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Quadrilha usava jatinho para transportar dinheiro de emendas parlamentares

Vereador Francisco Nascimento (União) arremessa sacola com dinheiro vivo pela janela Imagem: Divulgação/Tribunal Superior Eleitoral e Reprodução

Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)

15/12/2024 21h49

A quadrilha que tinha a participação de um vereador que foi flagrado jogando dinheiro pela janela durante operação da Polícia Federal em Campo Formoso (BA) estaria fraudado licitações há pelo menos dois anos, e movimentava dinheiro de propina em malas e jatinhos particulares. O esquema funcionava a partir de emendas parlamentares. O caso foi revelado na última terça-feira (10) pela PF, noticiado pelo UOL e detalhado pelo programa Fantástico, da TV Globo, neste domingo (15).

O que aconteceu

Durante a operação Overclean, na terça-feira (10), a Polícia Federal prendeu Alex Rezende Parente, sócio da Allpha Pavimentações e Serviços de Construção Ltda. Ele é apontado como chefe da quadrilha. A prisão aconteceu quando ele chegava em Brasília em um jatinho que pertencia a um outro empresário que participava do esquema.

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Em uma mochila, Parente carregava R$ 35 mil, que seriam usados para gastos pessoais, conforme disse aos policiais na hora da prisão. Na mala, mais R$ 1,5 milhão, que supostamente seriam usados para a compra de máquinas agrícolas. Porém, o empresário disse que não havia feito nenhum contato prévio com fornecedores, e que estava na capital federal para "pesquisar preços".

Também foi preso no mesmo dia Lucas Maciel Lobão Vieira, ex-coordenador do Departamento Nacional de Obras contra a Seca (DNOCS) na Bahia. Segundo a PF, ele facilitava a aprovação de contratos no esquema, e viajava com Alex para a capital federal.

Junto com outros 16 empresários e agentes públicos, o grupo fraudava licitações, eliminava concorrentes e pagava propina para liberação das obras. A investigação da Polícia Federal durou um ano. A quadrilha teria movimentado, conforme a investigação policial, adiantada pelo UOL, R$ 1,4 bilhão nos últimos dois anos. A ação da quadrilha não acontecia apenas na Bahia, mas em outros 13 Estados.

O esquema

O esquema funcionava a partir das emendas parlamentares, dadas por deputados federais e senadores, que decidem onde encaminhar verbas. A reportagem mostrou uma das obras feita pela empresa Allpha Pavimentações e Serviços de Construções Ltda., em Campo Formoso. A pavimentação de uma estrada que conecta três povoados às estradas estaduais e federais foi mal feita, com 'rebarbas' nos acostamentos e trechos em que o piche gruda em calçados de moradores. Cerca de R$ 45 milhões foram gastos no trabalho.

A prefeitura de Campo Formoso recebeu dinheiro encaminhado por emendas de Elmar Nascimento, e fez duas licitações que foram manipuladas, segundo a Polícia. Funcionários públicos receberam propina para repassar informações privilegiadas sobre concorrentes para a Allpha. Após vencer a licitação, o dinheiro público foi repassado para uma empresa do grupo, e depois para uma outra, fantasma, que fez os pagamentos para contas de pessoas indicadas pelos servidores.

Articulação em Brasília

Segundo a TV Globo, o empresário José Marcos de Moura atua em Brasília articulando liberação de dinheiro para liberação de obras faturadas, pagando milhões de reais em propina. Segundo a Polícia Federal, é dele um dos três aviões aprendidos durante a operação. Também foram recolhidos 23 carros de luxo, três iates, seis imóveis, joias e mais de R$ 3 milhões. Ítalo Moreira de Almeida, funcionário do governo de Tocantins, está foragido.

O vereador de Campo Formoso Francisco Nascimento (União Brasil-BA), conhecido como Francisquinho, é apontado pela Polícia Federal como um dos integrantes do esquema de corrupção. Ele foi preso em um apartamento em Salvador (BA). Desesperado, atirou uma bolsa pela janela, que foi recuperada pelos agentes e continha diversos maços com notas de R$ 100. Ao todo, foram apreendidos R$ 220 mil, a mesma quantidade que Francisquinho havia declarado Justiça Eleitoral nas eleições deste ano.

Francisco é primo do deputado federal Elmar Nascimento, líder do União Brasil na Câmara dos Deputados. Elmar não é investigado. Antes de ser vereador, foi secretário-executivo da prefeitura de Campo Formoso, na gestão do irmão de Elmar, o prefeito Elmo Nascimento (União Brasil), reeleito em 2024.

O que dizem os envolvidos

As defesas de Alex Rezende Parente e Lucas Maciel Lobão Vieira disseram ao Fantástico que não vão comentar a operação enquanto não tiverem acesso pleno ao relatório da investigação. Os advogados que representam Francisco Nascimento preferiram não emitir nenhum posicionamento até a análise completa da apuração.

Sobre Ítalo Moreira de Almeida, a defesa alega que o pedido de prisão foi contestado e que ele não tem qualquer relação com o esquema. A reportagem não localizou a defesa de José Marcos de Moura.

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