Nunes planeja teleférico de R$ 1 bi na Brasilândia após criticar Marçal


Do UOL, em São Paulo
27/03/2025 05h30Atualizada em 27/03/2025 22h04
Após classificar como "mirabolante" a ideia de Pablo Marçal para a instalação de teleféricos como alternativa de transporte em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) agora estuda um projeto-piloto para a região da Brasilândia, na zona norte da cidade.
O que aconteceu
A proposta em análise prevê um teleférico de 4,6 km de extensão, com cabines para dez pessoas e velocidade média de 18 km/h. A estimativa é de que o sistema de teleféricos possa atender até 3.210 passageiros por hora em cada um dos sentidos. O volume tem relação direta com a previsão de apenas 15 segundos de intervalo entre cada veículo, o que conferiria agilidade ao transporte.
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A estimativa é de que a obra custe cerca de R$ 1 bilhão. Técnicos da SP Urbanismo, responsável pelo estudo, avaliam a possibilidade de a linha contar com ao menos uma parada intermediária, próxima ao Terminal Vila Nova Cachoeirinha. Se sair do papel, a estação de embarque ficará na Avenida Cantídio Sampaio e a parada final será perto do CEU Paz, já na parte alta da Brasilândia.
A criação de teleféricos foi uma das principais propostas de Pablo Marçal (PRTB) nas eleições municipais de 2024. A ideia foi alvo de polêmica na campanha e chegou a ser tema dos debates entre os candidatos à Prefeitura de São Paulo.
Nunes confirmou o plano ao UOL e afirmou que se trata de um "projeto antigo" de sua gestão. Diferentemente da proposta de Marçal, o teleférico de Nunes não ligaria regiões diferentes e distantes da cidade, mas pontos baixos e altos do mesmo bairro, como ocorre no Rio, por exemplo. "Marçal falava em um cinturão, absolutamente impróprio para o relevo da cidade. O nosso é pontual para uma situação onde temos um ponto alto que precisa conectar com o ponto baixo", diz.
Prefeito criticou a ideia durante a campanha. "Aqui não é nem Disneylândia nem Playcenter para fazer teleférico", disse Nunes em um debate promovido pelo Estadão, portal Terra e Faap, em agosto de 2024. Ele também classificou a criação do teleférico como um "plano mirabolante".
Conseguimos deixar a casa em ordem, tudo para podermos ter os melhores próximos quatro anos da história de São Paulo, com ainda mais entregas, e não prometendo planos mirabolantes que, irresponsavelmente, alguns pré-candidatos a prefeito fazem por aí. Até teleférico estão anunciando. Prefeito Ricardo Nunes, durante encontro com candidatos a vereador na pré-campanha, em 12 de julho de 2024
Cerca de 243 mil pessoas moram na Brasilândia, o quarto distrito da cidade com maior população em vulnerabilidade alta. A região foi escolhida pela topografia, marcada por um relevo acidentado, repleto de ladeiras e sem muitas opções de transporte público. A Linha 6-Laranja do metrô, que atenderia a região, está 12 anos atrasada. Quando foi lançada, em 2006, a previsão de entrega era 2012. Agora, a estimativa é de abertura no ano que vem.
Nunes tratou do teleférico em reunião na terça-feira, na prefeitura. Ele publicou um vídeo nas redes prometendo "novidades" e mostrou o documento do projeto, mas sem dar detalhes.
Para que o projeto saia do papel, a Câmara Municipal precisa autorizar a criação de um novo modelo de transporte. Uma das entusiastas da ideia é a vereadora Sandra Santana (MDB), que protocolou um projeto de lei em janeiro para incluir o teleférico como modal de transporte público em São Paulo. Ela participou da reunião com Nunes na prefeitura e já havia apresentado uma proposta inicial à SP Urbanismo, que elabora o estudo para implementação do teleférico.
"Nossa proposta é chegar nas áreas de difícil acesso, nas franjas das periferias", diz Sandra Santana. Ela afirma que começou a conversar com o prefeito sobre a pauta em 2023, antes da campanha. "As mesmas críticas que o prefeito Ricardo Nunes fez em relação à proposta do Pablo Marçal durante a campanha, eu também fiz. Até porque a ideia dele era completamente diferente e inviável."
Após saber do projeto, Marçal disse que Nunes está "amadurecendo" como prefeito. "Espero que ele reconheça a sua afobação em criticar aquilo que não entendia. Agora, alguém mais entendido que ele deve estar mostrando a saída. Torço para que as obras aconteçam em tempo hábil e não às vésperas da próxima disputa eleitoral."
Nunes vê o projeto como um piloto, que poderá ser replicado em outros locais, caso dê certo. A reportagem apurou que o teleférico é visto por aliados do prefeito como uma forma de se projetar politicamente fora da capital. Como o UOL mostrou, ele ensaia uma candidatura ao governo do estado em 2026, o que irritou até mesmo sua base aliada. Nesta segunda, o prefeito disse que "as coisas acabam mudando" e admitiu publicamente que pode renunciar antes do fim do mandato.
De acordo com o diretor-presidente da SP Urbanismo, Pedro Fernandes, as vias da Brasilândia não apresentam condições adequadas para duplicações e as ladeiras impedem a mobilidade dos moradores. A intenção da prefeitura, segundo ele, é proporcionar uma conexão direta para a população com o transporte de massa, como o futuro metrô, além de mais mobilidade no próprio bairro.
Estudos devem levar mais dois meses. A intenção é viabilizar o projeto por investimento direto da prefeitura ou parceria com a iniciativa privada, especialmente na operação. Entre as referências que vêm sendo estudadas estão o teleférico de Guayaquil, no Equador, e o de Santo Domingo, na República Dominicana.
Morro do Alemão, no Rio de Janeiro, inaugurou o primeiro sistema de transporte público por teleférico do país em 2011. O modal foi abandonado, deixou de funcionar em 2016 e passa por obras de revitalização desde 2022. A reinauguração estava prevista para 2023, mas foi adiada para o fim deste ano.
Teleférico no Morro da Providência, no Rio, também ficou abandonado por sete anos. Foi reinaugurado em abril de 2024 e voltou a operar gradualmente, de forma gratuita. Segundo a prefeitura da cidade, o investimento do poder público na recuperação do modal foi de R$ 42 milhões e as viagens levam cerca de 3 minutos.
O novo modal de transporte deverá ser totalmente integrado ao sistema, ou seja, será acessado via Bilhete Único, com ingresso posterior aos demais modais. Exatamente como fizemos no caso do Aquático, o barco que opera na represa Billings, zona sul da cidade. Pedro Fernandes, diretor da SP Urbanismo