Sidônio tem aval para mudar estratégia de ministérios, mas verá resistência
A carta branca que o presidente Lula (PT) deu ao novo ministro da Secom (Secretaria de Comunicação Social), Sidônio Palmeira, interfere na comunicação de todo o governo, não só da pasta, e já gera resistência em núcleos e ministérios.
O que aconteceu
Sidônio foi anunciado na última terça (7), após uma longa negociação com o presidente. Marqueteiro responsável pela campanha vitoriosa de 2022, ele vinha participando do governo indiretamente, por meio de campanhas e consultorias pontuais, mas hesitava em assumir um cargo.
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Ter carta branca para mexer na Secom foi a principal condição para o ingresso. Segundo membros do governo, isso comporta, inclusive, supervisionar a comunicação de outras pastas, em busca de criar um alinhamento —algo pedido por Lula desde o primeiro ano do mandato.
Possíveis interferências geram desconfiança. Outras pastas dizem entender —e respeitar— a decisão, mas argumentam que cada grupo e assessoria conhecem as especificidades de seus ministérios.
Carta branca geral
O ex-ministro Paulo Pimenta chefiou a Secom por dois anos sem autonomia total. Parte dos secretários já havia sido indicada diretamente por Lula, como José Chrispiniano (Imprensa) e Ricardo Stuckert (Audiovisual), e até pela primeira-dama Janja da Silva, como Brunna Rosa (Estratégias e Redes).
Sidônio pediu a carta branca e recebeu. Na última quinta (9), ele anunciou a troca de Chrispiniano, assessor pessoal de Lula desde 2011, por Laércio Portela na Secretaria de Imprensa e deverá fazer mais mudanças, para além do seu entorno, que inclui, claro, a Secretaria-Executiva da pasta.
Ele foi chamado por Lula para tentar alinhar a estratégia do governo. Uma das reclamações mais recorrentes do presidente é que os feitos e as conquistas da gestão não chegam até a população, que tem avaliado o mandato de maneira cada vez pior.
Para isso, Sidônio indicou que quer participar da estratégia das outras pastas. Mesmo com reclamação pública de Lula, Pimenta não balizava a estratégia de comunicação das pastas —era raro, inclusive, que algum pedido que não tivesse a ver com Lula fosse encaminhado para a Secom.
Quando ele [Lula] fala assim que tem alguns problemas de comunicação, mas a comunicação não é somente aqui na Secom. Comunicação no governo, no governo como um todo, porque tem a política, tem a gestão e tem a comunicação. Esses três entes são interligados, são transversais.
Sidônio Palmeira, novo ministro da Secom
Resistências e dificuldades
Na Esplanada, o argumento é são 37 ministérios, cada um com seu grupo e realidade. O alto número tornaria muito difícil criar uma estratégia única, coordenada. Este ponto é reconhecido também pela Secom.
Sidônio quer ter certo controle. Como publicitário, seu papel deverá ser especialmente promover o governo. Embora não vá mandar no que as assessorias devem ou não fazer, ele quer participar dos debates e das campanhas das pastas para tentar dar um rosto ao governo —lembrando que o logo da gestão e o slogan "União e Reconstrução" foram criados por ele.
Ele deu exemplos sutis quando foi anunciado. "É importante, também, que a gestão não seja analógica, que ela se comunique com as pessoas que estão sendo atendidas [por exemplo] na área de saúde. [É importante] que as pessoas saibam onde é que vacina. Isso é uma forma de comunicação que muitas vezes não sai somente aqui da Secom", afirmou na terça.
Tanto na própria Secom quanto nos ministérios, interlocutores olham a estratégia com ressalvas. Dizem que não haverá objeção a um alinhamento de estratégias —afinal, é o que o presidente quer—, mas que também precisam "ter liberdade" para tocar seus projetos.