Tales Faria: 'País sofreu ataque de arrogância e ganância do time de Moro'
Colaboração para o UOL, em São Paulo
29/10/2024 19h12
Após a anulação assinada pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal), de todas as condenações da Lava Jato contra o ex-ministro José Dirceu (PT), o senador e ex-juiz Sergio Moro (União) rebateu dizendo não haver base para a decisão e que "o combate à corrupção foi esvaziado sob a benção do governo Lula (PT)". As declarações foram classificadas como um ataque de arrogância e ganância para o colunista Tales Faria, no UOL News da tarde desta terça-feira (29).
Isso tudo era esperado. Infelizmente, o país sofreu um ataque de arrogância, incompetência e ganância dessa equipe liderada pelo Moro, que ficou evidente com a Lava Jato que eles tinham um projeto político.
E esse projeto político ferrou toda a apuração da Lava Jato, ferrou toda a revelação de que de fato havia roubos e crimes sendo cometidos em torno do dinheiro público, mas que eles destruíram isso tudo com a arrogância, com o projeto político que tinham, com a incompetência jurídica, inclusive, e aí o país acabou perdendo muito.
Eles fizeram um processo absolutamente, juridicamente errado, inconstitucional, em que o juiz tinha um lado, tinha interesses envolvidos, estava num projeto político, e quiçá o projeto financeiro dos procuradores que quiseram pegar um dinheiro dos Estados Unidos e fazer um fundo especial para ele gerir. Então, foi realmente uma tragédia para o país.
Tales Faria, colunista do UOL
Na decisão do ministro do STF, ele diz que "a extensão legitima-se não como uma medida geral, que aproveita a qualquer outro investigado na Lava Jato, mas devido a indicativos de que o juiz e procuradores ajustaram estratégias contra esses réus, tendo a condenação de um deles como alicerce da denúncia oferecida contra outro", indica o relatório.
Mendes mencionou os sete indícios que o Supremo levou em conta ao considerar que houve quebra de imparcialidade por Moro ao julgar Lula e citou o fato de Moro ter deixado a magistratura para assumir o Ministério da Justiça do governo Bolsonaro.
"Um conluio do qual não há registro ou prova, apenas uma fantasia!", rebateu Sergio Moro por suas redes sociais.
O colunista do UOL Ricardo Kotscho falou sobre os planos de José Dirceu, que agora retoma seus direitos políticos e deixa de ser considerado "ficha-suja".
Já era esperado essa decisão do Supremo. O Zé está mais calmo, mais tranquilo, conciliador, até de bom humor. E estava muito otimista de que iria realmente ficar livre da Lava Jato. O plano dele, isso em abril, eu acho que continua sendo o mesmo. Mas o plano dele é voltar para a Câmara. Ele quer voltar. Ser deputado federal, esse é o plano político dele, que ele acha que foi injustiçado e por uma questão de justiça, ele tem o direito, a opinião dele, o sentimento de que o lugar dele era o Congresso.
E é o que ele pretende fazer na próxima eleição, em 2026. É mais uma página virada e uma paz e calma a Lava Jato. Acho que esse aí foi o último suspiro da Lava Jato, né? Foi o Zé Dirceu o último, ainda que estava com processos pendentes na Lava Jato.
Ricardo Kotscho, colunista do UOL
"É revoltante, um absurdo", diz Maierovitch
Incluído no debate do UOL News, o colunista Wálter Maierovitch classificou como "revoltante" e "absurda" as respostas de Sergio Moro após a decisão do STF.
É até revoltante um ex-juiz, uma pessoa que, evidentemente, sabe o que diz o processo penal, a lei processual. Então, é um muro político, não é mais um muro técnico, porque isso é uma enormidade em termos de absurdo. Ninguém julgou o mérito. Se julgou o quê? A nulidade, a suspensão. Não se chegou o exame do mérito ainda. Por quê? Porque o processo é nulo. Simplesmente isso.
"Então não veio o Moro dizer que ninguém tem coragem de chegar a uma absolvição, etc. Não! A questão, até agora, é formal, é processual, uma nulidade. Ele não podia conduzir esse processo e nem sentenciar, porque ele tinha claro interesse. E tá aí. Se a prova é boa ou não, vamos ver agora numa próxima sentença condenatória se não ocorrer prescrição, porque isso volta ao primeiro grau, volta a 13ª vara criminal de Curitiba, que o Moro ajudou a emporcalhar."
"É uma desculpa esfarrapada do Moro, que é suspeito de parcialidade, a segunda turma sim, entendeu, e também, atenção, também o plenário. Agora tem uma coisa que a gente não pode deixar de colocar, e que é muito importante. O que aconteceu à nulidade é um vício formal, é um vício do processo.
Esse processo não terminou, não acabou, ele vai voltar, então reconhecida a nulidade, começa tudo de novo. Então ele vai voltar pra ser examinado o mérito. Enquanto isso, as decisões, as condenações, 23 anos e 11 anos, foram anuladas e como consequência, o Dirceu volta a ter os seus direitos políticos."
Wálter Maierovitch, colunista do UOL
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