Na Petrobras, Lula critica privatizações e cita Vale por Brumadinho

O presidente Lula (PT) fez duras críticas à privatizações de estatais durante a posse da nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard, nesta quarta-feira (19) no Rio de Janeiro.

O que aconteceu

Lula lamentou que outras estatais não estejam nas mesmas condições. Ele lembrou da privatização da Vale (na gestão de Fernando Henrique Cardoso) e da Eletrobras (durante o governo Bolsonaro). Não privatizar a petrolífera, plano do antigo governo, foi uma das promessas de campanha do petista.

"Uma empresa boa e grande tem de ter alguém responsável por ela para que as coisas possam funcionar corretamente", disse Lula. Segundo ele, com uma companhia "fragmentada em mil ações", não há "com quem reclamar".

O presidente fez ainda uma referência específica à Vale. Ele lembrou do rompimento das barragens de Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais.

Quando eu digo que não tem um dono para conversar, é porque desde Mariana a Brumadinho, com o desastre das barragens até hoje, não foi paga a indenização daquele povo que está esperando uma casa e o ressarcimento do estrago.
Lula, na Petrobras

Apesar da reclamação de Lula, a Petrobras também é de capital aberto desde 1997, igualmente durante a gestão FHC. A diferença é que, até hoje, o governo brasileiro é o principal acionista, o que o torna controlador e, consequentemente, responsável pela indicação do presidente.

Até fevereiro, a Vale diz ter destinado R$ 36,51 bilhões às ações de reparação. O montando fica a cargo da Fundação Renova, entidade criada para gerenciar e implementar as medidas de reparação e compensação ambiental e socioeconômica. O UOL procurou a mineradora após a fala, mas ainda não teve retorno.

Cachorro de muito dono morre de fome (...) Uma empresa com muito dono, que ninguém manda, muitas vezes não cumpre aquele papel social, que é importante cumprir de atendimento às necessidades soberanas de um país.
Lula, na Petrobras

Ataques à Lava Jato

Lula também voltou a questionar a Operação Lava Jato. Desde que assumiu, o presidente tem procurado reabilitar as empresas que participaram do escândalo —a Petrobras foi a maior delas.

Sem fazer referência aos desvios comprovados, Lula disse que a operação "não queria combater a corrupção". "Queriam entregar esse extraordinário patrimônio nas mãos de petrolíferas estrangeiras. "Quando não conseguiram, passaram a vender fatias da Petrobras", disse.

Sem citar o senador Sérgio Moro (União), ex-juiz do caso, disse que os envolvidos "não têm grandeza". "Quem fez toda leviandade das denúncias contra a Petrobras, toda a leviandade contra muita gente nesse país, inclusive da Petrobras não tem agora a coragem de pedir desculpa pelo engano cometido", criticou.

Chambriard na Petrobras

Magda Chambriard tomou posse como conselheira e presidente da Petrobras. Ela passou a integrar o Conselho imediatamente, não sendo necessária a convocação de Assembleia de Acionistas para esse fim.

A indicada por Lula tem ampla experiência no setor. A indicação ocorreu após o desligamento de Jean Paul Prates, que permaneceu à frente da empresa desde janeiro de 2023. Ele atribui sua saída aos ministros Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia), que teriam ficado "regozijados" com sua demissão.

Magda será a segunda mulher a comandar a estatal. A executiva se juntará a Graça Foster (2012-2015) como as únicas mulheres a presidirem a Petrobras em 70 anos. Antes da indicação, ela foi diretora-geral da ANP (Agência Nacional do Petróleo) entre 2012 e 2016.