Lula leva PAC para 'vender' na COP e passar o pires para empresas árabes
Do UOL, em Brasília
29/11/2023 04h00Atualizada em 29/11/2023 08h43
O presidente Lula (PT) vai aproveitar a viagem ao Oriente Médio, para a COP28, para tentar "vender" o Novo PAC (Programa de Aceleração ao Crescimento) para empresas árabes.
O que Lula quer
Lula chegou à Arábia Saudita ontem com o objetivo de arrecadar investimentos para o Brasil. Foi a primeira parada de uma viagem que passará por Qatar e Emirados Árabes Unidos —onde ocorre a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima— e Berlim, na Alemanha.
Hoje, foi anunciado que o governo saudita fechou um acordo com a Embraer.Também foi informado que há um estudo de aporte de US$ 9 bilhões (R$ 43,9 bilhões) em investimentos no Brasil até 2030, principalmente nas áreas previstas no Novo PAC.
O Novo PAC, carro-chefe do governo para o ano que vem depende em especial das PPPs (parcerias público-privadas) para atingir o investimento almejado de até R$ 1 trilhão, em quatro anos. Por parte da União, será desempenhado um quarto do valor: R$ 240 bilhões —R$ 60 bilhões por ano.
Em sua chegada, Lula foi recebido pelo príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, que deu o kit de joias à ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro e acusado de mandar matar um jornalista. Este foi o segundo encontro dos dois, após um jantar em julho cancelado após repercussão negativa.
De olho em R$ 10 bilhões
Parte do plano é focar em empresas internacionais. O ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, que coordena o PAC, e outros ministros de infraestrutura viajaram dois dias antes de Lula para começar a fazer negócios.
A Arábia Saudita já é o maior parceiro comercial do Brasil no Oriente Médio. Segundo a Casa Civil, o governo espera receber cerca de R$ 10 bilhões dos sauditas. A promessa é que o PAC seja o destino "de grande parte dos recursos".
A expectativa é que parte desses investimentos ocorra através de fundos de investimentos. Eles [fundos árabes] não necessariamente participam sendo majoritários nos projetos, podem participar como sócios.
Rui Costa, na Arábia Saudita
O investimento saudita deve ser voltado, em especial, a obras de infraestrutura ligadas ao transporte. O governo pretende vender investimentos para as ferrovias de Integração Oeste-Leste e Norte-Sul. Segundo o Ministério de Portos e Aeroportos, também há interesse na criação de voos diretos entre os dois países.
O governo também busca investimentos na área de energia, principalmente para a ampliação da chamada "energia verde", com produção eólica e solar. Uma das interessadas, segundo o governo, seria a petroquímica saudita Sabic.
Além de Rui Costa e Silvio Costa Filho (Portos e Aeroportos), acompanham o presidente os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Alexandre Silveira (Minas e Energia), Carlos Fávaro (Agricultura) e os presidentes Aloizio Mercadante (BNDES), Jean Paul Prates (Petrobras) e Jorge Viana (Apex-Brasil).
Rumo à COP28
Energia verde e transição energética também deverão ser pautas das falas de Lula na COP28, em Doha. O presidente segue para o Qatar, na quinta-feira (30), depois de dois dias em Riad.
Na conferência, Lula deverá fazer reuniões bilaterais, incluindo um encontro com o emir Tamim bin Hamad al-Thani. Ele também participará de um fórum internacional de empresários.
No próximo domingo (3), Lula segue para a Alemanha, onde se encontra com o chanceler Olaf Scholz. O presidente retorna ao Brasil na segunda-feira (4), à noite.
O príncipe das joias
Esta é a segunda vez que Lula se reúne com bin Salman. Os dois se encontraram no último dia da cúpula do G20, quando conversaram sobre o ingresso da Arábia Saudita nos Brics, apoiado pelo Brasil, e investimentos sauditas no país.
O monarca saudita foi quem presenteou Michelle Bolsonaro com um kit de joias. O governo Bolsonaro teria tentado trazer os bens ao Brasil de forma ilegal, sem declará-los, e as joias acabaram detidas pela Receita Federal no aeroporto de Guarulhos. No encontro de Lula, segundo o Planalto, não houve troca de presentes.
O príncipe também é suspeito de mandar matar o jornalista Jamal Khashoggi em 2018. Segundo relatório de inteligência dos EUA divulgado em 2021, Bin Salman aprovou uma operação para capturar e matar o jornalista Jamal Ahmad Khashoggi, crítico do regime de sua família, num consulado do país em Istambul, na Turquia, em 2018. O corpo do jornalista dissidente foi desmembrado, e seus restos mortais nunca foram localizados.
Lula já havia tentado evitar encontrar bin Salmon em um primeiro momento. Um jantar na Residência Oficial do Reino da Arábia Saudita em Paris constou na agenda oficial da presidência, durante a Cúpula para um Novo Pacto Financeiro Global, em junho, mas foi cancelada após repercussão negativa.