 foragidos da Justiça e reconhecemos 28 pessoas desaparecidas. E não é só isso. Também conseguimos ler placas de carro.
É uma marca da sua gestão esse programa?
São tantas. Eu fiz o maior programa de recapeamento da história da cidade, o maior programa habitacional da história da cidade, a Faixa Azul (para motos), a Rede da Hora, o Armazém Solidário.
Que nota dá ao seu governo?
Nunca vai ser 10, né? Porque a gente sempre tem que estar melhorando, mas eu acho que nota 9.
Admite alguma falha?
Falha? Falha, não. Eu sou o primeiro a chegar, o último a sair. Preciso achar algum defeito meu. Teve muita coisa que não deu para fazer por conta de decisão judicial, processo interno.