Nas últimas noites, muitos paulistanos voltaram a ver estrelas. De dia, está mais fácil ver o sol.
"A cor azul do céu é a reação natural entre a atmosfera limpa e a luz solar", informa Maria de Fátima Andrade, professora do Instituto de Astronomia e Geofísica (IAG) da Universidade de São Paulo.
Fora da quarentena, o céu paulistano não é azul. O dióxido de nitrogênio embaça as manhãs e tardes com tons de laranja, enquanto a fuligem deita uma manta cinza e marrom quase permanente sobre a cidade. Ambos são resultado, em grande parte, da queima da gasolina.
Nos últimos dias, porém, pairando sobre uma metrópole que se viu obrigada a desacelerar na tentativa de barrar o avanço do coronavírus, que já matou 77 no país, o céu de São Paulo está mais limpo.
Às 9h da última sexta (27), horário de pico, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) reportava zero quilômetro de trânsito na cidade — uma raridade. O pesquisador Edmilson Dias de Freitas, colega de Maria de Fátima no mesmo IAG, relata queda expressiva de todos os poluentes.
A concentração de tolueno, composto tóxico presente na combustão da gasolina e nas antigas colas de sapateiro, caiu mais de 50 vezes, segundo Edmilson. O monóxido de carbono, responsável por doenças respiratórias, está abaixo do que o instrumento consegue captar.
Na São Paulo de quarentena, os dias voltaram ao azul celeste natural de seu outono seco.
E as noites podem se dar um luxo: haverá estrelas.