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Joias sauditas: veja a linha do tempo dos desvios apontados pela PF

Michelle Bolsonaro e o ex-presidente; ao lado, parte do conjunto de joias Imagem: Reprodução

Do UOL, em são Paulo

08/07/2024 20h18

Quase dois anos se passaram do recebimento das joias sauditas ao indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Confira a linha do tempo do caso das joias, que envolve a recepção de esculturas, relógios de luxo e itens.

O que aconteceu

Três pares de joias foram recebidos entre outubro de 2019 e novembro de 2021. No inquérito que permanecia em sigilo até esta segunda-feira (8) a PF (Polícia Federal) identificou que na condição de chefe de Estado, em viagens internacionais à Arábia Saudita, Bolsonaro recebeu pelo menos três conjuntos de joias. O total chega a US$ 4.550.015,06 (equivalente a R$ 25.298.083,73).

Esses conjuntos foram desviados com a ajuda do então ajudante de ordens do ex-presidente, Mauro Cid e seu filho, Mauro Barbosa Cid. A PF identificou que existia similaridade na forma como os objetos foram desviados.

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As joias, que pertenciam ao acervo público brasileiro, eram avaliadas por especialistas em leilões. Depois de leiloadas, Mauro Cid recebia o pagamento das joias. Por fim, segundo a PF, o dinheiro era encaminhado em espécie para Jair Bolsonaro - sem passar por mecanismos que pudessem ser rastreados por autoridades.

São três conjuntos de joias que foram vendidos no exterior:

  • O conjunto "ouro branco": um anel, abotoaduras, um rosário islâmico ("masbaha") e um relógio da marca Rolex, de ouro branco, entregue ao ex-presidente da República Jair Bolsonaro, quando de sua visita oficial à Arábia Saudita em outubro de 2019;
  • O conjunto "ouro rosê": conjunto de itens masculinos da marca Chopard contendo uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe ("masbaha") e um relógio recebido pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após viagem a Arábia Saudita, em outubro de 2021;
  • O conjunto de esculturas: uma escultura de um barco dourado e uma escultura de uma palmeira dourada, entregue ao ex-Presidente, na data de 16 de novembro de 2021, durante a sua participação no Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, ocorrido na cidade de Manama, no Bahrein.

Outubro 2021

O primeiro conjunto a ser identificado pela PF era formado por itens da marca Chopard. Ele continha um colar, um par de brincos, um anel e relógio de pulso. Além das joias, a PF encontrou uma miniatura de um cavalo em um pedestal, avaliado em aproximadamente US$ 5 mil (R$ 27,2 mil).

A escultura de cavalo estava entre os itens transportados pelo assessor Imagem: Reprodução/Inquérito/PF

Os ítens foram recebidos pelo então ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, após uma viagem à Arábia Saudita em outubro de 2021. Os objetos foram encontrados pela Receita Federal no dia 26 de outubro, na mochila do assessor do então ministro, o militar Marcos André dos Santos Soeiro. O inquérito mostra que as joias foram encontradas quando o assessor passou pela alfândega.

Essas joias ficaram retidas no aeroporto de Guarulhos e foram as responsáveis pelo início da investigação da Polícia Federal.

Contudo, um outro conjunto de joias, da mesma marca, escapou da fiscalização. Ele continha uma caneta, um anel, um par de abotoaduras, um rosário árabe ("masbaha"), e um relógio. Os itens também foram recebidos por Bento Albuquerque. O inquérito da PF aponta que o conjunto foi anunciado por uma casa de leilões sediada em Nova York por US$ 50 mil (aproximadamente R$ 245 mil), mas nunca chegou a ser arrematado.

Novembro de 2021

Mais ouro e joias foram recebidos pelo presidente em novembro de 2021. A quebra do sigilo das mensagens enviadas pelo ajudante de ordens do ex-presidente e seu filho revelaram que ele tentou negociar duas esculturas em ouro: uma árvore e um barco.

As esculturas foram recebidas por Bolsonaro no dia 16 de novembro de 2021 - quando o ex-presidente participou do Seminário Empresarial da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira na cidade de Manama, no Bahrein.

Junho de 2022

As joias começaram a ser vendidas quando Bolsonaro ainda era presidente. As primeiras negociações identificadas pela PF ocorreram em junho de 2022, nos Estados Unidos.

