Oposição usa reunião com mulher de líder do CV para atacar Dino, que rebate
O encontro de secretários do Ministério da Justiça e Segurança Pública com a mulher de um líder do Comando Vermelho serviu como combustível para novos ataques de apoiadores de Jair Bolsonaro (PL) contra Flávio Dino (PSB), que comanda a pasta.
O que aconteceu
Parlamentares bolsonaristas aproveitaram as audiências, das quais Dino não participou, para tentar constranger o ministro. Ele rebateu dizendo que "nunca recebeu líder de facção ou esposa".
Luciane Barbosa Farias, conhecida como dama do tráfico amazonense, esteve em audiências no prédio do Ministério da Justiça, em Brasília. Ela é casada com Clemilson dos Santos Farias, conhecido como Tio Patinhas.
Dino tem sido o principal alvo da Comissão de Segurança Pública e Combate ao Crime Organizado na Câmara dos Deputados, que tem a maioria de integrantes formada por bolsonaristas. O ministro foi convocado para se explicar em duas ocasiões e houve confusão em ambas.
Presidente da comissão, o deputado Sanderson (PL-RS) declarou que vai pedir investigação da Procuradoria-Geral da República. Ele vai solicitar esclarecimento de quem recebeu Luciane e em quais circunstâncias.
É um absurdo total. Eu mesmo estou confeccionando uma representação à Procuradoria-Geral da República, que tem instrumentos para isso [investigar].
Deputado Sanderson (PL-RS), presidente da Comissão de Segurança Pública
O parlamentar quer saber que tipo de contato Luciane mantém com integrantes do ministério. Sanderson quer esclarecer se são relações pessoais, políticas, partidárias ou comerciais. Ele sugere apurar com quebra de sigilos até porque Luciane já foi condenada e está fora da cadeia por decisão judicial.
Sanderson afirmou que a decisão de como deve ser encaminhada a investigação deve ficar com o Ministério Público Federal e não com o ministro da Justiça. O parlamentar considera que Dino deve ser um dos alvos da apuração.
O deputado disse ainda que o ministro será convocado para dar explicações no dia 21 de novembro. Sanderson afirmou que há 23 requerimentos aprovados, mas Dino compareceu somente duas vezes.
Ele defende a saída do ministro do cargo e retorno ao Senado, função para qual foi eleito no ano passado.
Flavio Dino só tem uma coisa a fazer, renunciar e voltar para o Senado.
Deputado Sanderson
Como foram os encontros
Nas redes sociais, Luciane compartilhou várias fotos e vídeos em Brasília. Ela esteve no CNJ (Conselho Nacional de Justiça), na Câmara dos Deputados e em encontro com políticos.
O teor das reuniões, segundo Luciane, foi sobre denúncias de violações de direitos humanos nas prisões.
O Ministério da Justiça afirmou que Luciane integrava uma comitiva de advogados. "A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes", afirmou a pasta em nota.
Artilharia contra Dino
O deputado Sargento Gonçalves (PL-RN) também defendeu a saída de Dino do cargo. Ele ressaltou que o ministro é responsável por comandar polícias e definir a política nacional de enfrentamento ao crime.
Fica insustentável a permanência do senhor Flávio Dino no comando do ministério. O chefe das polícias federais e responsável pela segurança pública em âmbito nacional não pode manter este tipo de relacionamento.
Deputado Sargento Gonçalves (PL-RN)
A recepção foi classificada como "escárnio" pelo deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS).
Um verdadeiro escárnio que o Ministério da Justiça e Segurança Pública recebe a visita da 'Dama do Tráfico Amazonense', esposa de um dos líderes do Comando Vermelho. Na verdade, eles tinham que estar trabalhando para prender este tipo de gente.
Deputado Rodolfo Nogueira (PL-MS)
A deputada Silvia Waiãpi (PL-AP) cobrou controle de quem tem acesso ao ministério. Ela afirmou que Dino não tem compromisso com a segurança pública.
É inconcebível aceitar 'desculpas' pelo ocorrido num local de extremo monitoramento e investigação. O cruzamento de dados de lideranças de facção e de terrorismo é válido em todo mundo, menos no Brasil.
Deputada Silvia Waiãpi (PL-AP)
O ministro Flávio Dino afirmou que nunca recebeu líder de facção ou esposa em audiência no Ministério da Justiça.
O secretário Elias Vaz também falou sobre o encontro. Ele diz que atendeu a uma solicitação da ex-deputada Janira Rocha, que levou acompanhantes.
Já o Ministério da Justiça diz que seria "impossível" a detecção prévia da situação de Luciane.
Leia na íntegra o posicionamento:
"No dia 16 de março, a Secretaria de Assuntos Legislativos (SAL) atendeu solicitação de agenda da ANACRIM (Associação Nacional da Advocacia Criminal), com a presença de várias advogadas.
A cidadã mencionada no pedido de nota não foi a requerente da audiência, e sim uma entidade de advogados. A presença de acompanhantes é de responsabilidade exclusiva da entidade requerente e das advogadas que se apresentaram como suas dirigentes.
Por não se tratar de assunto da pasta, a ANACRIM, que solicitou a agenda, foi orientada a pedir reunião na Secretaria Nacional de Políticas Penais (Senappen).
A agenda na Senappen e da ANACRIM aconteceu no dia 2 de maio, quando foram apresentadas reivindicações da ANACRIM.
Não houve qualquer outro andamento do tema.
Sobre a atuação do Setor de Inteligência, era impossível a detecção prévia da situação de uma acompanhante, uma vez que a solicitante da audiência era uma entidade de advogados, e não a cidadã mencionada no pedido de nota.
Todas as pessoas que entram no MJSP passam por cadastro na recepção e detector de metais".