Sem provas, Eduardo sugere que Cid delatou Bolsonaro sob coação: 'É vítima'

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL) sugeriu, sem apresentar provas, que o tenente-coronel Mauro Cid delatou à Polícia Federal o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e autoridades do seu governo sob coação e ameaça.

O que aconteceu

Deputado disse que ex-assessor de Bolsonaro é "uma vítima disso tudo". "Nesse ambiente todo, o Cid, meu Deus do céu, é pobre coitado, ele deve estar sendo ameaçado de prender a mulher, o pai dele", afirmou Eduardo em entrevista à CNN nesta quinta-feira (30).

Na delação, o tenente-coronel cita Eduardo e a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como parte da ala mais radical no entorno do presidente. Cid diz que eles conversavam "constantemente com o ex-presidente, instigando-o para dar um golpe de Estado". A mulher e o filho de Bolsonaro são possíveis herdeiros do seu espólio político nas eleições de 2026, uma vez que o ex-presidente está inelegível.

A menção a Eduardo e Michelle se tornou pública na semana passada, com o vazamento de um dos depoimentos dados por Cid na delação, em agosto de 2023. Depois da publicação, pelo colunista da Folha de S.Paulo Elio Gaspari, o deputado já havia afirmado que o então ajudante de ordens do pai pode estar sofrendo ameaças contra si próprio e contra familiares, novamente sem apresentar provas.

Nesta quinta, Eduardo disse que entende "a situação sensível pela qual ele [Cid] está passando". "Não sei se ele está tomando algum tipo de remédio porque eu não tenho mais contato com ele", afirmou.

Ele também falou em "jogo de cartas marcadas" e disse que Cid já passou por situação semelhante anteriormente. "Vazou um áudio dele, e Alexandre de Moraes chamou ele no dia seguinte para um novo depoimento, para cobrar explicações, o que ele tinha falado num áudio, em que fala que estava sendo coagido, num jogo de cartas marcadas", afirmou.

A fala faz referência ao vazamento de áudios, em março de 2024, em que Cid afirmava que o inquérito da PF é uma "narrativa pronta". No material, o militar sugere ter sido coagido pelos investigadores e critica o ministro do STF Alexandre de Moraes, dizendo que Moraes "é a lei".

Depois, Cid recuou. Ele alegou que os áudios eram apenas um "desabafo" e que, em nenhum momento, "coloca em xeque a independência, funcionalidade e honestidade" da PF, da PGR (Procuradoria-Geral da República) ou do STF. Com o episódio, Moraes mandou Cid ser preso preventivamente por obstrução de justiça. Ele foi solto pouco mais de um mês depois, após confirmar as informações prestadas na sua delação.

Na entrevista à CNN, Eduardo nega que ele e apoiadores de Bolsonaro tenham planejado um golpe de Estado, como apontam as investigações da Polícia Federal. "Se tivesse ocorrido qualquer coisa nesse sentido, não estaríamos vivendo essa tranquilidade que estamos vivendo hoje", disse. "No final das contas, [Cid] acaba sendo uma vítima disso tudo. A troco de quê? A troco de um golpe sem polícia? É uma prova de fogo dificílima, a que o Cid está passando hoje."

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Delação de Cid

A delação de Cid foi homologada pelo STF em setembro de 2023. No depoimento, o militar citou nove das 40 pessoas que depois foram indiciadas pela Polícia Federal por suspeita de participação numa tentativa de golpe de Estado após a vitória do atual presidente Lula (PT) nas eleições de 2022.

Bolsonaro trabalhava com duas hipóteses para reverter resultado das eleições, segundo Cid. A primeira envolvia encontrar algum tipo de fraude nas urnas. Já a segunda dependia de convencer as Forças Armadas a aderir a um golpe de Estado.

O delator apontou 20 nomes envolvidos na trama. Alguns não foram indiciados pela PF, como o do ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello (hoje deputado federal pelo PL-RJ) e o blogueiro Oswaldo Eustáquio.

Nesta semana, a defesa de Cid pediu ao STF a abertura de investigação sobre o vazamento de parte da delação à imprensa. "Medidas devem ser tomadas para averiguar quem providenciou a quebra do sigilo", diz o documento. Os advogados pedem que seja descoberta a identidade de quem repassou o depoimento ao jornalista Elio Gaspari, para posterior punição.

"Não se pretende, de modo algum, penalizar a imprensa", afirmam advogados no documento. O texto lembra que "o direito à informação está protegido pelo artigo 5º, XIV da Constituição Federal", que permite "a ampla divulgação de informações de interesse público".

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