Bolsonaro disse que TSE errou ao chamar Forças Armadas: 'Sou chefe supremo'
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) aparece criticando o convite ao TSE para que as Forças Armadas fizessem parte do processo eleitoral em reunião com ministros, em que discutem uma "dinâmica golpista".
O que aconteceu
O então presidente falou abertamente que o TSE errou ao chamar as Forças Armadas. O convite era para que a instituição integrasse o comitê de transparência eleitoral da Corte. Bolsonaro acreditava que a decisão iria beneficiá-lo.
Moraes tirou sigilo e disponibilizou o vídeo da reunião. Antes, trechos da gravação, foram obtidos e divulgados com exclusividade pela coluna de Bela Megale, de O Globo.
O TSE cometeu um erro [inaudível] quando convidou as Forças Armadas para participar da comissão de transparência eleitoral. Cometeu um erro. Eles erraram. Pra nós, foi excelente. Eles se esqueceram que sou o chefe supremo das Forças Armadas?
Jair Bolsonaro, em reunião com ministros em 2022
"Linha de contato com o inimigo". Foi o que disse o então ministro da Defesa Paulo Sérgio Nogueira sobre participar da comissão eleitoral do TSE que, segundo ele, era um grupo "para inglês ver".
"Não há instância superior (ao TSE). E a gente fica ali de mãos atadas, esperando a boa vontade de aceitar isso ou aquilo outro", disse.
O que eu sigo nesse momento é apenas na linha de contato com o inimigo. Ou seja, na guerra, tem a linha de contato, linha de partida, vou romper aqui e iniciar a minha operação. Eu vejo as Forças Armadas e o Ministério da Defesa nessa linha de contato. Nós temos que intensificar e ajudar nesse sentido para que a gente não fique sozinho no processo
Paulo Sérgio Nogueira, então ministro da Defesa
Bolsonaro também aparece defendendo uma nota conjunta que diria que "a lisura das eleições são (sic) simplesmente impossíveis de ser (sic) atingidas". A ideia dele era de que o texto fosse assinado por integrantes da Comissão de Transparência do TSE, e que a nota fosse subscrita pela OAB (Ordem dos Advogados do Brasil).
Gravação do dia 5 de julho de 2022 foi apreendida na casa do ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, o tenente-coronel Mauro Cid. Parte da transcrição está presente na decisão do ministro do STF Alexandre de Moraes que embasou a operação de ontem, mirando a organização criminosa que atuou para tentar um golpe de Estado.
Moraes diz que a reunião "nitidamente, revela o arranjo de dinâmica golpista no âmbito da alta cúpula do governo, manifestando-se todos os investigados que dela tomaram parte". Ele também diz que todos os participantes ajudaram a difundir mentiras no período eleitoral sobre o então candidato Lula (PT), o TSE e os ministros do STF.
Defesa do ex-presidente nega tentativa de golpe
Defesa e Bolsonaro diz que falas são "parte da democracia". Em postagem nas redes sociais, Fabio Wajngarten, que defende o ex-presidente, afirmou que Bolsonaro condena o uso da força. "Todas as opiniões do presidente são absolutamente públicas".
Em nota, advogados do ex-presidente declararam "indignação" e "inconformismo" com as medidas cautelares deflagradas. Eles classificaram a apreensão do passaporte de Bolsonaro como "absolutamente desnecessária" e alegaram que o ex-presidente não compactuou "com qualquer movimento que visasse a desconstrução do Estado Democrático de Direito ou as instituições que o pavimentam".
A operação
Jair Bolsonaro foi alvo de busca e apreensão. O mandado foi autorizado pelo ministro Alexandre de Moraes, do STF.
Os agentes foram até a casa de Bolsonaro em Angra dos Reis (RJ) para recolher seu passaporte. Como o documento não estava no local, foi dado o prazo de 24 horas para a entrega. O passaporte foi apreendido no início da tarde, em Brasília, na sede do PL.
Valdemar Costa Neto foi preso em flagrante por posse ilegal de arma. O presidente do PL foi alvo de buscas na operação Tempus Veritatis, que mira suposta organização criminosa que tentou dar um golpe de Estado para manter Bolsonaro na presidência.
A PF também apreendeu o celular de Tércio Arnauld Thomaz, ex-assessor do ex-presidente. Ele estava em Angra com Bolsonaro.
O coronel Marcelo Costa Câmara e Filipe Martins, ex-assessores de Bolsonaro, também foram presos. A PF ainda prendeu Rafael Martins de Oliveira, major do Exército.
Ex-ministros de Bolsonaro são alvos de busca e apreensão. Entre os alvos da PF estão Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres e Paulo Sérgio Nogueira.
A defesa de Jair Bolsonaro (PL) criticou a apreensão do passaporte do ex-presidente e argumentou que ele sempre esteve à disposição da Justiça. "A medida se mostra absolutamente desnecessária e afastada dos requisitos legais e fáticos que visam garantir a ordem pública e o regular andamento da investigação, os quais sempre foram respeitados", diz a nota.
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