Carro-chefe do plano de governo de Marçal, teleférico é pouco viável em SP
Uma das principais propostas do candidato à Prefeitura de São Paulo Pablo Marçal (PRTB) é um cinturão de teleféricos de 80 km de extensão. Segundo especialistas, o projeto é pouco exequível, e não solucionaria os problemas de mobilidade da capital.
O que aconteceu
Marçal sugere rede de teleféricos conectando bairros periféricos como forma de "honrar o povo da comunidade". "Hoje, a gente tem 170 quilômetros de cinturão do Rodoanel. É um cinturão metade do tamanho", disse ele ao UOL. "A ideia é criar esse cinturão de teleférico, que não é a solução para o trânsito na cidade, mas para honrar o povo da comunidade."
O candidato também disse que "não é uma proposta para a cidade inteira". Entretanto, o trajeto sugerido por ele ligaria a Brasilândia, na zona noroeste, Vila União, zona leste, e o Capão Redondo, na zona sul. Para fazer o trajeto mais curto entre esses bairros, o bondinho atravessaria a região central, em pontos como o Brás, a Bela Vista e o Itaim Bibi.
Com 93 km de extensão, o teleférico seria quase tão grande quanto o Metrô de São Paulo, que tem 104,4 km de trilhos e começou a operar na cidade há 49 anos, em 1974.
Marçal se inspirou nos bondes aéreos de La Paz, na Bolívia, e Medellín, na Colômbia, segundo o plano de governo dele. As duas cidades ficam a mais de mil metros do nível do mar e têm terreno acidentado, com morros que não poderiam ser alcançados pelo metrô subterrâneo.
O Rio de Janeiro têm dois teleféricos, um no Complexo do Alemão e outro no Morro da Providência. Ambos pararam de funcionar em 2016, com o fim do contrato com a operadora e problemas de manutenção. O do Alemão está parado desde então, e o da Providência foi reinaugurado em abril deste ano.
O terreno e a ocupação do solo no Rio são muito diferentes dos de São Paulo, explicou o professor aposentado da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP Lúcio Gomes. "Assim como em Bogotá, o Rio tem favelas na encosta e áreas ricas em lugares mais baixos. Construir teleféricos em São Paulo não tem razão nenhuma, porque não temos essa configuração", disse.
Para ele, o transporte poderia ser construído em alguns pontos, mas não faria sentido como transporte público em massa. "Uma obra desse tamanho seria para um metrô, não para teleférico. Ele não seria capaz de atender a demanda, os bondinhos são pequenos, há um intervalo grande entre um bondinho e outro. É uma proposta completamente furada", classificou.
A construção seria até pouco democrática, pontuou o professor do Instituto de Arquitetura e Urbanismo da USP Jeferson Tavares. "Investimentos de infraestrutura descolados do Plano Diretor, que foi feito com consultas populares, não parecem privilegiar o aspecto democrático da transformação da cidade", disse.
A implantação de um novo modal de transporte teria de passar por uma série de estudos. "Qualquer infraestrutura de grande porte altera a lógica do local. Um bom projeto prevê não só construir uma estação, mas um planejamento de curto, médio e longo prazo dos arredores", falou Tavares. "Se você não tem o cuidado de entender o impacto que aquilo vai gerar na vizinhança e no meio natural, acho que seria uma grande armadilha".
O professor citou o Minhocão como exemplo de infraestrutura que não considerou outros aspectos da região, apenas o de transporte. "Ele até resolveu do ponto de vista de trânsito, mas criou um passivo urbanístico gigantesco que até hoje convivemos com ele", falou. Erguido nos anos 1970, durante a gestão de Paulo Maluf, o elevado desvalorizou as construções no entorno e contribuiu para a degradação da região central da cidade. O plano diretor de 2014 já previa a desativação do elevado, mas a discussão foi parar na Justiça e anda a passos lentos.
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