O primeiro kit de joias negociado foi o "ouro branco". Segundo a PF, o relógio de ouro branco foi separado dos demais itens do kit. O Rolex foi encaminhado para uma loja na cidade de Willow Grove, no estado da Pensilvânia, especializada em relógios de luxo, a "Precision Watches".

Todo o kit foi vendido. Os outros ítens do kit ouro branco foram para duas lojas em Miami, também especializadas em joias: a "Brilliance Jewels" e a "Goldie's".

Um relógio de luxo da marca Rolex faz parte do "kit ouro branco" Imagem: Reprodução/Inquérito/PF


Dezembro de 2022

Tentativa de resgate do kit em Guarulhos. Um dia antes de Bolsonaro deixar o país, o sargento da Marinha Jairo Moreira da Silva, foi enviado ao Aeroporto de Guarulhos, numa tentativa de pegar as joias retidas pela Receita.

Ouvido pela PF, Jairo contou que foi informado pelo auditor de plantão que não poderia retirar as joias, devido a ausência de documentos. Jairo ainda contou à PF que recebeu uma ligação de Mauro Cid e, em seguida, do secretário especial de Bolsonaro, Julio Cesar Vieira Gomes, que pediu para falar com o auditor, que se negou a liberar as joias.

Evasão de Bolsonaro para os EUA. No dia seguinte à tentativa de reaver as joias, Bolsonaro foi para os Estados Unidos. Segundo a PF, o ex-presidente e sua equipe "utilizaram o avião presidencial, no dia 30 de dezembro de 2022 para evadir do país os bens de alto valor desviados", diz o inquérito. "Em seguida, os referidos bens teriam sido encaminhados para lojas especializadas em venda e em leilão de objetos e joias de alto valor, situadas nas cidades de Miami, Nova Iorque e Willow Grove."

Fevereiro de 2023

O kit "ouro rosê" foi submetido a leilão, mas não foi arrematado. Após tentativas frustradas de vendas no dia 8 de fevereiro do mesmo ano e receosos de restrições legais, já que os bens fazem parte do acervo privado presidencial, Mauro Cid, Marcelo Câmara e Osmar Crivelatti tentaram resgatar os que já haviam sido vendidos.

Kit ouro rosê foi devolvido após decisão do TCU Imagem: Reprodução/Inquérito/PF

Março de 2023

Segundo a PF, após decisão do TCU os itens foram devolvidos em março de 2023. A PF ressalta no inquérito que os itens não estavam no Brasil, apesar de Bolsonaro ter dito que as joias estavam no Distrito Federal, numa localidade conhecida como "Fazenda Piquet", em Brasília.

Maio de 2023

Mensagens trocadas por Mauro Cid mostram negociações com casas especializadas em joias em Miami, em maio de 2023.

Essas joias foram vendidas por Mauro Cid e Mauro Barbosa Cid. O inquérito da PF aponta que pai e filho buscaram lojas especializadas no comércio de ouro, em Miami. Nas trocas de mensagens com vendedores e supostos compradores, Mauro Barbosa Cid envia fotos das duas esculturas e negocia valores.

Bolsonaro recebeu em espécie, em 2023. Segundo o inquérito, o pai, Mauro Cid, entregou US$ 25 mil a Bolsonaro, após essas vendas, que teriam sido negociadas pelo seu filho.

"Tem vinte e cinco mil dólares com meu pai. Eu estava vendo o que, que era melhor fazer com esse dinheiro levar em 'cash' aí. Meu pai estava querendo inclusive ir ai falar com o presidente (...) E aí ele poderia levar. Entregaria em mãos. Mas também pode depositar na conta (...). Eu acho que quanto menos movimentação em conta, melhor né? (...)".
Mauro Barbosa Cid, filho de Mauro Cid, em áudio encaminhado por WhatsApp para Marcelo Câmara, assessor de Jair Bolsonaro

Julho 2024

Quase dois anos se passaram desde o recebimento das joias sauditas, quando na última sexta-feira (5) a Polícia Federal protocolou no STF o indiciamento de Jair Bolsonaro e mais 11 envolvidos por associação criminosa. Nove desses envolvidos também foram indiciados por lavagem de dinheiro e sete por peculato.

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