Na praça de Coari (AM), às margens do rio Solimões, uma pequena estrutura de ferro fundido, com suas engrenagens e a sonda pintadas de vermelho, enfeita o centro da cidade. O equipamento usado nos poços de petróleo, um ícone do progresso coariense, está chumbado próximo às costas de um Cristo de cimento.
A estátua, cercada por lixo e cheiro de urina, tem os braços abertos para os barracos de pau, um amontoado de casas que se equilibram como podem sobre a lama e a sujeira que se reviram nas margens do rio. Um bando de urubus sobrevoa a área, avaliando os restos que amolecem sob o sol incandescente. O zunido das motos anuncia mais um dia na maior província do petróleo e do gás terrestres do Brasil.
A expectativa do surgimento de uma "Dubai amazônica" impulsionada pelo dinheiro do petróleo nunca se concretizou. A ambição financeira e as promessas de riqueza que hoje são usadas como principal argumento para extrair petróleo na foz do rio Amazonas já fazem parte do cotidiano de Coari há quase quatro décadas. Já se retira muito petróleo da Amazônia, e não é de hoje. Poços de óleo e gás são explorados na região desde a década de 1980.
Debaixo de Coari, município encravado no coração do Amazonas, encontra-se uma das maiores jazidas terrestres de petróleo do país, onde só se chega de avião ou barco, navegando pelas águas turvas do Solimões. São cerca de 450 km até chegar a Manaus.
Já se passaram 37 anos desde que o primeiro poço de petróleo "economicamente viável" jorrou sobre o solo coariense, em 12 de outubro de 1986, confirmando as pesquisas da Petrobras que indicavam haver, debaixo da maior floresta tropical do planeta, uma reserva de óleo com qualidade superior àquela encontrada em boa parte dos países árabes.