PF prende três empresários suspeitos de financiar ataque golpista do 8/1
Do UOL, em Brasília e São Paulo
29/02/2024 07h43Atualizada em 29/02/2024 12h35
A Polícia Federal prendeu na manhã de hoje três empresários suspeitos de terem financiado ações que culminaram nos ataques golpistas do 8 de janeiro, em uma nova fase da Operação Lesa Pátria.
O que aconteceu
Joveci Xavier Andrade, 55 anos, foi preso no Distrito Federal. O empresário é investigado como um dos financiadores de acampamentos bolsonaristas após as eleições. A informação foi divulgada pela TV Globo e confirmada pelo UOL.
Outro preso é Adauto Lúcio de Mesquita, 56. Ele também é investigado, pela Polícia Civil do DF, pela suspeita de ser um dos financiadores do acampamento antidemocrático montado em frente ao QG do Exército. A CPI dos atos golpistas na Câmara Legislativa do DF apontou os dois como sócios da rede Melhor Atacadista. Atualmente, porém, o nome de Andrade não aparece mais no CNPJ da empresa.
Terceiro empresário preso é Diogo Galvão, 36. Ele foi detido em São Paulo. Ativista de Campinas, Galvão trabalha em uma empresa da família, no ramo de madeiras. Ele apareceu no vídeo de convocação e transmitiu ao vivo a manifestação em Brasília, publicando fotos de dentro dos prédios invadidos.
Outro lado: a defesa de Adauto Mesquita e Joveci Andrade diz que "não obteve acesso à decisão emitida pelo senhor ministro Alexandre de Moraes". Os advogados afirmam, em nota, que houve "esforços para esclarecer todos os fatos" e "reiteram seu compromisso com a democracia" (veja a íntegra ao final do texto). O UOL tenta contato com a defesa de Diogo Galvão.
Ordem para colocar tornozeleira eletrônica em sete suspeitos. Ao todo, são 34 mandados judiciais na 25ª fase da Lesa Pátria: 24 de busca e apreensão, sete de monitoramento eletrônico, além das três prisões. A operação também atua em Tocantins, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Espírito Santo.
Alvos são investigados por suspeita de crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. E também por crimes como golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido, segundo a PF.
O ministro Alexandre de Moraes também determinou a indisponibilidade de bens, ativos e valores dos investigados. Não há detalhes sobre a cifra bloqueada.
Empresários financiaram QG em Brasília
Mesquita e Andrade bancaram um trio elétrico e tendas usadas no acampamento dos manifestantes bolsonaristas em Brasília. Os pagamentos foram comprovados por quebras de sigilo bancário pedidas pela CPI dos atos golpistas na Câmara Legislativa do DF.
Segundo a CPI, os dois mentiram ao prestar depoimentos à comissão. O relatório final da comissão, publicado em dezembro do ano passado, aponta que eles "confirmaram a presença no acampamento estabelecido em frente ao Quartel-General do Exército, no entanto, negaram ter realizado contratações de carros de som ou tendas".
Os empresários foram indiciados por incitação ao crime em duas CPIs. Além da comissão da Câmara Legislativa do DF, a CPMI do 8 de janeiro, no Congresso, também incriminou a dupla.
Joveci Andrade negou, em abril, que tenha financiado os golpistas, mas admitiu que foi pelo menos três vezes ao acampamento em Brasília. Ele defendeu, na CPI dos Atos Antidemocráticos da Câmara Legislativa do DF, que aqueles que depredaram o patrimônio público sejam responsabilizados.
Adauto Mesquita negou ter financiado acampamento no QG do Exército, mas disse que ajudou a "pechinchar" preços. Em maio, na mesma CPI no DF, ele disse que fez três doações quando esteve no acampamento, duas de R$ 100 e uma de R$ 1 mil. "Eles estavam negociando e eu falei para fazer um preço melhor. Sou o comprador na minha empresa, sei pechinchar. Tenho habilidade para negociar. Não paguei um centavo", disse aos deputados distritais.
Empresário: Foi "estupidez" ir ao 8/1
Joveci Andrade disse que "não deveria ter ido" ao ato porque "deu muito errado". As declarações foram dadas quando ele prestou depoimento na CPI do DF, em abril do ano passado.
O empresário afirmou que chegou "próximo à rampa" que dá acesso ao Palácio do Planalto. Ele negou, na ocasião, que tenha participado da depredação às sedes dos Poderes da República.
Lesa Pátria
25 fases da operação até hoje. A Lesa Pátria tenta identificar quem financiou, fomentou e realizou ataques aos poderes em 8 de janeiro de 2023.
"Dano generalizado". As investigações consideram que a invasão ao Planalto, Congresso Nacional e STF foram a promoção de "violência e dano generalizado".
Nota da defesa dos empresários
"A defesa de Adauto Lúcio Mesquita e Joveci Andrade não obteve acesso à decisão emitida pelo senhor ministro Alexandre de Moraes.
Ressalta-se que, desde o início, houve esforços para esclarecer todos os fatos, compromisso que será mantido perante o Supremo Tribunal Federal.
A realização de apurações pelo Estado é considerada válida, e os investigados veem agora a oportunidade de elucidar completamente as questões em aberto.
Eles reiteram seu compromisso com a democracia, o Estado de Direito, o respeito às Instituições, ao processo eleitoral, ao Ministério Público e ao Judiciário, com especial ênfase na sua instância máxima, o Supremo Tribunal Federal.
O grupo ao qual Joveci e Adauto são acionistas reitera que é contra o vandalismo e a intolerância política e acredita que a democracia é feita com pensamentos diferentes, mas jamais com violência. A diretoria do grupo respeita as Instituições brasileiras, a democracia e o Estado de Direito."