Quem é o coronel suspeito de incitar militares a aderirem ao golpe
Do UOL, no Rio
11/02/2024 19h26
Último a ser detido entre os quatro que tiveram a prisão decretada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, o coronel de cavalaria do Exército Bernardo Romão Corrêa Netto é acusado pela Polícia Federal de fazer parte de um um núcleo responsável por incitar militares a aderirem ao golpe de Estado.
Segundo a PF, esse grupo atuaria elegendo alvos "para amplificação de ataques pessoais contra militares em posição de comando que resistiam às investidas golpistas".
Os outros integrantes do núcleo responsável por pressionar militares, de acordo com a decisão de Moraes, eram o general Walter Braga Netto, candidato a vice-presidente em 2022 na chapa de Bolsonaro; o blogueiro e empresário Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho, neto de João Figueiredo, ex-presidente militar durante a ditadura; o major reformado do Exército Ailton Barros; e o ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, tenente-coronel Mauro Cid.
"Kids pretos"
As investigações apontam ainda que Corrêa Netto — à época assistente do Comando Militar do Sul — teve "participação ativa" na organização de uma reunião no dia 28 de novembro de 2022 em Brasília com militares formados no curso de Forças Especiais, os chamados "kids pretos"
Na trama do golpe, os "kids pretos", que integram o Comando de Operações Especiais do Exército, seriam os responsáveis, por exemplo, por prender o ministro do STF Alexandre de Moraes, segundo a PF.
Após essa reunião, o blogueiro Paulo Renato de Oliveira Figueiredo Filho divulgou nomes de comandantes regionais do Exército que ainda estariam indecisos em aderir ao plano golpista.
A PF também tem indícios de que Corrêa Netto seria "homem de confiança" de Mauro Cid, "executando tarefas fora do Palácio do Alvorada que o então ajudante de ordens do Presidente da República, por razão de seu ofício, não conseguiria desempenhar".
Ainda segundo a PF, o militar teve atuação em "medidas direcionadas à disseminação de notícias falsas por integrantes das Forças Armadas em associação com outros membros do grupo criminoso para desacreditar o processo eleitoral"; "incitação para a adoção de medidas radicais" e "realização de reuniões para elaboração do golpe de Estado".
Moraes aceitou o pedido de prisão alegando que a posição de Corrêa Netto, "com influência sobre outros militares e civis investigados", poderá acarretar na supressão de provas.
Transferência para os Estados Unidos
No dia 16 de dezembro de 2022, às vésperas do fim da gestão Bolsonaro, foi publicada uma portaria do Exército transferindo o coronel para Washington, nos Estados Unidos, com previsão de retorno em junho de 2025.
Inicialmente, ele foi designado como estagiário do Colégio Interamericano de Defesa, onde frequentou um curso de mestrado em Defesa e Segurança Interamericana.
Após o fim do curso, em julho do ano passado, passou a ser assessor do colégio, que é uma entidade educacional da Junta Interamericana de Defesa, organização militar internacional que reúne 28 países.
A remuneração do militar é arcada integralmente pelo governo brasileiro. De acordo com dados do ano passado do Portal da Transparência, era de US$ 7.976,80 brutos (em dólares, pela atuação no exterior). Além disso, ele recebeu verbas indenizatórias que variaram de US$ 8.435 a US$ 9.202.
Na plataforma Lattes, sua última atualização de currículo é de 2012. À época, informou ter feito graduação em Ciências Militares entre 1994 e 1997 na Academia Militar das Agulhas Negras; especialização em Ciências Militares na Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais em 2006, além do curso então em andamento de Altos Estudos Militares na Escola de Comando e Estado Maior do Exército.
Prisão mantida
Corrêa Netto passou por audiência de custódia na manhã de hoje e teve sua prisão mantida. Ele foi recebido por policiais federais ao desembarcar no Brasil nesta madrugada e levado ao Batalhão da Guarda Presidencial, onde ficará sob custódia do Exército.
Além de Corrêa Netto, outras três pessoas foram presas por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro, Marcelo Câmara, coronel da reserva do Exército e assessor do ex-presidente, e Rafael Martins, major do Exército.