De espionagem à 'alta patente': tentativa de golpe se dividiu em 6 núcleos

A suposta organização criminosa que montou o plano de golpe para manter Jair Bolsonaro no poder se dividiu em seis núcleos, segundo relatório da Polícia Federal. Cada um deles era responsável por uma etapa do processo que deveria culminar na tomada do poder pelos aliados do ex-presidente.

O ex-presidente e seus aliados foram alvo de uma operação da PF na manhã de ontem. A "Tempus Veritatis" (ou "Hora da Verdade", em tradução do latim) cumpriu dezenas de mandados de busca e apreensão e quatro de prisão preventiva depois que uma série de documentos e mensagens sobre o plano foram encontradas.

Saiba quais são esses núcleos, de acordo com a investigação da PF:

Núcleo de Desinformação

Esse grupo era responsável por plantar as justificativas do futuro golpe. Seus membros produziam e divulgavam fake news sobre supostas fraudes no sistema eleitoral, antes mesmo das eleições de 2022, criando um clima favorável para os golpistas, com o apoio de civis incitados inclusive por influenciadores.

Mauro Cid, ajudante de ordens da presidência no mandato Bolsonaro, e Fernando Cerimedo, um assessor do presidente argentino Javier Milei, eram dois de seus integrantes.

Núcleo responsável por incitar militares a apoiar o golpe

Os integrantes desse grupo faziam campanha de seu plano entre os membros das Forças Armadas — e aqueles que resistiam à incitação acabavam sofrendo ataques à sua reputação, segundo o jornal Estado de São Paulo. Cid também atuava nessa frente, ao lado de nomes como Walter Braga Netto, ex-ministro da defesa.

Núcleo de oficiais de alta patente

Buscava apoio de militares já veteranos nas Forças Armadas "para influenciar e incitar apoio aos demais núcleos por meio do endosso a ações a serem adotadas para consumação do Golpe de Estado", segundo relatório da PF.

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Braga Netto e outro ex-ministro da defesa, Paulo Sérgio Nogueira de Oliveira, faziam parte dessa captação. Eles são generais de quatro estrelas — o topo da hierarquia militar — que hoje estão na reserva.

Núcleo de inteligência

A "Abin Paralela" usava técnicas de espionagem para levantar informações que ajudassem Bolsonaro a saber o momento certo de dar o golpe — o que incluía o monitoramento de autoridades como o ministro do STF Alexandre de Moraes, um dos principais alvos dos documentos encontrados com os golpistas.

Cid e Augusto Heleno, ex-ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional, faziam parte dele.

Núcleo operacional de apoio às ações golpistas

Tomava medidas para a manutenção dos protestos feitos em frente aos quarteis, contestando a eleição do presidente Lula.

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Isso incluía o direcionando manifestantes para os alvos de interesse dos investigados, como STF e Congresso, além de realizar a coordenação financeira e operacional para dar suporte aos atos antidemocráticos.

Núcleo jurídico

Contando com membros formados em direito, era responsável pela elaboração de minutas que atendessem ao plano de golpe. Entre seus integrantes estariam Filipe Martins, ex-assessor de Bolsonaro preso ontem, o ex-ministro da Justiça Anderson Torres, Mauro Cid e o padre José Eduardo de Oliveira Silva.

A estrutura do PL, partido do ex-presidente, teria sido utilizada para a elaboração de uma minuta de decreto que previa golpe. A PF coletou provas que indicam que integrantes do "núcleo jurídico" teriam utilizado uma residência alugada pelo partido em Brasília como um "QG do Golpe". O advogado Amauri Saad seria o autor da minuta de golpe.

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